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IDÉIAS RECICLADAS [consumo comprometido com o futuro]
OS NEOECOCHIQUES
'Scuppie' é o novo nome do grupo meio hippie, meio yuppie
JENNIFER PERLMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O luxo como sinônimo de
ostentação irresponsável começa a sair de moda, ao mesmo tempo em que as preocupações sócio-ambientais ganham mais adeptos na hora
das compras. É o fim do luxo?
Não para o norte-americano
Charles Failla, 39, presidente
de uma companhia financeira
de Nova York, que defende ser
possível conciliar luxo e consumo consciente. Para definir
os praticantes dessa união
quase paradoxal, Failla inventou um termo: "scuppies" (Socially Conscious Upwardly-Mobile Person), algo como
pessoa emergente com consciência social.
O novo grupo de consumidores se considera uma mistura de hippies e yuppies: são
pessoas que abraçam a natureza e ao mesmo tempo valorizam bens materiais e tendências da moda. Segundo Failla,
esses novos compradores já
estão exigindo alternativas
"verdes" e serviços sustentáveis de empresas de luxo dos
ramos de automobilismo, vestuário, alimentação, construção e móveis. "Nós queremos
salvar o mundo, sim. Mas, enquanto isso, queremos aproveitar nossas vidas. Não acreditamos em compromisso. Ser
"eco-friendly" não implica em
abrir mão do prazer", escreve o
empresário em seu site
(www.scuppie.com).
Failla escreveu o manual do
novo estilo de vida, "The Scuppie Manifesto", que será lançado em abril de 2009. "Devo
admitir que gosto de coisas
boas, como um uísque puro
malte, e de sair para jantar em
restaurantes. Mas sendo consciente nas escolhas, posso
pensar em outras opções.
Quero comprar roupas e outros itens de luxo que sejam
"eco-friendly" e "eco-fabulous'", diz.
"Scuppie" é o nome chique
para um perfil de consumidor
identificado com o "novo luxo", descrito em um estudo do
birô inglês de tendências Future Laboratory. Esse consumidor está no quarto e penúltimo estágio na escala de comportamento no consumo de
luxo. É o consumidor dos carros híbridos esportivos, como
o Lightning GT, que deve ser
lançado em 2010, custando
cerca de R$ 470 mil.
No Brasil, a tendência do
consumo consciente já desperta a atenção de algumas
empresas que começam a repensar seus produtos e iniciam programas de responsabilidade sócio-ambiental para
atrair clientes. A Durafloor,
por exemplo, usa madeira certificada ou de reflorestamento
em todas as linhas de pisos laminados. A Eden, nova loja de
São Paulo com roupas feita de
algodão 100% orgânico e com
tingimentos vegetais e minerais, tem camisetas e calças
certificadas pelo IBD (Instituto Biodinâmico).
Os alimentos orgânicos, em
média 30% mais caros que os
convencionais, movimentaram, em 2007, cerca de
US$ 250 milhões, e devem
crescer mais de 20% este ano,
de acordo com informações do
portal Planeta Orgânico.
E isso parece que é só o começo de uma grande onda
"verde" de consumo. Uma
pesquisa realizada pelo instituto Latin Panel aponta que
93% dos domicílios brasileiros
dizem valorizar as empresas
que adotam programas de responsabilidade social e ambiental, e 46% deles optam por
marcas que praticam essas
ações na hora de comprar,
mesmo que o preço seja superior. "Isso mostra que há potencial entre os brasileiros para adotar atitudes conscientes
de consumo", diz Andréa
Wolffenbüttel, gerente do Instituto Akatu.
Scuppie à brasileira
O ator e empresário Marcos
Palmeira leva essa bandeira e
veste a camisa ecológica há 20
anos. A idéia o seduziu tanto
que, desde 1997, quando comprou uma pequena fazenda em
Teresópolis, no Rio, resolveu
criar seus próprios alimentos
sem utilizar agrotóxicos.
O que era só para consumo
próprio cresceu e hoje seus
produtos orgânicos ganham as
gôndolas de supermercados e
armazéns. "Comprar alimentos orgânicos não é abrir mão
da qualidade e muito menos sinônimo de produto light", ressalva. "É uma forma de pensamento, um modo de produção
que respeita a natureza, o solo,
o homem do campo e quem
consome", diz.
O ator, que faz tudo de bicicleta quando está na zona sul
do Rio, diz que dá preferência a
marcas de roupas ecológicas
como a Osklen e a alimentos
orgânicos, embora concorde
que esses itens "verdes" pesam
mais no bolso do consumidor
do que os convencionais.
O polêmico uso das sacolas
plásticas de supermercado já é
assunto encerrado para Palmeira. Ele já trocou as suas pelas ecológicas e diz que, ainda
este ano, vai lançar uma linha
de "eco-bags" com seu nome.
"Não quero que me chamem
para limpar a praia. Quero que
parem de sujar. Da mesma forma, o plástico. Tem que parar
de produzir", diz.
Failla afirma que um "scuppie" dificilmente será visto em
uma manifestação contra empresas petrolíferas. "Você vai
encontrá-lo nas aulas de ioga e
nas cafeterias que tenham o
selo Fairtrade, de comércio
justo e sustentável", diz
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