São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

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SÃO PAULO

Para pepebista, polarização entre Lula e Serra evitaria um eventual apoio de petistas a Alckmin

Maluf espera ajuda de 2º turno presidencial

Ormuzd Alves/Folha Imagem
O candidato Paulo Maluf (PPB) reza na Basílica de Nossa Senhora Aparecida


JOÃO CARLOS SILVA
LILIAN CHRISTOFOLETTI

DA REPORTAGEM LOCAL

Paulo Maluf, 71, passará o dia de hoje torcendo por dois resultados nas urnas: quer chegar ao segundo turno com seu principal adversário, o tucano Geraldo Alckmin, e espera ver José Serra (PSDB) ser alçado à disputa presidencial com o petista Luiz Inácio Lula da Silva.
A soma desses dois resultados traduz o que Maluf e sua equipe de campanha contam ser o melhor cenário para vencer o segundo turno e afastar definitivamente o estigma pesado de suas derrotas -o pepebista já perdeu sete das dez eleições que disputou.
Segundo a estratégia pepebista, com José Genoino (PT) fora do páreo estadual, uma polarização entre Lula e Serra na campanha nacional neutralizaria um eventual apoio de petistas ao governador Geraldo Alckmin. Em contrapartida, Maluf evitaria a formação de uma ampla frente de oposição à sua candidatura.
"Você pode admitir que, tendo um segundo turno [com" Lula e Serra, no momento em que Serra criticar Lula, você acha que os petistas de São Paulo vão votar em tucano?", disse Maluf à Folha na última quinta-feira.
O posicionamento de Maluf mostra, mais uma vez, que o ex-prefeito (69-71 e 93-96) e ex-governador (79-82) não mede esforços para vencer uma eleição.
"Não é que eu precise de segundo turno. É que, havendo um segundo turno para presidente, a composição de forças em um colégio eleitoral é outra. Qualquer candidato à Presidência vai adorar ter os 7 milhões, 8 milhões de votos de Maluf", disse.
Apesar de dizer que "qualquer" candidato à Presidência gostaria de ter seus votos, o recado de Maluf tem direção certa: o petista Lula. Maluf, que em eleições passadas se referia ao PT como o "partido da baderna", evitou a todo custo polemizar com Genoino e chegou até a criar a fictícia chapa "Luma", numa referência ao nome de Lula e ao dele.
E se não houver segundo turno na campanha nacional? Caso isso ocorra, Maluf já preparou suas armas para voltar ao governo estadual -cargo que nunca conseguiu por meio de eleições diretas. Foi eleito governador em 1978 por um colégio eleitoral.
"Vou mostrar que sou o mais competente, o mais experiente, o que tem as melhores condições de combater o crime", brada o pepebista, com sua voz metálica e nasalada, em tom de discurso de programa eleitoral.

Derrotas

Nesse discurso, que só tem a tecla da vitória, Maluf se recusa a deixar que carimbem nele o rótulo de derrotado para o governo de São Paulo, como ocorreu no segundo turno das disputas de 1990 e de 1998. Nos dois anos, Maluf terminou o primeiro turno em primeiro lugar, mas acabou atropelado por derrotas de última hora, na boca-de-urna, por Luiz Antonio Fleury Filho e por Mário Covas, respectivamente.
"Mário Covas [no primeiro turno da eleição de 98" estava em quarto [lugar" e ganhou a eleição [no segundo turno". Segundo turno, ou você considera que é outra eleição, ou você desinforma seu leitor", insiste o ex-prefeito.
A crença na vitória é tanta que Maluf já tem planos. "Seria bom que São Paulo tivesse um governador com 90 anos combatendo o crime e o desemprego", disse o candidato, deixando claro que, independentemente de seu desempenho hoje nas urnas, vai continuar na vida pública.
Pessoas próximas dizem que o incansável Maluf vê na possibilidade de voltar ao Palácio dos Bandeirantes um trampolim para disputar a Presidência em 2006. Se perder esta eleição, pode voltar a concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2004.
Depois de 35 anos de vida pública, Maluf também aparenta estar mais emocional e obsessivo em sua imagem e na sua biografia. "Se em São Paulo, quando eu completar cem anos de idade, todo mundo quiser se comparar ao Paulo Maluf, eu com certeza estarei lá no céu, mas vou ficar muito feliz porque em vida terei sofrido muita injustiça, muita perseguição, muita acusação sem provas."
Ele não mencionou um caso sequer, mas na atual campanha se preparou para enfrentar ataques de adversários, tanto que deixou em sua produtora dez respostas previamente gravadas em vídeo para o caso de ter de dar explicações no programa eleitoral de TV.
Seu marqueteiro, José Maria Braga, não revelou o conteúdo das fitas, mas Maluf, durante a campanha, negou repetidas vezes que tenha contas no exterior e desculpou-se pelo "erro" de ter pedido que não votassem mais nele caso Celso Pitta não fosse um bom prefeito. Uma dessas respostas foi ao ar na última semana. Na tela, um humilde Maluf reconhece ter cometido "alguns erros" e diz já ter sido punido nas urnas. "Porém tive mais acertos do que erros", arremata.
Na atual campanha, Maluf bombardeou Alckmin com ataques repetitivos ao seu desempenho nas áreas da segurança, da educação, da saúde e do emprego. Exibiu dezenas de vezes manchetes de jornais que tirava de um dossiê montado por sua assessoria e entregue momentos antes de cada entrevista.
Apesar de considerar ter feito uma campanha "elegante", chamou o atual governador de todos os nomes que encontrou pelo caminho. De mentiroso e covarde a "Geraldo Maluquinho", em referência ao traficante Elias Maluco, preso no Rio no mês passado.
Com material de campanha bem aquém do de outras disputas e tempo de dois minutos e 19 segundos na TV, sua equipe definiu uma estratégia em busca de visibilidade. Por isso tantas entrevistas foram concedidas a rádios do interior -cerca de dez por dia.
Para chamar a atenção, chegou a anunciar empresas que supostamente deixariam São Paulo por falta de incentivo fiscal -o que foi desmentido depois pelos empresários. Ele também ressuscitou a liberação de pedágios durante a madrugada, medida que vigorou quando era governador.
Nas carreatas que fez, Maluf se equilibrou em camionetes e suportou andar, durante cinco horas ou mais, em jipes por São Paulo e pelo interior.
Sem apoio dos cerca de 500 prefeitos, como tem Alckmin, ou de prefeituras de cidades como São Paulo, Campinas e Ribeirão Preto, como tem Genoino, o pepebista não se incomodou de fazer dobradinha com candidatos a deputado estadual e sair pelas ruas distribuindo brindes.
Quando fala do assunto, recorre a uma comparação num tom que lembra a campanha do "bem" contra o "mal" feita por Covas em 98 e se vangloria dos seus eleitores. "Minha imagem é excepcional. Ninguém tem 7 milhões de votos quase sem partido, sem dinheiro e sem estrutura."


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