São Paulo, sábado, 06 de outubro de 2007

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Serra tira do HC gestão de Instituto Doutor Arnaldo

Governador pretende transferir para organização social a administração do novo hospital, a ser inaugurado neste mês

Médico afirma que o modelo proposto por José Serra coloca em risco a qualidade do atendimento médico da instituição

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

O governador José Serra (PSDB) decidiu transferir novamente a administração do IDA (Instituto Doutor Arnaldo), na avenida de mesmo nome, para a Secretaria de Estado da Saúde. No mês passado, o vice-governador Alberto Goldman assinou decreto transferindo a gestão do prédio para o HC (Hospital das Clínicas). Serra revogou o decreto.
O instituto, que tem 726 leitos e será inaugurado neste mês, está no centro de uma polêmica que envolve médicos do HC e o governo. Serra e o secretário de Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, entendem que o hospital deve ser administrado por uma organização social por meio de um contrato que defina metas de atendimento e de gastos -cerca de R$ 120 milhões anuais. A organização escolhida para a tarefa foi a Fundação Faculdade de Medicina, ligada à USP.
A decisão já estava praticamente tomada quando, há um mês, o médico Miguel Srougi, professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP, liderou um movimento de resistência à medida.
Em carta enviada aos professores da faculdade, ele afirmava que o modelo de administração desejado pelo governo colocará "em risco o papel inigualável de atendimento médico-hospitalar, de formação de recursos humanos e de pesquisas biomédicas exercido pelo HC", pois, aos profissionais de saúde, não será possível "desenvolver, na plenitude, a sua missão acadêmica, já que terão que se ater a um projeto rígido e asfixiante de metas assistenciais, o que é bastante difícil quando ações nas áreas de ensino e pesquisa têm de ser contempladas concomitantemente".
Srougi também afirmava na carta, entre outras ponderações, que a divisão criará um "problema incontornável de identidade" entre os médicos que forem transferidos do HC para o novo instituto. "Nenhum desses indivíduos, com histórias pessoais ricas em embates e conquistas acadêmicas, percorreu esses caminhos para se transformar em burocrata, subjugado a um sistema de metas e cotas assistenciais e submetido às inevitáveis ingerências e constrangimentos, comuns no sistema político e dirigente brasileiros".
A carta chegou ao conhecimento de Serra, que decidiu abrir negociações com os médicos que resistiam ao modelo de administração já definido.
Nesta semana, a situação ficou tensa após Srougi declarar à Folha, na terça, que o IDA "pode se transformar num tremendo instrumento de manipulação política, com deputados e vereadores de todo o país querendo colocar seus cupinchas lá dentro". Dois dias depois, Serra baixou o decreto que transfere novamente o instituto do HC para a secretaria.
O decreto inspirou preocupação entre alguns médicos, que entenderam que as negociações estavam encerradas. Mas a Folha apurou que Serra pretende dar continuidade às conversas.
A tendência do governador e do secretário Barradas, porém, é manter a decisão de contratar uma organização social para administrar o IDA -provavelmente a Fundação Faculdade de Medicina, ligada à USP.
O governo entende que é necessário fixar metas de atendimento e de gastos diante da necessidade de se abrir hospitais no interior e na periferia, que têm poucos leitos em contraponto aos disponíveis na região central da capital.
Na visão do governo, as áreas de pesquisa e ensino não serão "asfixiadas" pois continuarão no HC, que não estará submetido às metas de gastos do IDA.


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