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CIRO
Com poucas chances de passar ao 2º turno, Ciro apoiaria Lula contra Serra, mas a Frente que já começou a abandoná-lo deve rachar
Isolado, candidato remói erros e tem futuro incerto
PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Se o apoio de Ciro Gomes (PPS)
a Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
em um eventual segundo turno
da eleição presidencial é dado como certo pelas pessoas mais próximas do candidato, seu futuro
político ainda é considerado uma
incógnita por todos.
Acabada a primeira fase da disputa, o ex-governador deve, como admitem alguns de seus mais
fiéis aliados, não apenas declarar
publicamente sua adesão ao petista como também empenhar-se
pessoalmente para que ele seja
eleito o sucessor de Fernando
Henrique Cardoso.
Isso significa que pode até mesmo subir no palanque de Lula.
Principalmente se, ao que tudo
indica até aqui, a disputa for travada contra seu maior desafeto, o
ex-ministro José Serra (PSDB).
Mas, se para Ciro a decisão parece óbvia, a escolha do caminho
a seguir vai provocar mais um racha na Frente Trabalhista que
apóia sua candidatura. Ou que
apoiava, diriam os mais realistas.
Enquanto o PDT de Leonel Brizola preferiu nem mesmo esperar
pela contagem dos votos para optar publicamente por Lula, o PTB
de José Carlos Martinez acena em
direção ao candidato do governo.
Embora Martinez venha demonstrando uma tendência pró-PT, o restante do partido prefere
Serra. Em busca de argumentos
que justifiquem a adesão ao tucano, listam as incompatibilidades
históricas com a legenda de Lula e
a intolerância que atribuem aos
colegas petistas.
Apesar de responsabilizar Serra
pelo ressurgimento de suas ligações com o ex-presidente Fernando Collor de Mello, Martinez já
avisou ao vice da chapa, o sindicalista Paulo Pereira da Silva (PTB),
o Paulinho, de que não poderá
contrariar a decisão da maioria.
Paulinho
O sindicalista também está entre os que devem se reagrupar em
torno da candidatura petista.
Paulinho já havia manifestado
sua opinião sobre assunto logo
que Ciro começou a cair nas pesquisas de intenção de voto.
Depois, chegou a demonstrar
hesitação diante de seu projeto
pessoal de concorrer à Prefeitura
de São Paulo. Segundo assessores,
ponderou que uma vitória de Lula
fortaleceria a prefeita Marta Suplicy, sua adversária natural na
disputa pelo comando da cidade.
Mas, pesados prós e contras, deve acabar recomendando o voto
no PT e colocando oficialmente à
disposição de Lula a estrutura da
Força Sindical, central de cuja
presidência se licenciou para concorrer ao Planalto ao lado de Ciro.
Em troca, comunicou a Lula
que gostaria apenas de enviar sugestões de alguns nomes para o
Ministério do Trabalho de sua
eventual administração.
Nem mesmo no PPS de Ciro há
uma definição. O presidente da sigla, senador Roberto Freire, já
afirmou que o partido fará publicamente sua escolha.
Correligionários declaram que a
opção natural da legenda seria
Lula, mas apontam dificuldades
regionais para a concretização do
apoio. O caso mais citado até o
momento era o do Rio Grande do
Sul. A disputa no Estado, entretanto, dá sinais de que não servirá
de impedimento, já que pesquisas
realizadas nos últimos dias indicam que Antônio Britto (PPS) está cada vez mais distante da possibilidade de ir ao segundo turno
contra Tarso Genro (PT).
Há quem diga, contudo, que
Freire gostaria mesmo é de uma
união com a candidatura governista. O senador, que causou inúmeras polêmicas durante a campanha, evita tocar no assunto,
mas já afirmou que um eventual
governo Serra não pode ser considerado um problema para o país.
Diante de tantas indefinições, a
semana começará com uma série
de reuniões em que serão discutidos os rumos de cada um dos partidos. Integrantes da aliança defendem que PTB, PDT e PPS decidam unidos, mas admitem que
essa possibilidade hoje é remota.
Especialmente depois de Brizola e de Martinez terem articulado
a renúncia de Ciro em favor de
Lula. Muito irritado com a iniciativa, o ex-governador não demonstra disposição nem sequer
de sentar-se à mesa com os dois
para começar a discutir a questão,
garantem seus interlocutores.
Lula do Lula
Aos 44 anos, Ciro, ex-deputado,
ex-prefeito, ex-governador e ex-ministro da Fazenda, como ele
mesmo gosta de repetir, termina
sua segunda disputa pelo Planalto
com um percentual de votos válidos semelhante ao do final da
campanha de 1998 -10,97%,
conforme dados oficiais do TRE
(Tribunal Superior Eleitoral).
Seu poder de negociação hoje,
entretanto, é muito maior. Segundo colocado na disputa durante
um longo período do primeiro
turno, é citado como um dos ministeriáveis de Lula.
Entre os integrantes da Frente
Trabalhista, são poucos os que se
atrevem a fazer considerações sobre o futuro político do pepessista. Mas, quando surgem, as propostas são variadas. Vão de um
extremo ao outro, em um exemplo típico do desencontro que
marcou toda a campanha.
Do PPS, partem ponderações de
que o candidato deveria recomeçar sua carreira tentando novamente se eleger prefeito de Fortaleza. Integrantes da cúpula da legenda avaliam que essa poderia
ser a melhor forma de tentar recuperar a imagem do ex-governador, desconstruída com o bombardeio promovido pela propaganda eleitoral de Serra.
