São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 2002

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MINERAÇÃO

Cerca de 80 dragas são usadas para vasculhar o leito do rio Grande em busca de diamantes; atividade prejudica o ambiente

Garimpo ilegal invade área entre SP e MG

Joel Silva/Folha Imagem
Dragas no rio Grande, nos arredores da cidade de Guaraci (SP), utilizadas na extração irregular de diamantes; mergulhadores se revezam para sugar areia do fundo


ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO

O aglomerado de barracas flutuantes parece até uma pequena cidade. O barulho lembra o de uma fila de caminhões com os motores ligados em alta aceleração. São garimpeiros clandestinos que invadiram as águas do rio Grande, na divisa entre São Paulo e Minas, atrás de diamantes.
Eles moram em embarcações entre as cidades de Colômbia, Guaraci e Barretos, no norte de São Paulo, e Frutal, no sul de Minas Gerais. Estão lá há pelo menos cinco anos, mas foram chegando ao local aos poucos. No início, eram no máximo 30 pessoas. Hoje, já somam 400.
Os números são bem modestos se comparados aos de Serra Pelada, o garimpo mais famoso do país. Lá, na cidade paraense de Curionópolis, na década de 80, milhares de pessoas foram atraídas pela descoberta de jazidas de ouro no local. A Serra Pelada caipira, no entanto, está se ampliando e, nesse processo, a região ganha alguns problemas.
"Se não tomarmos uma medida drástica, contundente, vai virar mesmo uma Serra Pelada", disse o comandante da Polícia Ambiental de Barretos, tenente Alcides José Tonin.
Cada grupo de cinco garimpeiros leva na embarcação uma draga -aparelho que serve para retirar do rio areia e diamantes. Eles se revezam da manhã à noite. Mergulhadores fazem a máquina sugar o fundo das águas 24 horas por dia. O barulho em determinados trechos do rio Grande é ensurdecedor, já que, ao todo, são cerca de 80 dragas.
Os rancheiros vizinhos da pequena "cidade", que temem os "forasteiros", dizem que o número já chegou a 130 embarcações. A polícia e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) confirmam os dados.
As notícias de descobertas de diamantes na região atraem aventureiros de todo o país. No final do mês passado, por exemplo, uma única pedra rendeu R$ 700 mil. A maioria dos garimpeiros, porém, não encontra mais que pequenas pedras de pouco valor -que variam de R$ 100 a R$ 600.
Todos os garimpeiros estão em situação irregular. Ninguém, segundo a polícia e o Ibama, possui autorização para extrair comercialmente as pedras.
João de Deus Braga e Vicente Paulo do Couto, de Frutal (MG), são apontados como responsáveis pelas áreas. Elas conseguiram uma autorização para pesquisar a região, o que não permite que eles extraiam diamantes para vender.
Três multas já foram aplicadas contra ambos: duas de cerca de R$ 3 milhões e uma de R$ 10 milhões. O Ibama afirma que os valores estão em fase de execução, mas nem mesmo as autuações parecem suficientes para inibir a exploração. Os próprios funcionários do órgão temem que elas não sejam pagas por força de "políticos poderosos" de Brasília.
Ibama e polícia prometem uma blitz para a primeira quinzena de 2003 que, segundo eles, resolverá definitivamente o problema.
Diante da clandestinidade, ninguém sabe quantos diamantes são extraídos. Em uma blitz realizada em outubro, foram encontradas 180 pedras pequenas, avaliadas em cerca de R$ 100 mil. Todas foram apreendidas.
Pela lei da informalidade, segundo os garimpeiros, 38% do valor das pedras vendidas fica com quem as encontrou. O restante iria para os "detentores" do garimpo -no caso, Braga e Couto.
O primeiro confirmou que revende os diamantes, mas disse ter autorização para isso, o que não foi confirmado pelo Ibama e pela polícia.
Couto disse que já extraiu e vendeu diamantes do rio Grande, mas afirmou ter parado com essas atividades.



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