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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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DANUZA LEÃO

Cuidado: eles estão por aí

Existem mais loucos neste mundo do que se pode supor. Eles estão em toda parte, e o pior: a maioria deles parece normal. Quem nunca ouviu falar de um vizinho ou conhecido que foi preso por ter praticado um ato de violência? Aí, a gente diz: "Mas que coisa, ele parecia tão tranquilo, como pode ter feito isso?". Pois é, só que ele fez.
Existem casos de adolescentes que matam os pais ou avós, de jovens assassinos considerados bons rapazes, pois tinham um comportamento normal no trabalho e com os amigos, e fico pensando: serão só eles os loucos, ou loucos são também os que nunca desconfiaram do que eles eram capazes?
Tudo isso me veio à cabeça depois da tragédia da bela e talentosa atriz Marie Trintignant, de 41 anos, filha de Nadine e Jean-Louis Trintignant -e quem viu o filme "Un Homme et une Femme" nunca se esqueceu do charme do ator.
Marie e o namorado, um bem-sucedido cantor de uma banda de rock, tiveram uma briga feia, depois de uma festa. Ele bateu tanto no rosto da atriz, mas tanto, que seu rosto ficou destruído. Depois de alguns dias em coma, ela morreu.
Segundo os amigos, existia entre os dois uma grande e verdadeira história de amor. Mas que espécie de amor era esse? Será que ela nunca desconfiou de que esse homem podia ser perigoso? O pior é que certas mulheres se apaixonam por esse tipo de homem, vai entender.
Os loucos estão soltos na rua, e seria preciso poder identificar quem são eles. Só que não existem indícios a partir dos quais se pode saber em quem confiar, a quem se pode confiar nossos filhos, com quem se pode ter uma aventura sem correr risco de vida.
A experiência ensina que as tragédias não acontecem apenas com os outros, como se costuma pensar. Você é capaz de botar sua mão no fogo pelo seu namorado? Tem certeza de que, se abandonado, ele não vai ser capaz de uma agressão física?
Não é comum ouvir falar de um homem que tenha sido agredido por uma mulher; já o contrário, se não chega a ser banal, raro também não é. E como somos todos, até um certo ponto, responsáveis por nossas vidas, devemos estar sempre, em todos os momentos, muito atentos em relação às pessoas com quem convivemos.
O tipo machão que te encantou na discoteca, quando tomou satisfações de um homem que te olhava muito, pode ser perigoso; como também pode ser perigoso aquele que não fala nem reclama de nada, porque não consegue externar seus sentimentos; tanto quanto aquele homem tão educado e tão gentil, mas que às vezes tem um olhar estranho.
Cabe a cada um de nós -e sobretudo a nós, mulheres- estar em permanente estado de alerta (máxima) a qualquer sinal que pareça fora do normal, do natural. Mas é preciso ter muito cuidado também com os que parecem normais, pois eles também podem ser loucos.
Tanto quanto estudar português, matemática, geografia e história, os jovens deveriam ter também -e sobretudo- professores que lhes ensinassem algumas noções básicas de psicologia; assim, eles talvez conseguissem conhecer um pouco melhor seus semelhantes, sem ter que aprender com a dura experiência da vida.
Porque os loucos estão soltos pelo mundo e são muito mais numerosos do que se pode imaginar.

E-mail - danuza.leao@uol.com.br

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