DA FOLHA RIBEIRÃO

Oscar Ferreira, 44, é mais um dos cerca de 400 garimpeiros que tentam a sorte sob as águas do rio Grande. Seu semblante cansado e sua voz frágil fazem com que pareça mais velho.
Ele conta que saiu do Ceará aos 13 anos para tentar a vida no garimpo, mas nunca conseguiu uma grande pedra que lhe desse condições para se aposentar.
"Aqui você perde filho, mulher, você perde tudo na vida. Os filhos estão no Ceará, eles adoecem, morrem e você não vê. Você liga para lá e eles dizem: ele está morrendo. Como que você faz? Enterra. Você adoece, eles não têm dinheiro para mandar de lá para cá. Se eles adoecem, não tem dinheiro para mandar daqui para lá."
Passou por Serra Pelada, Porto Velho, e outros garimpos pelo Brasil afora. Está há quatro anos no rio Grande, sem sucesso. "Fui um dos primeiros a chegar. Nunca ganhei dinheiro. Gente que eu ensinei está batendo de carro novo. Aqui é assim: desceu, achou uma pedra, o cara está rico para o resto da vida. É disso que a gente corre atrás", disse.
Ferreira é um dos mais velhos do garimpo, onde a média de idade é de 25 anos. A idade é importante para suportar um mergulho de duas horas respirando o ar produzido por um compressor.
O garimpeiro mora na própria draga, assim como a maioria dos colegas, sem nenhum conforto. Quando vai à cidade, renova o estoque de alimentos e remédios para as doenças que adquiriu na profissão. "Gasto por mês R$ 120 com remédios. O que ganho é para pagá-los e para comer."
Dos diamantes que encontra, apenas 38% do valor de venda ficam com ele. No final de novembro, ele conta, uma colega conseguiu achar uma pedra de R$ 700 mil, um diamante rosa, o terceiro na escala de valores.
Para Ferreira, o risco de morrer dentro d'água é grande, "99%", mas ele não dá informações sobre mortes. Sobre a fiscalização, diz não saber porque todos voltaram. O Ano Novo, pretendia passar na embarcação, pois não tem como visitar sua família.



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