DA REPORTAGEM LOCAL

No bairro de Barragem, vizinho a Parelheiros, extremo sul de São Paulo, não há quem conheça melhor as trilhas da serra do que os monitores da ONG Olhos da Mata. Os cerca de 60 jovens são moradores da própria região que viram no ecoturismo uma saída para o desemprego.
Atualmente, eles procuram escolher trilhas que não invadam o Parque Estadual da Serra do Mar, para respeitar a política de preservação do Estado. Isso não impede, porém, que eles atendam a grupos dos mais variados, de empresários a idosos. "Há trilha para todos os gostos", diz a monitora Viviane Lopes Freire, 19.
A formação desses monitores, coordenada pelo programa Capacitação Solidária, do governo federal, incluiu curso de primeiros socorros, de rapel e orientações sobre a mata atlântica.
"Comer ingá ou cambuci, andar nessas trilhas e ir à cachoeira do rio Capivari não tem nada de especial para nós. Tem para os outros moradores da cidade", diz a monitora Edile Cassiano da Cunha, 18. "Às vezes nem parece que somos paulistanos também."
Para chegar ao bairro, no pé da serra, é preciso andar durante quase duas horas até o ponto final do ônibus Barragem, que sai do terminal Santo Amaro. O acesso fácil ao parque, consideram os monitores, é o que mais atrai os aventureiros. Por São Bernardo, por exemplo, é possível ir de trem.
Em dois anos, eles já se depararam com histórias absurdas. "A que mais me impressionou foi quando resgatamos um rapaz que perdeu o braço no trem. Ele sangrava muito, mas não sentia dor porque estava drogado", diz Vanessa Ferreira Gomes de Lima, 19.
O problema dos perdidos, conta o monitor David Souza de Oliveira, 18, é subestimar a mata. "Lá dentro, é tudo igual. Por isso eles andam em círculo." Apelidado de "esquilo", por não sair da mata, Oliveira é responsável pela trilha mais longa, de 25 km, que leva os mais corajosos e resistentes de São Paulo a Itanhaém.