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Ao sair, Pires diz que alvo é Lula
Após reagir com irritação à decisão do presidente, petista atribui demissão a "forças políticas contrárias"
Ex-ministro afirma, em entrevista a site, que foi usado na crise aérea para desgastar gestão de Lula: "É a mesma sanha de sempre"
Jamil Bittar/Reuters
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O ex-ministro Waldir Pires cumprimenta o presidente durante a posse de Nelson Jobim, ontem |
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO
O ex-ministro Waldir Pires
não conteve, nos bastidores,
sua irritação com a decisão do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva de substituí-lo no Ministério da Defesa. A Folha apurou que auxiliares do presidente tentaram convencê-lo a encampar a versão de que teria
pedido demissão do cargo, e
não o contrário. "Se o presidente queria uma cabeça, que exponha a minha", disse.
Na conversa com Lula, o ex-ministro da Defesa disse que
sua demissão era fruto da
"pressão de forças políticas
contrárias" ao governo federal.
"Eu disse: presidente, há
uma sanha para atingi-lo. Novamente se movem para atingir o senhor e seu governo, é a
mesma sanha de sempre e, desta vez, me usam para este fim",
afirmou Waldir Pires, em entrevista ao site Terra Magazine.
Pires disse que se preocupa
com "essa eleição que não quer
terminar nunca". "Deixo o ministério honrado, mas me
preocupa essa insânia que não
aceita a decisão do povo, que
não respeita de verdade as instituições democráticas", afirmou o petista, que foi consultor geral da República em 1964,
quando João Goulart foi destituído pelos militares.
Desde a campanha eleitoral
de 2006, Lula e seus auxiliares
de governo repetem a tese de
que há uma "elite golpista"
com interesse permanente em
atingir a gestão petista.
Ainda na entrevista ao site,
Pires afirmou que o ministro
da Defesa não tem poder ou
atribuições sobre o setor aéreo.
"Isso pode vir a ser modificado,
mas hoje o ministro não tem
atribuição, mecanismos ou poder de atuar nesse setor."
De acordo com Pires, o momento de dor das famílias que
perderam parentes no acidente
com o Airbus A-320 da TAM
não é levado em consideração
no "desejo de atingir o presidente e seu governo".
Versões
O presidente tentou mais
uma vez tratar a saída de um
ministro como algo natural no
governo. Na cerimônia de posse de Nelson Jobim, Lula disse
por duas vezes que Pires tinha
pedido para deixar o cargo.
O dia foi marcado por idas e
vindas na versão oficial sobre a
saída. O motivo da confusão é a
dificuldade em geral do próprio
Lula de demitir ministros, e em
particular de se livrar de Pires,
por cuja biografia tem grande
apreço. "O momento mais difícil é a troca de um companheiro
por outro companheiro", disse.
Lula gastou quase a metade
de seu discurso de meia hora
em elogios a Pires. "Você pode
andar em qualquer rua deste
país de cabeça erguida", disse o
presidente ao ministro.
A primeira informação no
Palácio do Planalto era a de que
Pires tinha entregado o cargo.
Pouco depois, a versão foi alterada, oficialmente, para uma
demissão. Segundo um assessor da Presidência, a pedido do
próprio Pires. Coube ao porta-voz da Presidência, Marcelo
Baumbach, fazer o comunicado: "O presidente Lula reuniu-se esta manhã com o ministro
da Defesa, Waldir Pires, e pediu
a ele que entregasse o cargo",
disse o porta-voz. Atribuiu a
mudança a uma necessidade de
um "novo perfil" para conduzir
a crise aérea.
No final da tarde, depois de
Lula ter tornado pública a falsa
versão de que Pires pedira demissão, a Secretária de Imprensa da Presidência divulgou
uma nota negando o que Baumbach dissera no final da manhã.
"A informação correta é que
Waldir Pires solicitou a sua
exoneração ao presidente, a
qual será formalizada nesta
quinta-feira [26/7], no "Diário
Oficial" da União", dizia o texto.
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