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DANUZA LEÃO
Felicidades, FH
Durante oito anos, achamos
até que éramos felizes; razoavelmente felizes.
Tínhamos na Presidência um
homem com um passado irretocável e cheio de boas intenções;
inteligente, educado, gentil, daqueles que uma moça pode apresentar aos amigos e à familia na
certeza de que todos terão dele
uma boa impressão. Um príncipe
-tropical-, praticamente.
Nas universidades do mundo
ele faria um bonito, como aliás
fez, e se chegasse numa roda de
samba, usando e abusando do
seu poder de sedução, explicaria
toda a história da música popular
brasileira através da sociologia.
Os sambistas adorariam mas
nunca o chamariam de Fernando
para mostrar intimidade, como
tantos.
No começo foram só flores, como aliás costumam ser os começos. A classe média viveu alguns
anos de tranquilidade, sabendo
que sem inflação as contas do mês
iam ser pagas -o que já não é
nada mal- e com o dólar a R$ 1.
Foram tempos de paz, durante os
quais alguns vacilos pintaram,
claro, como em qualquer história
que se preza.
Da boca desse homem charmoso saíram pérolas inesquecíveis,
como o comentário sobre os aposentados, e uma outra quando
disse que o Brasil estava muito
bem, pois até sua empregada tinha ido passar as férias na Grécia
-Maria Antonieta perde. Ele sabia falar, e muito bem, com seus
iguais; já com os não tão iguais
ele escorregava. E ainda teve a
história da reeleição: quer dizer
que quatro anos a mais tudo bem,
mas seis dias -para adiar a posse- não podia?
Ruth Cardoso foi a mulher certa: inteligente e culta, fez um trabalho primoroso na área social,
sempre na maior discreção. Durante esses anos o casal encheu de
orgulho a nação que, depois de
tantas baixarias, tinha enfim um
par correto e elegante à frente do
país.
Quando os tucanos chegaram
ao poder, inaugurou-se uma era
chique no Brasil, da qual estávamos bem precisados. Foram os
tempos da não-grife, dos ternos
de gabardine beige e camisa social azul claro, dos colares quase
artesanais de prata.
Era bom ter um pai assim, que
nos enchia de orgulho. Digo pai
porque a imagem de um presidente se confunde, sempre, com a
imagem paterna.
Mas a esse pai faltou, em alguns
momentos, um pulso mais firme
para poder dizer não. A cordialidade é necessária, mas a dureza,
quando é preciso, também.
Não, não se pode dizer que tenham sido anos ruins; mas que
poderiam ter sido melhores, lá isso podiam. O Brasil parecia uma
terra encantada onde todos se davam bem, se tratavam com delicadeza, inteligência e bons modos, mas isso não foi o suficiente;
não foi mesmo, como se viu. Apesar de haver declarado ter um pé
na cozinha, faltou a FH ter, além
do pé, também o coração. Foram
tempos de muito charme mas de
pouca emoção.
Vamos sentir saudades? Vamos,
sim, e muitas vezes, depois que
nossa lua-de-mel cívica acabar. E
FH também vai sentir saudades,
sobretudo do Palácio da Alvorada, que parece ter sido feito sob
medida para ele, que nunca escondeu que gostaria de morar lá o
resto da vida. Não, nada de mais
quatro anos: apenas uma questão
estética.
Ao governo que está terminando faltou paixão; mas para prevenir, é bom lembrar que assim como não se vive só de charme, também não se vive só de paixão.
Valeu, presidente. Boa sorte.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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