São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EDUCAÇÃO

Sem carteira da OAB, bacharel não pode advogar; médico sem especialização é preterido em grandes centros

Barrados têm opções reduzidas de carreira

DA REPORTAGEM LOCAL

Médicos generalistas -formados em medicina que não têm especialização- e bacharéis em direito sem carteira da OAB têm muito menos opções de carreira do que os colegas de profissão.
Quem faz direito e não passa no exame da OAB, além de não poder advogar, não concorre a cargos de juiz, defensor público ou procurador-geral do Estado.
"Sempre quis advocacia, é a minha vocação. Mas já fiz o exame oito vezes e não consigo passar", conta Aparecida Simone Gomes, 32, que se formou em direito em 98. Segundo ela, o exame da OAB -que tem testes de múltipla escolha na primeira fase e questões discursivas na segunda- está mais rígido. "Está cada vez pior. Eles [da OAB] estão afunilando porque sabem que não há onde todo mundo trabalhar."
Para o presidente nacional da OAB, Rubens Approbato, o Exame de Ordem é bem menos aprofundado do que um concurso público. "Os exames não estão mais difíceis. Os cursos é que são cada vez mais deficitários", declarou.
Profissionais que se formaram e ainda não conseguiram a aprovação acabam ocupando vagas de segunda classe. Muitas vezes, trabalham em escritórios de advocacia, redigindo petições e outras peças processuais que são assinadas por um colega já habilitado -prática ilegal, segundo o Conselho Federal da OAB. "Faço o serviço, mas não assino", conta Sandra de Souza, 31.
Uma das carreiras permitidas mesmo para quem não tem a OAB é o Ministério Público. Nos três últimos concursos para promotor em São Paulo, no entanto, o número de aprovados foi inferior ao número de vagas existentes. "Dificilmente completamos as vagas. São milhares de inscritos, poucos suficientemente preparados", afirma o procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Luiz Antonio Marrey.
Já em medicina, a opção para o médico sem residência ou título de especialização é trabalhar em hospitais menores e do interior.
Para Reinaldo Ayer de Oliveira, 57, do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, uma boa opção para esses médicos são os programas de médico de família, que levam profissionais para pequenas unidades de saúde para atuarem como clínicos.
Os governos federal, estaduais e municipais têm incentivado a formação desses médicos clínicos, que recebem salários relativamente altos para se deslocarem ao interior. Segundo levantamento realizado pela Estação de Pesquisa de Sinais de Mercado da UFMG em 2002, um médico de família ganha R$ 8.800 para trabalhar no pequeno município de Álvaro de Carvalho, no interior do Estado de São Paulo.
A mineira Patrícia Guimarães Penido, 26, é uma das médicas que optaram por esse caminho. Ela se formou neste ano em medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais e desde julho mora em Formiga, no interior mineiro, onde trabalha em um pequeno posto de saúde.
Mas Patrícia disse que pretende trabalhar por apenas um ano em Formiga, para juntar dinheiro enquanto estuda para o exame de residência do próximo ano. "Eu não quero ser clínica."
O paraibano Martim Elviro de Medeiros Júnior, 30, está em São Paulo desde o início de 1997 para terminar o curso de medicina que havia começado na Universidade Federal da Paraíba.
"Minha idéia sempre foi trabalhar com saúde pública." Medeiros Jr. é médico no posto de saúde Profeta Jeremias, no bairro de Cidade Tiradentes, um dos mais pobres da zona leste de São Paulo.


Texto Anterior: Sul e SE monopolizam a área de saúde
Próximo Texto: Médico e advogado conseguiu vencer os dois desafios
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.