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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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Inocêncio mantém funcionários da 1ª vice-presidência em Pernambuco

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SERRA TALHADA (PE)

Mário Olímpio Cavalcante Neto, 36, assistente técnico lotado na primeira vice-presidência da Câmara dos Deputados, em Brasília, recebe a agricultora Maria dos Santos Silva, 51.
Dizendo-se representante da comunidade em que vive, ela cobra a construção de um poço artesiano. "O gado está morrendo de sede, e o deputado Inocêncio precisa nos ajudar."
O assessor da Câmara ouve atentamente o pedido, sugere um pouco mais de paciência e se despede da agricultora com um aperto de mãos.
A cena transcorreu na manhã da última quinta-feira no escritório político do deputado Inocêncio Oliveira (PFL-PE) na cidade de Serra Talhada (407 km de Recife), em Pernambuco.
Cavalcante Neto, matemático de formação e delegado do PFL municipal, diz não conhecer o gabinete do pefelista em Brasília.
"Não se faz necessária a nossa ida a Brasília, pois nossos contatos são regionais. Mas eu gostaria de ter trabalhado lá no mês passado por causa do adicional [no salário, pago a deputados e assessores em troca do recesso]. Até me prontifiquei, mas disseram que não precisavam."
Só no escritório político, a reportagem encontrou quatro assessores da primeira vice-presidência -além de Cavalcante Neto, Cecílio Tiburtino de Lima Filho, Thehunnas Mariano de Peixoto Santos e Ariane Torres Belfort Rezende.
"Somos o elo do deputado com seus eleitores, principalmente porque o nome dele [Inocêncio] está forte para a sucessão estadual", disse Lima Filho, 55.
A Agência Folha ficou no local cerca de uma hora. Nesse período, dezenas de pessoas apareceram para pedir auxílio aos assessores técnicos da Câmara. Todos os pedidos eram de cunho eleitoral. Maria dos Santos Silva, 51, pediu um poço artesiano; João Lopes, 67, assessoria jurídica; Maria José, 68, pavimentação das ruas de seu bairro; Maria Irani Ramos, 54, cestas básicas e a inclusão de familiares no programa Fome Zero; e Fábio da Silva Socorro, 35, um exame oftalmológico.
O caso de Thehunnas Mariano Peixoto Santos, 32, é emblemático: ele recebe salário da Câmara, vive em Serra Talhada e, atualmente, presta serviços jurídicos para um irmão de Inocêncio, ex-prefeito da cidade.
Em junho, Santos foi deslocado do escritório político para a Câmara Municipal da cidade, onde a administração de Sebastião Oliveira (1997-2000) está sendo alvo de uma CPI sobre medicamentos.
"Por causa de uns probleminhas jurídicos, fui designado para prestar uma assessoria aos vereadores da bancada pefelista da Câmara. De uns meses para cá, tenho trabalhado mais na Câmara [de vereadores] do que aqui [no escritório]", disse advogado. Santos, que nunca esteve em Brasília, disse que sua ida à sede da Câmara não é necessária, pois "já existe lá um corpo jurídico formado".
No centro de Serra Talhada, trabalha o advogado José Alves de Carvalho, 59. Seu escritório de advocacia, segundo ele próprio, é um dos mais procurados de toda a região. "Atendo tanto as pessoas indicadas pelo escritório do deputado como também outros interessados em meus serviços. É claro que eu não vivo só disso [de atender os eleitores de Inocêncio]", disse Carvalho.
Sobre o fato de receber salário por um cargo de assessor de um setor administrativo da Câmara e, ao mesmo tempo, exercer outras atividades profissionais, o advogado declarou: "Eu não sei se é permitido. Pelo menos ninguém nunca me falou nada."



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