São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 2002

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DATAFOLHA

Administração da petista recebe nota 4,7, inferior à de outras oito capitais; Angela Amin é a mais bem avaliada

Marta é a última em ranking de prefeitos

SÍLVIA CORRÊA
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), é a última colocada em um ranking elaborado pelo Datafolha a partir da nota média atribuída por moradores a prefeitos de nove capitais brasileiras. Angela Amin (PPB), de Florianópolis, ficou em primeiro lugar.
Cada entrevistado foi convidado a atribuir notas de zero a dez à administração de sua cidade.
Após dois anos de governo, a média de Marta foi 4,7 -para 16% dos entrevistados, a gestão da petista merece nota zero, e para 6%, nota dez. Angela Amin, no segundo mandato, teve média 6,9.
Entre Angela e Marta aparecem no ranking os prefeitos de Salvador, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza e Rio.
Dos nove avaliados -quatro deles petistas-, a governante de São Paulo e o prefeito de Fortaleza, Juraci Magalhães (PMDB), têm taxas de reprovação maiores do que as de aprovação -no caso de Marta, 39% de ruim/péssimo contra 23% de ótimo/bom. No de Magalhães, 35% e 30%.
Considerada a margem de erro de três pontos para mais ou para menos, o índice obtido agora é similar ao pior já registrado por Marta -20% de aprovação e 42% de reprovação em junho de 2001.
Há um ano e meio, o ápice de insatisfação sucedera episódios desgastantes, como problemas no setor de transportes e a falta de pessoal na saúde. Agora, segundo cientistas políticos ouvidos pela Folha, a situação se repete, reforçada, dizem eles, pelo fim do "efeito Lula" e pela consolidação da imagem da prefeita.
Em 18 de outubro, no auge da campanha eleitoral, 36% dos paulistanos classificaram como ótima ou boa a administração local -11 pontos a mais do que a taxa de aprovação obtida por Marta na pesquisa anterior, de fevereiro.
Foi até agora o seu melhor índice, mas ainda bem abaixo dos 56% dos eleitores que, antes de sua posse, esperavam dela um bom desempenho. Hoje, menos de dois meses depois de seu pico, a mesma taxa caiu 13 pontos.
Na mesma época em que a popularidade cresceu -entre fevereiro e outubro-, os beneficiários dos programas sociais pularam de 95 mil para 248 mil e o governo implantou um sistema de transporte escolar, beneficiando 925 mil crianças.
Tudo isso foi amplamente divulgado pela prefeitura, que elevou a R$ 37,9 milhões o gasto com publicidade -contra R$ 23,1 milhões em 2001- e ganhou destaque na campanha eleitoral do PT.
"A aparição do governo na TV foi muito grande. Marta provavelmente foi a chefe de governo local mais pautada pela campanha. Mas, à medida que o efeito eleição cessa, há uma acomodação para um patamar de satisfação anterior", diz o cientista político Rui Tavares Maluf. "Soma-se a isso a crise no binômio transporte-trânsito, o único setor que, avalio, atinge igualmente o conjunto da população", continua ele.
Maluf se refere a um verdadeiro "pacote de impopularidades" que Marta enfrentou nos últimos dois meses e que foi encabeçado pelo setor de transportes. Primeiro foram as denúncias de irregularidades, que derrubaram o secretário em novembro. Naquele momento, já se falava na possibilidade de aumento da tarifa para controlar a crise. O valor foi anunciado no dia 19 deste mês, de R$ 1,40 para R$ 1,70. Houve ainda as novidades tributárias, como as propostas de reajuste do IPTU em até 35% e da criação da taxa do lixo, que surgiram no início deste mês.
"Um aumento, por mais justo e necessário que seja, dificilmente é digerido. Cabe ao governo revertê-lo em melhoria dos serviços."
Além do fim da exposição de seu governo e dos episódios desgastantes, os cientistas políticos associam ao perfil da prefeita a nova queda de popularidade.
"Marta não tem cuidado com a mídia, não pensa duas vezes para falar. Não é uma postura de alguém preocupado com a imagem", diz Rubens Figueiredo, diretor do Cepac (Centro de Pesquisa, Análise e Comunicação).
"Existe um distanciamento da Marta em relação à população. Todas as imagens da prefeita não mostram sensibilidade", diz a professora do Departamento de Política da PUC-SP, Vera Chaia.



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