São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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SEGURANÇA

Medo de parar no porta-malas é uma das razões que levaram a uma queda de 30% na saída desses veículos

Sequestros abatem vendas de carro de luxo

Fernando Moraes/Folha Imagem
Depois do sequestro, o estudante M.I. trocou um Mitsubishi Pajero por um Chevrolet Vectra usado


ALADIM LOPES GONÇALVES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"O maior porta-malas da categoria." Usado como argumento de vendas, o slogan pode até afugentar compradores. Os números mostram que o consumidor de alto poder aquisitivo está trocando importados por carros despojados e -sobretudo para não ficar preso em caso de sequestro- sem porta-malas saliente.
Dados das montadoras indicam uma queda nas vendas em torno de 30% para os sedãs de luxo. Jaroslav Sussland, 56, diretor de vendas da Audi Senna, aponta três responsáveis pelo mau desempenho do setor. "A falta de segurança pública, a cotação do dólar e a crise econômica do país."
No primeiro semestre deste ano, a marca vendeu apenas 91 unidades do modelo de luxo A6 -no mesmo período do ano passado, as vendas chegaram a 140.
Entre janeiro e junho deste ano, foram vendidas 210 unidades do Chevrolet Omega, enquanto que, nos primeiros seis meses do ano passado, foram 472.
O mesmo dilema acomete a Ford. De janeiro a junho de 2002, a comercialização do sedã Mondeo atingiu 229 unidades, contra 367, no mesmo período de 2001.

Mudança previsível
O sociólogo Luís Antônio de Souza, 39, do Núcleo de Estudos da Violência da USP (Universidade de São Paulo), afirma que era previsível a classe média deixar os carros de luxo. "Nos anos 80, as famílias foram para os condomínios fechados. O que ocorre agora é a continuação desse processo."
Mais pragmático, o delegado Manoel Camassa, 59, da delegacia de estelionato, avisa que sedãs facilitam as tarefas de deixar a vítima isolada e dificultar o pedido de socorro. "Além disso, o motorista não deve colocar adesivos de clubes, condomínios e escolas, coisas que identifiquem suas posses."
"As pessoas estão mais informadas e atentas no trânsito. Usar um carro menos chamativo não deixa de ser uma arma do motorista", diz o diretor do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), Godofredo Bittencourt Filho, 57.



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