São Paulo, domingo, 05 de janeiro de 2003

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Marta Suplicy impõe nome contra o indicado por Gushiken e Berzoini

Petistas travam disputa pelas presidências do BB e da Caixa

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve mais facilidade para fechar a maior parte dos ministérios do que para preencher as presidências do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Motivo: a disputa ferrenha dos próprios petistas por esses dois orçamentos, maiores do que os de muitos ministérios.
A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, foi peça-chave no imbróglio, que fez Lula tomar posse sem conseguir anunciar os presidentes tanto do BB quanto da CEF. Ela não abre mão de emplacar seu secretário de Relações Internacionais, Jorge Mattoso, na CEF.
A pressão desbancou o preferido para o cargo, João Vaccari, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo. Ele próprio se assustou com o recuo. Afinal, seus padrinhos eram poderosos: o secretário de Comunicação, Luiz Gushiken, e o ministro da Previdência, Ricardo Berzoini.
Marta não indicou nenhum ministro e perdeu a indicação do marido, Luiz Favre, para um cargo federal. Agora, pode se transformar num problema de bom tamanho para Lula, caso ele não atenda seu pedido.
O interesse de Marta pela CEF é medido em cifrões: são os R$ 8,4 bilhões do Orçamento da União e do FGTS que o órgão tem para emprestar em 2003 para habitação popular e saneamento básico, duas áreas fundamentais para qualquer prefeitura, especialmente a de São Paulo, com todos os seus problemas urbanos.
Essa bolada é dividida em R$ 6,4 bilhões para habitação e R$ 2 bilhões para saneamento, o que é maior do que, por exemplo, o Orçamento para 2003 dos ministérios da Integração Nacional, Justiça e Agricultura.

Idas e vindas
Foi o próprio Lula quem conversou com o funcionário de carreira do BB e deputado eleito Paulo Bernardo (PT-PR) sobre a presidência da instituição, um gigante com investimentos de R$ 75 bilhões em empréstimos e aplicações, de acordo com o último balanço semestral.
Tanto Lula quanto os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e José Dirceu (Casa Civil) sabiam que ele não tinha diploma universitário, uma exigência do estatuto do BB. Sabiam também, entretanto, que uma resolução do Banco Central poderia contornar o obstáculo. A falta de diploma, porém, foi o pretexto usado pela cúpula do governo para tirar Bernardo do páreo, quando as pressões começaram a vir de todos os lados.
Chateado, ele argumentou que jamais reivindicou o cargo e que teria dificuldade para renunciar ao mandato de deputado e ficou com a imagem de quem estava atrás de "uma boquinha".
O preferido para o cargo passou a ser um homem da confiança direta de Palocci, Nélson Rocha Augusto, ex-secretário de Planejamento da Prefeitura de Ribeirão Preto (SP) na gestão de Palocci e atual diretor do Banco de Ribeirão Preto. Augusto foi um dos criadores do Banco Votorantin e importante elo entre o atual ministro e banqueiros.
Também são lembrados dois nomes oriundos da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do BB: Sérgio Rosa e Henrique Pizzolato. Até sexta-feira, dois dias depois de empossado o novo governo, havia um impasse. José Dirceu entrou de cabeça nas negociações.
O terceiro "banco social", o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), foi preenchido com mais facilidade por um motivo simples: Lula escolheu, convidou e nomeou o titular, o economista Carlos Lessa.
O presidente queria o peemedebista Lessa no Ministério do Planejamento e chegou a sondar o PMDB, que não se sentiu representado pelo economista, recusou o "prato feito" e ficou fora do ministério. Lessa acabou no BNDES.
Amanhã, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, irá ao Rio para se reunir com Lessa e já bater o martelo quanto às linhas de atuação do banco.
A intenção é que os três bancos -BB, CEF e BNDES- se tornem fundamentais para os dois objetivos alardeados pelo novo governo como prioridades: retomada do crescimento e combate às desigualdades sociais.



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