São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2007

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Ao sair, Pires diz que alvo é Lula

Após reagir com irritação à decisão do presidente, petista atribui demissão a "forças políticas contrárias"

Ex-ministro afirma, em entrevista a site, que foi usado na crise aérea para desgastar gestão de Lula: "É a mesma sanha de sempre"

Jamil Bittar/Reuters
O ex-ministro Waldir Pires cumprimenta o presidente durante a posse de Nelson Jobim, ontem


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO

O ex-ministro Waldir Pires não conteve, nos bastidores, sua irritação com a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de substituí-lo no Ministério da Defesa. A Folha apurou que auxiliares do presidente tentaram convencê-lo a encampar a versão de que teria pedido demissão do cargo, e não o contrário. "Se o presidente queria uma cabeça, que exponha a minha", disse.
Na conversa com Lula, o ex-ministro da Defesa disse que sua demissão era fruto da "pressão de forças políticas contrárias" ao governo federal.
"Eu disse: presidente, há uma sanha para atingi-lo. Novamente se movem para atingir o senhor e seu governo, é a mesma sanha de sempre e, desta vez, me usam para este fim", afirmou Waldir Pires, em entrevista ao site Terra Magazine.
Pires disse que se preocupa com "essa eleição que não quer terminar nunca". "Deixo o ministério honrado, mas me preocupa essa insânia que não aceita a decisão do povo, que não respeita de verdade as instituições democráticas", afirmou o petista, que foi consultor geral da República em 1964, quando João Goulart foi destituído pelos militares.
Desde a campanha eleitoral de 2006, Lula e seus auxiliares de governo repetem a tese de que há uma "elite golpista" com interesse permanente em atingir a gestão petista.
Ainda na entrevista ao site, Pires afirmou que o ministro da Defesa não tem poder ou atribuições sobre o setor aéreo. "Isso pode vir a ser modificado, mas hoje o ministro não tem atribuição, mecanismos ou poder de atuar nesse setor."
De acordo com Pires, o momento de dor das famílias que perderam parentes no acidente com o Airbus A-320 da TAM não é levado em consideração no "desejo de atingir o presidente e seu governo".

Versões
O presidente tentou mais uma vez tratar a saída de um ministro como algo natural no governo. Na cerimônia de posse de Nelson Jobim, Lula disse por duas vezes que Pires tinha pedido para deixar o cargo.
O dia foi marcado por idas e vindas na versão oficial sobre a saída. O motivo da confusão é a dificuldade em geral do próprio Lula de demitir ministros, e em particular de se livrar de Pires, por cuja biografia tem grande apreço. "O momento mais difícil é a troca de um companheiro por outro companheiro", disse.
Lula gastou quase a metade de seu discurso de meia hora em elogios a Pires. "Você pode andar em qualquer rua deste país de cabeça erguida", disse o presidente ao ministro.
A primeira informação no Palácio do Planalto era a de que Pires tinha entregado o cargo. Pouco depois, a versão foi alterada, oficialmente, para uma demissão. Segundo um assessor da Presidência, a pedido do próprio Pires. Coube ao porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach, fazer o comunicado: "O presidente Lula reuniu-se esta manhã com o ministro da Defesa, Waldir Pires, e pediu a ele que entregasse o cargo", disse o porta-voz. Atribuiu a mudança a uma necessidade de um "novo perfil" para conduzir a crise aérea.
No final da tarde, depois de Lula ter tornado pública a falsa versão de que Pires pedira demissão, a Secretária de Imprensa da Presidência divulgou uma nota negando o que Baumbach dissera no final da manhã. "A informação correta é que Waldir Pires solicitou a sua exoneração ao presidente, a qual será formalizada nesta quinta-feira [26/7], no "Diário Oficial" da União", dizia o texto.


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