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Inocêncio mantém funcionários da 1ª vice-presidência em Pernambuco
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SERRA TALHADA (PE)
Mário Olímpio Cavalcante Neto, 36, assistente técnico lotado na
primeira vice-presidência da Câmara dos Deputados, em Brasília,
recebe a agricultora Maria dos
Santos Silva, 51.
Dizendo-se representante da
comunidade em que vive, ela cobra a construção de um poço artesiano. "O gado está morrendo de
sede, e o deputado Inocêncio precisa nos ajudar."
O assessor da Câmara ouve
atentamente o pedido, sugere um
pouco mais de paciência e se despede da agricultora com um aperto de mãos.
A cena transcorreu na manhã
da última quinta-feira no escritório político do deputado Inocêncio Oliveira (PFL-PE) na cidade
de Serra Talhada (407 km de Recife), em Pernambuco.
Cavalcante Neto, matemático
de formação e delegado do PFL
municipal, diz não conhecer o gabinete do pefelista em Brasília.
"Não se faz necessária a nossa
ida a Brasília, pois nossos contatos são regionais. Mas eu gostaria
de ter trabalhado lá no mês passado por causa do adicional [no salário, pago a deputados e assessores em troca do recesso]. Até me
prontifiquei, mas disseram que
não precisavam."
Só no escritório político, a reportagem encontrou quatro assessores da primeira vice-presidência -além de Cavalcante Neto, Cecílio Tiburtino de Lima Filho, Thehunnas Mariano de Peixoto Santos e Ariane Torres Belfort Rezende.
"Somos o elo do deputado com
seus eleitores, principalmente
porque o nome dele [Inocêncio]
está forte para a sucessão estadual", disse Lima Filho, 55.
A Agência Folha ficou no local
cerca de uma hora. Nesse período, dezenas de pessoas apareceram para pedir auxílio aos assessores técnicos da Câmara. Todos
os pedidos eram de cunho eleitoral. Maria dos Santos Silva, 51, pediu um poço artesiano; João Lopes, 67, assessoria jurídica; Maria
José, 68, pavimentação das ruas
de seu bairro; Maria Irani Ramos,
54, cestas básicas e a inclusão de
familiares no programa Fome Zero; e Fábio da Silva Socorro, 35,
um exame oftalmológico.
O caso de Thehunnas Mariano
Peixoto Santos, 32, é emblemático: ele recebe salário da Câmara,
vive em Serra Talhada e, atualmente, presta serviços jurídicos
para um irmão de Inocêncio, ex-prefeito da cidade.
Em junho, Santos foi deslocado
do escritório político para a Câmara Municipal da cidade, onde a
administração de Sebastião Oliveira (1997-2000) está sendo alvo
de uma CPI sobre medicamentos.
"Por causa de uns probleminhas jurídicos, fui designado para
prestar uma assessoria aos vereadores da bancada pefelista da Câmara. De uns meses para cá, tenho trabalhado mais na Câmara
[de vereadores] do que aqui [no
escritório]", disse advogado. Santos, que nunca esteve em Brasília,
disse que sua ida à sede da Câmara não é necessária, pois "já existe
lá um corpo jurídico formado".
No centro de Serra Talhada, trabalha o advogado José Alves de
Carvalho, 59. Seu escritório de advocacia, segundo ele próprio, é
um dos mais procurados de toda
a região. "Atendo tanto as pessoas
indicadas pelo escritório do deputado como também outros interessados em meus serviços. É claro que eu não vivo só disso [de
atender os eleitores de Inocêncio]", disse Carvalho.
Sobre o fato de receber salário
por um cargo de assessor de um
setor administrativo da Câmara e,
ao mesmo tempo, exercer outras
atividades profissionais, o advogado declarou: "Eu não sei se é
permitido. Pelo menos ninguém
nunca me falou nada."
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