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Informes citam até rotina sexual
DA SUCURSAL DO RIO
Dois documentos anteriores ao
álbum de 107 páginas distribuído
pelo 1º Exército em novembro de
1972, embora menos detalhados,
indicam como informações sobre
treinamento guerilheiro eram obtidas pelas Forças Armadas.
Um relato da 2ª Seção do CIE
(Centro de Informações do Exército), de 13 de novembro de 1970,
relaciona os 25 participantes (15
com nome completo e 10 só com
codinome) de um curso. Descreve-os, diz onde devem estar escondidos e como eram as aulas.
É também o 1º Exército que produz, em 3 de abril de 1972, um informe secreto sobre o "Grupo da
Ilha". A origem dos dados é um
"informante". Há cópias dos papéis no Arquivo Público do Rio.
Esse documento é conhecido pela
Comissão de Direitos Humanos
da Câmara dos Deputados.
O relatório sobre o "Grupo da
Ilha" conta o que fizeram depois
de deixar o Brasil os 40 presos políticos banidos após o sequestro
do embaixador da Alemanha Ocidental pela VPR e a ALN em 1970.
Uma das obsessões é o relacionamento amoroso de brasileiros
em Cuba. A lista de "namorados"
e "amantes" poderia gerar um organograma. "Trepar era com a
turma do MR-8", diz o relatório.
O conteúdo fundamental do informe, contudo, não é engraçado
para as organizações da luta armada. Até local, dia e hora marcados para encontro de militantes
que voltavam de Cuba é citado.
É possível que o autor -ou um
dos autores- do documento de
abril de 1972 tenha sido o ex-marinheiro José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo, da VPR.
No ano passado, ele disse em
depoimento ao jornalista Percival
de Souza ter passado a colaborar
com o regime militar em 1971. Em
janeiro de 1973, entregaria seis
militantes, inclusive a mulher
com quem vivia, talvez grávida.
Há suspeitas de que a "conversão" de Anselmo tenha ocorrido
antes de 71. Nesse caso, quando
passou três anos em Cuba, a partir
de 67, já seria agente duplo.
A ação de infiltrados foi responsável por muitas defecções da
guerrilha. A partir de novembro
de 1971, por exemplo, o Molipo
(Movimento de Libertação Popular) teve 17 membros mortos ou
desaparecidos ao voltar ao Brasil.
"Até hoje não se sabe quem
eram os infiltrados", diz o deputado Nilmário Miranda (PT-MG),
ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Segundo ele, apenas dez agentes duplos têm o nome conhecido.
Ex-guerrilheiro treinado em
Cuba, o historiador Daniel Aarão
Reis, da Universidade Federal
Fluminense, diz que a ação de
agentes infiltrados não seria difícil
em Cuba: "Os cuidados eram
pouco rigorosos. Acabava todo
mundo sabendo quem estava
treinando lá".
(MM)
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