São Paulo, domingo, 05 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lula inflaciona "cozinha do poder"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Fiel à promessa de campanha de ser um presidente cercado por conselheiros o tempo todo, Luiz Inácio Lula da Silva ainda tenta acomodar por perto alguns ministros e secretários que tiveram de começar o trabalho no governo em salas improvisadas.
Lula prometeu espaço no centro -ou na "cozinha"- do poder a algumas pessoas para evitar tomar uma decisão solitária, mas a divisão de espaço ainda não foi definida, obrigando assessores a ocuparem locais alternativos.
Um exemplo é o secretário especial de Desenvolvimento Econômico e Social, Tarso Genro, que despacha provisoriamente em uma sala do prédio anexo ao Palácio do Planalto.
Tarso recebeu de Lula a promessa de que vai se mudar para local mais prestigioso, mas não tem previsão de quando isso irá acontecer. Outros auxiliares que despacham provisoriamente fora do Planalto -e igualmente receberam a promessa de mudança em breve- são os titulares dos recém-criados Ministério Extraordinário do Combate à Fome e da Segurança Alimentar, José Graziano, e da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, Emília Fernandes.
Graziano está no prédio do Ministério do Desenvolvimento Agrário, enquanto Emília Fernandes ficou na Justiça.
Os assessores especiais também têm espaço assegurado por Lula. O primeiro já instalado, Marco Aurélio Garcia, para assuntos internacionais, foi colocado estrategicamente no terceiro andar do Planalto -o mesmo pavimento do gabinete do presidente.
Em processo de adaptação a tantas mudanças, o corpo de funcionários da Casa ainda tem dificuldades para identificar o mapa do poder petista .

"Esse tal"
Na última sexta-feira, as telefonistas do Planalto não estavam conseguindo identificar Graziano e Garcia. "Esse Marco Aurélio Garcia tem alguma função no governo?", disse uma atendente que não conseguia localizar o ramal do assessor especial de Lula.
Na geografia do poder petista, dois membros do chamado núcleo duro do governo ficaram fora do Palácio do Planalto. Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) terão seus gabinetes na Esplanada dos Ministérios.
Com atribuições ampliadas, o homem-forte do Planalto, depois do presidente Lula, será o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que tem seu gabinete no quarto andar do palácio.
Nesse pavimento também estão instalados o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, e o ministro do Gabinete da Segurança Institucional, o general Jorge Armando Félix.
O ministro da Casa Civil deverá ter força no Planalto pela proximidade com Lula, já que foi um dos principais estrategistas da campanha, e também devido ao perfil discreto do petista Dulci e do militar Félix.

Hábitos
A distância física de Palocci e Gushiken em relação a Lula não deverá se traduzir em menos poder para os dois. O primeiro tem o aval de Lula para conduzir a área econômica mantendo a política monetária do governo anterior. O segundo é um antigo amigo que faz as vezes de conselheiro político e pessoal.
Além da mudança de personagens, nota-se também uma alteração de hábitos na comparação entre Lula e Fernando Henrique Cardoso. O primeiro acorda cedo, geralmente às 6h, e pediu ao chefe de gabinete, o amigo e dirigente petista Gilberto Carvalho, que marque compromissos no Planalto a partir das 7h30.
Já FHC gostava de acordar mais tarde, em torno das 8h, e, geralmente, iniciava seus despachos no Planalto a partir das 9h30 ou 10h da manhã.
Há uma coincidência entre Lula e FHC: ambos gostam de marcar jantares à noite para receber políticos e amigos. Geralmente, gostam de refeições pesadas. Tanto Lula quanto FHC têm fama de ter "estômago forte".
As diferenças voltam a se manifestar em relação às bebidas. O petista prefere os destilados, como uísque ou cachaça mineira de boa safra. O tucano é fã dos vinhos, especialmente os tintos, para acompanhar as refeições.
Lula fez poucas solicitações, como uma máquina de café expresso. O restaurante do Planalto, no entanto, se encarregou de "homenageá-lo": serviu rabada com polenta, prato preferido do presidente, na sexta-feira.



Texto Anterior: Petistas travam disputa pelas presidências do BB e da Caixa
Próximo Texto: Lula faz fisioterapia para tratar de bursite
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.