|
Próximo Texto | Índice
Viva a diferença
O mercado quer enfi ar todos no padrão que vai do 36
ao 44, e deixa meio mundo a descoberto. Veja o guia
de lojas que praticam outros pesos e medidas
Eduardo Knapp/Folha Imagem
|
|
DANAE STEPHAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Se o público-alvo das principais grifes do mercado fosse
uma representação fiel da população brasileira, todos seriam magros e altos, com pés,
pescoço, peito, pernas e braços
dos mesmos tamanhos. Também não existiriam canhotos.
Infelizmente, para o mercado, as pessoas ainda têm tamanhos diversos e características
próprias que impedem tal uniformização. Isso acaba criando
nichos nos quais poucas empresas investem no Brasil.
Encontrar uma tesoura para
canhotos nas lojas de São Paulo
é tarefa inglória, embora eles
representem cerca de 10% da
população. Quem tem pés
grandes fica restrito a duas ou
três lojas, enquanto quem tem
pés muito pequenos precisa se
contentar com linhas adolescentes. Lojas de roupa de tamanhos grandes existem aos montes, mas poucas fogem do estilo
senhorinha. E os sapatos que
têm numeração intermediária,
comuns nos Estados Unidos,
por aqui ainda são novidade.
"A gente vive em uma sociedade que padroniza tudo e não
respeita as diferenças", afirma
o psicólogo Marco Antonio de
Tommaso, ligado à Associação
Brasileira para Estudo da Obesidade. "Na Argentina, foi aprovada uma lei que obriga todas
as lojas a trabalharem com o tamanho até o 46. Nos Estados
Unidos, as lojas montam a roupa de acordo com a anatomia
do cliente. Aqui, quem manda
ainda são os estilistas. Quem
foge à regra cai no serviço sob
medida, muito mais caro", diz.
Mesmo os considerados
"normais" no Brasil sofrem
com a padronização, ou melhor, com a falta dela. "Existe
uma norma para orientar as
empresas com relação à numeração, mas ela não é obrigatória", afirma Silvio Napoli, engenheiro têxtil e gerente de tecnologia da Abit (Associação
Brasileira da Indústria Têxtil e
de Confecção). "Cada empresa
tem sua própria estrutura de
medidas, por isso se usa 38 em
uma loja e 40 em outra".
Nesse sentido, dá para prever
algum avanço. Em setembro, o
INT (Instituto Nacional de
Tecnologia) iniciará uma pesquisa que pretende fazer uma
medição do corpo do brasileiro
para redefinir os padrões da indústria. O instituto vai receber
scanners especiais que fazem
um mapeamento 3D de todo o
corpo em 20 segundos. "Poderemos estabelecer padrões de
roupa que atendam a todas as
pessoas, ou a pelo menos 90%
da população", diz Maria Cristina Zamberlan, chefe do Laboratório de Ergonomia do INT.
Se é para seguir um padrão,
que ele seja, pelo menos, mais
democrático.
Próximo Texto: Fora do padrão Índice
|