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CAPITÃES DA INDÚSTRIA
Presidente da empresa, Walter Wieland, inaugura série de entrevistas e diz que a marca "exagerou" nos lançamentos de 2002
Para a GM, primeiro lugar não é prioridade
Fernando Moraes/Folha Imagem
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LIGADO O presidente da General Motors do Brasil, Walter
Wieland, que diz querer continuar no Brasil depois de aposentado;
no destaque, tela de seu computador com o slogan da empresa |
LUÍS PEREZ
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A General Motors do Brasil quer
crescer, mas não tem como prioridade ser a número um. Não pode parar de evoluir, mas "exagerou" ao lançar cinco produtos em
sete meses e meio no ano passado
e deve ser mais prudente.
A avaliação é do presidente da
empresa, Walter Wieland, 60, o
primeiro a participar da série de
entrevistas semanais que Veículos começa a publicar hoje com os
dirigentes das cinco principais fábricas de automóveis instaladas
no país -GM, Ford, Volkswagen,
Fiat e Renault. Leia, a seguir, trechos da entrevista.
Folha - Por que o Brasil é tão importante para a indústria automobilística mundial?
Walter Wieland - Pelo mercado.
As possibilidades de expansão do
mercado são muito grandes.
Além disso, a indústria automobilística do Brasil virou uma base
não só para o mercado interno
mas também para a exportação.
Folha - Mas o Brasil precisa fazer
a economia crescer...
Wieland - Exatamente. Mas, para isso, é preciso ter estabilidade,
inflação e contas fiscais controladas. Em dois anos, tivemos desvalorização de 50%, 60% ou 70%. Isso provoca uma distorção, uma
situação muito difícil para as empresas. Uma empresa automobilística não é uma pizzaria.
Amanhã, se não tem consumidor, você pára de fazer pizza. Depois de amanhã, começa novamente. Aqui você tem de planejar
muito tempo antes. O que está fazendo hoje planejou um ano e
meio atrás. Só que um ano e meio
atrás tudo parecia diferente.
Folha - A gente vê Fiat e Volkswagen disputando a liderança de vendas no Brasil. E há uma velha questão, que sempre ouvi falar sobre a
GM, de que lucro é mais importante
do que liderança em número de
unidades vendidas. Queria saber se
a GM se preocupa com a liderança
em vendas e se tem plano de ameaçar a montadora líder.
Wieland - Aquele que não tem o
objetivo de crescer de forma permanente não tem um plano de
trabalho ou de operação razoável.
Não existe empresa que possa
pensar em existir no mercado daqui a dez ou 15 anos se não tem
claro um programa de crescimento contínuo. Empresa que deixa
de crescer deixa de participar do
mercado. A concorrência é realmente dura, muito difícil.
Nossa estratégia sempre foi a de
que precisamos crescer no mercado. Em 98 e 99, estávamos com
uma participação de 21%. No ano
passado, chegamos a 23%, ficamos alguns meses liderando e começou uma coisa muito normal.
Veio a reação. Mas deixe que
reajam. O importante é que se vá
crescendo. É importante ser o número um do mercado? É.
Deixar de crescer é parar o relógio da empresa. A prioridade para
a General Motors não é ser a número um. Espero que nossa imagem seja muito boa. É um conjunto de coisas: produto, tecnologia,
qualidade, atendimento, atendimento, atendimento.
Folha - Qual o destino do Vectra
no Brasil? Aqui há o Omega e o Astra Sedan. Que carro será colocado
entre os dois?
Wieland - Não posso anunciar
isso hoje. O Vectra tem vida, ainda tem bastante vida. Quanto
tempo não posso falar. O Vectra
não vai morrer neste ano nem no
ano que vem.
Há um plano, um programa
muito bem estruturado, muito
bem definido, para que o consumidor do Vectra, do Astra e do
Omega tenha produtos.
Folha - Infelizmente não podemos ter o Vectra novo [europeu]...
Wieland - Não se pode fazer tudo
ao mesmo tempo porque, fisicamente, não é possível. No ano
passado já foi um exagero lançar
cinco produtos em sete meses e
meio. Corre-se o risco de ter problemas.
Folha - E sobre o novo carro de
Gravataí?
Wieland - Estamos conversando
com as autoridades em Porto Alegre sobre a ampliação da fábrica e
a possibilidade de produção de
um modelo adicional. Seria para o
mercado interno e para exportação. Esse novo modelo, que vai
ser um complemento da linha
Celta, porque tem partes comuns
com o Celta, é um veículo que
achamos muito interessante.
Folha - Então, já se pode dizer
que será um carro pequeno...
Wieland - Não, não, não. Não
posso dar essa informação. Há os
concorrentes. Impossível.
Folha - Já se pode dizer para
quando é esse carro?
Wieland - Posso dizer que é para
os próximos 24 meses.
Folha - Vamos falar de um assunto espinhoso: a GM foi protagonista do maior recall de que se ouviu
falar no Brasil. Até que ponto a sociedade já amadureceu para encarar o recall com naturalidade?
Wieland - No começo, um recall
rendia páginas inteiras dos jornais. Hoje há muitos recalls. De
todas as marcas. Felizmente, todo
mundo faz. O recall é muitas vezes
uma prevenção, nem sempre um
defeito. Você pára e, em benefício
do consumidor, faz.
Acho que, nos mercados americano, europeu e japonês, nenhuma marca pode falar que nunca
fez recall. Fica mais visível no caso
dos carros do que no de outros
produtos. Eu comprei produtos
nos EUA, um televisor, foram à
minha casa e trocaram o equipamento. Quem é absolutamente
honesto com o consumidor faz o
recall. Nós não corremos riscos.
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