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Central da PM não gravou reação aos ataques do PCC
Aparelho estava em conserto desde 26 de abril do ano passado, alega a polícia
A gravação é usada para esclarecer as circunstâncias de ações consideradas suspeitas; Promotoria diz que irá investigar caso
DA REPORTAGEM LOCAL
A investigação sobre as mortes de civis durante a reação policial aos ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital), no
ano passado, perdeu uma de
suas principais provas. Contrariando procedimentos normais
de segurança, o Copom (centro
de operações da Polícia) de São
Paulo afirma não ter gravado as
comunicações entre o órgão e
os carros dos policiais acionados nos supostos confrontos.
A Polícia Militar diz que houve uma pane no aparelho que
grava as comunicações do Copom na capital paulista e nega
sabotagem. As conversas nem
chegaram a ser gravadas, segundo a corporação. O Ministério Público classifica o episódio
como "esdrúxulo" e promete
investigar o caso.
Gravadores do Copom registram as ligações para o telefone
190 e as comunicações, por rádio, entre o órgão e os carros da
PM acionados para atender as
ocorrências policiais.
O registro dos diálogos é utilizado para esclarecer as circunstâncias de ações consideradas suspeitas. Em alguns casos, por exemplo, a gravação
traz até sons dos tiros durante a
ação policial, o que ajuda a avaliar a atuação dos policiais nos
confrontos.
Segundo a PM, no entanto,
houve interrupção no serviço
entre os dias 26 de abril e 11 de
julho do ano passado, conforme antecipou ontem o jornal
"O Estado de S. Paulo". O equipamento, que era obsoleto, teria sido encaminhado para conserto, que durou 76 dias.
72 horas
A ausência da gravação justamente em um período em que
policiais são suspeitos de forjar
situações de confrontos e matar civis foi descoberta em um
processo criminal que apura a
morte de dois adolescentes
-Leandro Carmo da Silva, 15, e
Laion Alcioles Soares Cancela,
17- pela Força Tática da PM.
A falha só foi confirmada depois que a Justiça determinou
72 horas para o secretário estadual da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, apresentar as
gravações do Copom envolvendo a morte dos dois jovens.
Um dia depois de um oficial
de Justiça ter entregue a notificação na secretaria, o coronel
Ailton Araújo Brandão, comandante do Policiamento da Capital, encaminhou ofício à 3ª Vara do Júri de São Paulo relatando a falha. Segundo o ofício, o
equipamento de gravação "parou de funcionar por problemas de desgaste natural".
A primeira onda de violência
envolvendo ataques do PCC,
seguida de uma reação policial,
ocorreu entre os dias 12 e 19 de
maio do ano passado. No total,
493 pessoas foram assassinadas no Estado, 92 delas em supostos confrontos com a PM.
"As gravações são importantes para esclarecer essas circunstâncias. Para apontar irregularidade, mas também para confirmar a legalidade da ação.
Agora, vamos ter de buscar outras provas", afirmou o promotor Augusto Eduardo de Souza
Rossini, que atua no processo
da morte dos adolescentes. "A
ausência da gravação pelo Copom pode prejudicar até mesmo a defesa dos policiais."
Segundo o assessor especial
de direitos humanos da Procuradoria Geral de Justiça, Carlos
Cardoso, o episódio é "esdrúxulo" e precisa ser investigado.
"Por que ficaram tanto tempo
sem gravar essas conversas? Isso precisa ser explicado."
Cardoso afirma que a Procuradoria vai abrir uma investigação para saber por que o Copom ficou sem o sistema de
gravação durante tanto tempo.
Passado
"Esse problema [ausência de
gravação] deveria ter sido resolvido o mais breve possível.
Temos de saber por que não
foi", afirmou o ouvidor da polícia paulista, Antonio Funari.
Segundo ele, dos quatro PMs
envolvidos na ação que provocou a morte dois jovens, três tinham participado de outras
ações com morte. Um deles já
tinha se envolvido em outros
seis casos de suposto confronto. "Isso é muito para um só policial", disse Funari.
Os PMs afirmam que os adolescentes trafegavam em um
carro roubado e reagiram. Familiares afirmam que os jovens
não tinham envolvimento com
o crime e não sabiam dirigir.
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