São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2007

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Jobim assume e diz que o problema na pasta é de comando

"Quem manda é o ministro", afirma o peemedebista, que anuncia ter "carta-branca" de Lula e promete demissões

Segundo ele, governo busca uma maneira de mexer até na direção da Anac, órgão regulador do setor aéreo fora do alcance do Planalto

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao tomar posse ontem como ministro da Defesa, o peemedebista Nelson Jobim disse que assume o cargo com o objetivo de resolver o "problema de comando" da pasta -em recado claro aos envolvidos na crise aérea: Força Aérea, Infraero (empresa que administra os aeroportos do país) e Anac (Agência Nacional de Avião Civil), que tem independência, mas é ligada ao ministério).
Ontem ele sugeriu buscar fórmulas para trocar o comando da agência do setor aéreo.
"Com a criação de diversos órgãos, [temos] uma certa disparidade de ações. Ou seja, como disse o presidente [Lula], nós estamos com um problema de comando", disse Jobim, que aceitou o convite de Lula para ocupar o cargo anteontem à noite, conforme a Folha antecipou na edição de ontem.
No final da tarde, após ter passado o dia no Planalto em seguidas reuniões para tomar conhecimento da situação do caos aéreo do país, Jobim concedeu entrevista na qual procurou demonstrar que a partir de agora o governo terá um ministro com "carta-branca", que exige comando e fará todas as mudanças que achar necessárias. "Quem manda é o ministro", afirmou, com o objetivo de afastar da pasta a imagem deixada por seu antecessor, o petista Waldir Pires.
"[O objetivo é fazer a] reestruturação justamente desse problema da falta de estruturação e de inter-relação nessa situação emergencial e também dentro do próprio Ministério da Defesa. Ou seja, criar efetivamente e reformular a estrutura do Ministério da Defesa para que seja um Ministério da Defesa integrador de uma política de segurança", afirmou.
"Vou me dedicar à estruturação do ministério e ao enfrentamento da questão emergencial atual, que é a questão aérea. Se houver necessidade dessas ações, eu tenho carta-branca", completou. Disse que até o final da semana deverá anunciar mudanças no comando da Infraero. Não citou nomes, mas tratou as demissões como inevitáveis. "Se houver mudanças, e seguramente pelas circunstâncias deve haver, não serão partidarizadas."
Sobre a crise aérea, Jobim não quis estipular datas. "Não há como definir condutas antes do diagnóstico." Segundo ele, é preciso "estabelecer fórmulas para voltarmos ao sistema que tínhamos antes do acidente da Gol", em 2006. "Não posso estabelecer uma cronologia para resolver a crise aérea."
Amanhã o novo ministro da Defesa estará em São Paulo, para encontros com o governador José Serra (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (DEM) e visitas ao aeroporto de Congonhas, palco da tragédia com Airbus da TAM, na semana passada, e à sede do IML (Instituto Médico Legal) onde está sendo realizado o trabalho de identificação das vítimas.

Anac
Na entrevista, Jobim deixou clara a intenção do governo de encontrar uma fórmula para mexer no comando da Anac -cargos aprovados pelo Congresso e, segundo a legislação, fora do alcance de demissões do presidente da República. O atual presidente da agência, Milton Zuanazzi, ligado ao setor do turismo, tem recebido críticas por se tratar de uma indicação política, e não técnica.
"Nós temos um problema legal em relação à Anac que diz respeito a mandatos", disse Jobim, citando a seguir a função da agência de mediar interesses dos usuários com as empresas.
"Esse modelo legal tem que ser respeitado. Mas nós temos que trabalhar em cima dos resultados e nós exatamente vamos examinar essa questão", afirmou, sem dar pistas sobre quais caminhos o governo pretende seguir para mudar o comando da Anac. "Não serão anunciados nada, serão feitos."
"Temos que lembrar que todas essas estruturas [das agências reguladoras] foram feitas para dar resultados", declarou.
Sobre sua distância da área militar ou mesmo da aviação, foco dos atuais problemas da pasta, Jobim minimizou o fato com um elogio à gestão do governador paulista José Serra no Ministério da Saúde, no governo Fernando Henrique.
"Nós tivemos um ministro da Saúde que não tinha nada de saúde. Foi um grande ministro", disse Jobim. "Uma coisa é fazer a execução, outra é o comando", afirmou. (EDUARDO SCOLESE e PEDRO DIAS LEITE)


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