Campinas, Domingo, 17 de Setembro de 2000

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PROBLEMAS DA CIDADE/JUNDIAÍ
Recursos privados, captados pela fundação Casa da Cultura, dobram orçamento
Servidor "come" 80% de verba da Cultura

CRISTINA CAROLA
DA REDAÇÃO

O investimento da administração municipal de Jundiaí em cultura, neste ano, não foi maior que 0,8% do Orçamento global ou aproximadamente R$ 2,6 milhões, o mesmo percentual do ano anterior. Essa percentagem vem mantendo-se constante desde a administração André Benassi (93-96). Mas aproximadamente 80% dessa verba- cerca de R$ 2,08 milhões- é gasta com a folha de pagamento da secretaria.
Em Campinas, por exemplo, o orçamento da área para este ano é de aproximadamente R$ 14 milhões ou 2,1% do Orçamento geral. Em São Paulo, 1,3% do Orçamento vai para a cultura.
Até o secretário da Cultura, Roberto Trentini, admite que o repasse é pequeno, mas diz que está na média das cidades brasileiras.
Com cerca de R$ 600 mil por ano para fazer a manutenção dos instrumentos culturais da cidade, organizar eventos e desenvolver projetos na área, a solução foi captar recursos da iniciativa privada, por meio da fundação Casa da Cultura de Jundiaí.
O estatuto do órgão abre quatro caminhos para a captação de recursos: patrocínio, doação, comercialização de produtos e exploração de imóveis.
Este ano, o orçamento da fundação é de R$ 937 mil, o mesmo valor do ano passado. Em 98, o órgão chegou a captar cerca de R$ 1,1 milhão. Em 97, a fundação passou a administrar as festas da Uva e do Morango, ficando com a bilheteria dos eventos. O orçamento da fundação naquele ano foi de R$ 500 mil.
O órgão, que tem caráter público e é gerenciado paralelamente com a Secretaria da Cultura, também recebe subvenção da prefeitura- cerca de R$ 100 mil por ano.

Viabilização
Segundo o secretário, esses recursos captados pela fundação viabilizaram as reformas e o programa de manutenção dos equipamentos culturais da cidade- Teatro Polytheama, Museu Histórico e Cultural, Centro das Artes e sala Glória Rocha.
Até 98, a Biblioteca Municipal também pertencia ao quadro de bens da secretaria, mas, depois da reforma, que custou R$ 110 mil, foi transferida para a Secretaria da Educação.
"A fundação foi criada em 1987 com o objetivo principal de arrecadar recursos para a recuperação do Teatro Polytheama", disse o secretário.
O teatro foi reaberto no último ano da administração André Benassi (PSDB), em 96, mesmo ano em que foi eleito o atual prefeito Miguel Haddad, do mesmo partido.
A atual administração foi a responsável pela organização da primeira temporada do Polytheama. Em 98, reformou a Biblioteca Municipal e, em 99, o Museu Histórico e Cultural.
Este ano, a secretaria está reformando a sala Glória Rocha, no Centro das Artes, e vai investir cerca de R$ 120 mil.
Na recuperação do Polytheama foram investidos aproximadamente R$ 3,5 milhões. "Desse montante, R$ 1,7 milhão nós conseguimos por meio da lei Rouanet", afirmou o secretário.
A lei Rouanet dá desconto em Imposto de Renda para pessoas físicas ou jurídicas que invistam em cultura.
A fundação não tem funcionários. Segundo Trentini, essa foi uma estratégia para que os gastos com encargos trabalhistas não absorvessem mais recursos.

Atividades
As atividades organizadas pela secretaria ainda se concentram no centro; o Polytheama, o museu, o Centro das Artes e a própria Casa da Cultura ficam no centro.
Mas, segundo o secretário, já existe um trabalho de descentralização física em andamento- a construção de Ceris (Centro Educacional Regional Integrado).
No total, pelo plano da secretaria, serão construídos cinco Ceris, um em cada região da cidade. Até agora, apenas um deles foi concluído, no bairro do Retiro, e outro está em construção, no jardim São Camilo.

Produção local
Para o produtor teatral e diretor cultural do Clube Jundiaiense, Jô Martin, que começou a carreira em Jundiaí, onde estudou de balé clássico a canto, a cidade progrediu em cultura.
"Quando cheguei a Jundiaí, o Teatro Polytheama estava abandonado e a sala Glória Rocha tinha incendiado. Não tínhamos onde nos apresentar."
Jô foi o primeiro diretor da nova fase do Teatro Polytheama. "Na época em que eu estava na direção, o objetivo era "intoxicar" o público de espetáculos."
Para o produtor, a cultura, depois da revitalização do Polytheama, "cresceu bastante". Mas ele sente falta da unificação do setor cultural.
Jô é o mentor dos dois eventos de dança mais importantes da cidade- o Enredança, que tem 14 anos, e o Mirimdança, que vai para a quinta edição.

Dança
Para a diretora da Sociedade de Música Pio 10, Maria Laura Bruno Benveniste, que trabalha com dança há 22 anos, o investimento que a prefeitura vem fazendo na área é bom. "Com o Teatro Polytheama ainda vai melhorar."
Os eventos de maior importância promovidos pela Secretaria da Cultura nessa área, segundo Maria Laura, são o Enredança e o Mirimdança.
A Emoção Cia. de Dança, dirigida por Maria Laura, participou de dez edições do Festival de Dança de Joinville (SC), o mais importante do país, e há seis anos traz prêmios para a cidade.
Na etapa do Mapa Cultural Paulista realizada em Jundiaí, o grupo ficou entre os cinco melhores colocados.

Literatura
O presidente do Gabinete de Leitura Rui Barbosa, Ailton Alves Viana, acha que a prefeitura deveria pensar o centro como um pólo de cultura. "Já tentamos desenvolver atividades à noite, mas a fluência de público é pequena".
Viana destaca também outro ponto "importante": o remanejamento dos terminais de ônibus intermunicipais da praça Rui Barbosa. "A praça Rui Barbosa era um lugar muito bonito. Os terminais dificultam o acesso da população ao gabinete de leitura e até a visualização do local", destacou Viana.
Este ano, a entidade, que é a mais antiga em funcionamento na cidade, recebeu pela segunda vez, desde a sua fundação, apoio financeiro da prefeitura- R$ 2.000. A primeira foi em 1987, na administração André Benassi.
A receita mensal de associados, segundo Viana, varia de R$ 12 mil a R$ 14 mil.
O Gabinete de Leitura Rui Barbosa é uma entidade civil fundada em 1908 por funcionários da Companhia Paulista.

Artes Plásticas
Josias Filho, secretário geral da Associação dos Artistas Plásticos de Jundiaí, disse que a prefeitura concede uma subvenção anual à entidade. Além dessa verba, a secretaria cede o espaço físico, na Casa da Cultura, para o funcionamento da associação.
"O poder público deveria incentivar a idéia das saraus. Jundiaí tem muitos artistas, existe muita gente produzindo."
Para ele, o poder público, que é quem administra os logradouros públicos, deveria levar a produção artística às ruas, às praças.

Subvenção
Entidades assistenciais, esportivas e culturais do município recebem subvenção anual da prefeitura. Este ano, 11 entidades culturais ganharam a verba, totalizando R$ 25,5 mil.
Em média, cada uma recebeu R$ 2.000. A Sociedade Musical São João Batista ficou com a maior fatia- R$ 5.000.
A subvenção destinada às entidades assistenciais e esportivas, este ano, foi de R$ 213,9 mil e R$ 10,5 mil, respectivamente.


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