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CAPITÃES DA INDÚSTRIA
Antonio Maciel Neto, presidente da montadora, afirma que ociosidade do setor impede "grandes investimentos" em novos produtos
Ford só vai lançar bicombustível em 2004
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A Ford apresentou o primeiro
protótipo de carro bicombustível
-que funciona com gasolina, álcool ou qualquer mistura dos
dois-, mas perdeu a corrida dos
lançamentos no mercado para
General Motors e Volkswagen.
O presidente da montadora, o
paranaense Antonio Maciel Neto,
45, alega que a empresa quer reduzir o consumo e prolongar a
durabilidade e só vai ter seu bicombustível no ano que vem.
"Vai ser o melhor do mercado."
Maciel Neto é o segundo entrevistado da série que Veículos está
publicando com os dirigentes das
cinco principais fábricas de automóveis no país.
(JOSÉ AUGUSTO AMORIM)
Folha - Por que o Brasil é tão importante para a indústria automobilística?
Antonio Maciel Neto - O tamanho do mercado é, se você considerar por país, um dos dez maiores do mundo. A segunda coisa é
o potencial de exportação.
Folha - A Ford anunciou que vai
lançar 65 novos produtos nos próximos cinco anos. O Brasil entra
nesse pacote?
Maciel Neto - Esse pacote é fundamentalmente para EUA e Europa. São mercados com um nível
dez vezes maior que o do Brasil e
exigem esses lançamentos.
Nós vamos continuar lançando
os produtos que já estavam mais
ou menos encaminhados. Agora,
com esse nível de ociosidade e
com esse tamanho de indústria,
todos os novos grandes investimentos estão parados.
Folha - A Ford tem intenção de ser
líder de mercado ou o quarto lugar
nas vendas está bom?
Maciel Neto - A Ford vem crescendo bastante. Nossa pior participação foi em agosto de 2001,
quando tivemos 6,6% do mercado. Em junho [deste ano], tivemos 12,2%, quase 100% de aumento. Temos produtos muito
quentes, como o EcoSport, o novo
Fiesta, o Ka e o Focus.
Nosso crescimento é gradual.
Não vemos a Ford, com a linha de
produtos atual, disputando a liderança pelo menos nos próximos
três, quatro anos.
Folha - Por que a Ford decidiu
lançar um utilitário [EcoSport] e
não o Fusion?
Maciel Neto - Nós pesquisamos
muito o mercado, e o brasileiro
queria alguma coisa um pouco
mais espaçosa que um "popular",
que desse para sair no fim de semana com o mesmo carro que vai
trabalhar, que fosse acessível.
Chegamos à conclusão de que o
que o brasileiro estava querendo
não era uma minivan, era um
SUV [utilitário esportivo].
Folha - Os carros 1.0 vão continuar sendo o principais responsáveis pelas vendas das montadoras
por muito tempo?
Maciel Neto - Eu acho que sim. O
Brasil precisa de carros para fazer
volume, de carros acessíveis, e os
mais acessíveis são 1.0. A tendência é estabilizar em 50%, 55% [do
mercado].
Folha - E os automóveis bicombustíveis?
Maciel Neto -São importantíssimos. Nós fomos os primeiros a fazer o protótipo, estamos testando
vários modelos. Todo mundo me
pergunta por que lançamos primeiro e depois ficamos para trás.
Nós vamos lançar o melhor do
flex fuel. Vai ser no ano que vem e
vai ser o melhor do mercado sob
pelo menos dois aspectos: consumo e durabilidade.
Motor aqui na Ford é um assunto muito importante. Nós não vamos pegar um propulsor a álcool
e botar um sensor e lançar porque
não funciona assim. Aqui no Brasil, a gasolina já é um "gasool",
com álcool anidro. Então, você
tem gasolina, álcool anidro e álcool hidratado.
Vamos considerar muito o consumo de combustível e também
garantir a durabilidade.
Folha - Ter o produto e demorar
tanto para lançar não acaba arranhando a imagem da Ford?
Maciel Neto - Acho que não. A
imagem da Ford está sendo construída. Nessas pesquisas, pela primeira vez a empresa aparece em
primeiro lugar no que se refere à
próxima compra. Aparecemos
em primeiro lugar em design, em
acabamento e em propaganda.
Folha - Anunciar um recall hoje
em dia é bom, traz transparência?
Maciel Neto - Às vezes, as pessoas falam: "Agora tem tanto recall. A qualidade do veículo piorou?". A qualidade melhorou 50
vezes. É falsa essa percepção de
que a qualidade piorou. Vários
motivos têm levado a uma frequência maior de recalls.
O primeiro deles é a velocidade
de lançamento de produtos. Antes, era lançado um produto, e ele
ficava dez anos no mercado, não
havia mais recall.
Agora os produtos são lançados
a todo momento, com uma frequência violenta. A vida do produto é muito curta, e a variedade,
tremenda.
A segunda coisa são as inovações tecnológicas. Por mais que se
teste por 500 mil, 600 mil quilômetros, a velocidade da inclusão
de novos materiais tem dado alguns pequenos problemas. E o
terceiro ponto é a evolução do Código de Defesa do Consumidor.
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