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DANUZA LEÃO
Momento de decisão
Não dá mais para adiar: vai
ter que decidir. Não que esteja
infeliz, mas que podia estar melhor, lá isso podia.
Quando se juntaram tinha todas as esperanças; afinal, ele era
-e continua sendo- inteligente,
culto, brilhante, charmoso, tudo
que poderia querer de um homem
para compartilhar sua vida. Mas
o tempo foi passando, e nada como o tempo para se conhecer melhor as pessoas. E quanto mais se
conhece, já viu.
Na época, ele era o melhor, em
todos os sentidos, de todos os que
apareceram. Só que os anos passaram, e as qualidades que ela
tanto apreciou não são mais suficientes para manter a união
-não para ela; suas necessidades
mudaram, e um homem que brilha nos salões e cativa por sua
simpatia não basta para manter
o casamento. Ela quer mais: quer
alguém mais humano, que não
pense no destino do mundo como
se o mundo fosse uma coisa abstrata, mas um homem que tenha
um ideal, uma paixão. E esse homem apareceu (é incrível: eles
sempre aparecem quando a gente
precisa).
A irmã está apavorada; "como
você vai embarcar numa aventura dessas? Trocar um marido que
te dá uma vida estável, te leva para viajar, que qualquer mulher
adoraria ter (e quisera eu arranjar um igual), por um artista que
tem a pretensão de, através de sua
arte, mudar o mundo? Romântica, com a sua idade? Não seja louca, pense na besteira que vai fazer e pense enquanto é tempo". E
ela tem pensado; aliás, não tem
feito outra coisa.
Talvez seja mesmo loucura.
Queixas maiores ela não tem,
mas alguma coisa no seu coração
diz que a vida poderia ser melhor.
Viver mais simplesmente talvez
não seja tão grave assim: afinal,
as grifes e as viagens são bem
agradáveis, mas nunca despertaram nela maiores emoções. E é
disso que ela está precisando,
mais do que de qualquer outra
coisa: emoções. Lembra da música de Roberto Carlos e admite, só
para ela mesma: é romântica sim
e não tem a menor vontade de
mudar.
Mas tem medo; medo de um
dia, quando conhecer melhor esse
novo homem, descobrir que ele
também tem tantos defeitos, embora diferentes, quanto o atual. E
se se arrepender? Aí será tarde e
Inez já estará mais do que morta.
Não será melhor ficar como está, e deixar essa bobagem de emoções para lá?
Afinal, já passou dos 30 há muito tempo, e já é hora de ter juízo.
Mas pensa: é exatamente porque
os 30 já estão longe que não há
tempo a perder, é agora ou nunca. E tem mais: não adianta pedir
opinião a ninguém, pois cada um
vai responder a partir de sua própria cabeça e da sua realidade.
Foi se abrir com a irmã e deu no
que deu. Com pai e mãe, nem
pensar. Os pais querem para os filhos situações bem estáveis, pois
isso significa preocupações a menos (para eles). Vai ter que resolver sozinha; como dizia sua avó,
ela e Deus.
É suficientemente lúcida para
saber que se escolher partir às vezes vai sentir saudades do que
deixou. Mas está precisando tomar outro rumo, viver outra vida,
outras vidas, se arriscar -e isso
não dá para explicar.
E pensa: o mundo prova, a cada
momento, que as coisas têm mais
chance de darem errado do que
de darem certo. Mas e se for maravilhoso? Mesmo que as possibilidades sejam poucas, pode acontecer; e se acontecer, a vida terá
valido a pena.
Ainda não tem certeza do que
vai fazer, mas sabe que tem que
ser hoje.
Hoje ou nunca mais.
E-mail -
danuza.leao@uol.com.br
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