Já no PTB que se manteve fiel ao
candidato, a idéia é torná-lo presidente da sigla que deve nascer da
fusão da legenda com o PDT.
Líder do PTB na Câmara e um
de seus vice-presidentes, o deputado federal Roberto Jefferson é o
autor da proposta.
"Antes eu achava que esse cargo
deveria ser do Brizola. Mas ele erra muito. Ciro é melhor", ataca
Jefferson, referindo-se à sugestão
do pedetista de que Ciro renunciasse à sua candidatura em favor
de Lula ainda no primeiro turno.
"Ele é que sairá da eleição como o
grande líder", completa.
Para levar o projeto adiante, o
deputado promete sugerir a filiação do candidato à sua legenda.
Mas é como um oposicionista
que o próprio Ciro costumava se
definir, sempre que mencionava a
possibilidade de não chegar ao segundo turno.
"Se não for eu o escolhido pelos
brasileiros para ter a honra da governar o país, servirei ao Brasil na
oposição", repetiu incontáveis vezes durante toda a primeira fase
da eleição deste ano.
"Ele será o Lula do governo Lula, mas com propostas", declarou
o deputado João Herrmann, que
faz parte da coordenação da campanha do ex-governador e é líder
do PPS na Câmara.
Já entre os assessores do presidenciável há quem aposte em sua
participação na disputa por uma
vaga no Congresso Nacional nas
próximas eleições.
Não que tenha desistido da Presidência da República, um projeto, avaliam alguns interlocutores,
a ser retomado daqui a aproximadamente duas eleições.
Amigos do candidato discordam. Afirmam que os prejuízos à
sua imagem já foram superados e
que ele está pronto para uma nova sucessão presidencial.
"Além de ter se tornado uma liderança clara, foi investigado e o
máximo que conseguiram contra
ele foi apontá-lo como destemperado", disse um aliado próximo.
Renúncia
A menos de 48 horas da eleição e
já conscientes da derrota, interlocutores do pepessista ainda enumeram, desolados, os erros cometidos pela campanha.
Entre os problemas mais citados, a falta de profissionalismo de
grande parte da equipe -basicamente formada pela família do
candidato-, o temperamento de
Ciro e o descompasso entre os integrantes da Frente Trabalhista.
Se a divisão de opiniões era óbvia desde o início do processo
eleitoral, quando Freire fez críticas públicas à possibilidade de
uma aliança formal com o PFL,
tornou-se mortal quando Brizola,
Martinez e o guru intelectual de
Ciro, o filósofo Roberto Mangabeira Unger, passaram a defender
a renúncia do candidato diante de
sua iminente derrota.
Ciro não renunciou por duas razões. Primeiro, porque como todo político, sempre achou que
uma chance mínima ainda era
uma chance. Avaliava que nesta
que foi a mais televisiva de todas
as campanhas presidenciais, teria
uma possibilidade de reversão do
quadro com sua aparição no debate da TV Globo de quinta-feira.
Segundo, pelo temor da reação
do eleitorado diante de uma decisão como essa.
"Poderia parecer que sempre
houve um conchavo entre nós.
Não haveria garantias de que os
meu votos iriam para o Lula. Poderiam também ir para o Serra e
acabar garantindo a realização do
segundo turno. Seria um suicídio
para mim", explicou para alguns
de seus aliados mais próximos.
1957
Em 6 de novembro, nasce em
Pindamonhangaba (SP) Ciro Ferreira Gomes, filho do cearense José Euclides Ferreira Gomes Junior
e da paulista Maria José Santos
Ferreira Gomes. Aos quatro anos,
muda-se com a família para Sobral (CE). Seus parentes são antigos políticos da região. Seu bisavô paterno foi prefeito de Sobral,
cargo ocupado mais tarde por
seu avô e também por seu pai
1982
Após formar-se na Faculdade de
Direito da Universidade Federal
do Ceará em 1979, inicia sua carreira política como segundo suplente de deputado estadual no
Ceará pelo PDS, mesmo tendo se
filiado fora do prazo estabelecido, pelas mãos de seu pai, José
Euclides Ferreira Gomes Júnior,
prefeito de Sobral. Eleito, assume
a cadeira na Assembléia logo no
início do mandato
1986
Reeleito deputado estadual pela
legenda do PMDB, torna-se líder
do governo do empresário Tasso
Jereissati, seu amigo e padrinho
político, na Assembléia Legislativa do Ceará
1988
Com o apoio de Tasso Jereissati,
vence as eleições municipais e
torna-se prefeito de Fortaleza.
Cumpre o mandato por quinze
meses, quando renuncia para
concorrer ao governo do Estado
1990
Em outubro, elege-se governador do Estado do Ceará -mais
uma vez com o apoio de Tasso Jereissati- pelo recém-formado
PSDB. É o único governador eleito pelo partido
1994
Em 7 de setembro, renuncia ao
governo do Ceará para atender
ao convite do presidente Itamar
Franco e assumir o Ministério da
Fazenda no lugar do embaixador
Rubens Ricupero. Permanece até
1º de janeiro de 1995, quando é
substituído por Pedro Malan, indicado pelo novo presidente da
República, Fernando Henrique
Cardoso
1998
Após período nos Estados Unidos
como estudante visitante da Universidade de Harvard, aproxima-se do filósofo Roberto Mangabeira Unger, que atuaria como guru
em seus próximos programas de
governo. Em 1997, descontente
com o PSDB, filia-se ao PPS. No
ano seguinte, lança-se pela primeira vez candidato à Presidência da República. Termina em 3º
lugar, atrás de FHC e Lula
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