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Contrabando cria rota alternativa
Com fiscalização maior na fronteira paraguaia, produtos ilegais são trazidos agora pela região do lago de Itaipu
Migração também chegou à divisa terrestre entre o país vizinho e Mato Grosso do Sul, área que antes era usada no tráfico de drogas
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GUAÍRA
A costa oeste do Paraná é a
nova rota do contrabando paraguaio para o Brasil. Relatório
do serviço de inteligência da
Polícia Federal, obtido pela Folha, mostra que essa migração
aconteceu após a criação da
Aduana 100% em Foz do Iguaçu. A fronteira terrestre entre
Mato Grosso do Sul e o Paraguai, antes usada para o tráfico
de drogas internacional, também virou rota alternativa a
Foz para os contrabandistas.
A Aduana 100%, instalada no
ano passado em Foz do Iguaçu
pela Receita Federal, foi acompanhada de um aumento no
efetivo e nas operações da Polícia Federal. Com isso, as quadrilhas organizadas migraram
para a região do lago da usina
binacional de Itaipu, cooptando proprietários rurais, pescadores e trabalhadores temporários para o serviço de transporte e armazenamento do
contrabando paraguaio.
Na última semana, a Folha
visitou vários portos clandestinos nos municípios de Santa
Helena, Entre Rios do Oeste,
Pato Bragado e Guaíra e pôde
comprovar essa migração do
crime organizado da tríplice
fronteira (Brasil-Paraguai-Argentina) para a costa oeste paranaense. Essa migração foi facilitada pela falta de estrutura
da PF na região e por obras viárias no lado paraguaio.
Do lado brasileiro, existe
apenas uma delegacia da Polícia Federal, em Guaíra, com 34
policiais federais, incluído nesse efetivo cinco delegados. A
delegacia da Polícia Federal em
Cascavel, que poderia auxiliar
no trabalho de combate ao contrabando, foi inaugurada no final do ano passado e possui
pouca estrutura para apoio.
No porto internacional de
Santa Helena, que liga o Brasil
ao Paraguai por balsa, a Receita
Federal trabalha com auditores, desarmados, na fiscalização. Nos casos de flagrante para contrabando, é necessário
solicitar apoio às PF de Foz
(120 km ao sul) ou de Guaíra
(126 km ao norte).
Salto
A situação na aduana internacional de Mundo Novo (MS)
não é diferente. Lá a Receita
Federal só pode contar com o
apoio da PF de Naviraí (120 km
ao norte). Sem a presença da
PF, os fiscais da Receita Federal em Mundo Novo viram o
trânsito na fronteira com Salto
del Guairá (Paraguai) passar de
uma média diária de 800 veículos para 2.500 nos primeiros
cinco meses deste ano.
A PF em Guaíra, que abriu
428 inquéritos durante todo o
ano passado, já contabiliza 315
só até o final de maio deste ano.
"A situação é caótica, já que
aqui a ação é puramente de crime organizado, em um perfil
diferente de Foz, onde existe a
figura do sacoleiro", afirma o
delegado-chefe da PF de Guaíra, Érico Saconatto.
O Paraguai asfaltou a ligação
entre os municípios de Hernadaryas (cidade vizinha a Ciudad
del Este) e Salto del Guairá. A
chamada "supercarretera" facilitou o transporte de mercadorias de Ciudad del Este a Salto
del Guairá e viabilizou o contrabando nos mais de 250 km
do lago de Itaipu e rio Paraná.
No transporte pelo lago, os
contrabandistas utilizam batelões (barcos rápidos, movidos
com motores de veículos a gasolina) e barcos de pescadores
tradicionais cooptados para o
contrabando. Na última semana, em uma tentativa de diminuir o acesso aos portos clandestinos, a Itaipu Binacional
tem montado bloqueios de terra nas estradas vicinais que
chegam ao lago. O problema é
que a binacional só pode fazer
essas obras de bloqueio no trecho de mata ciliar que protege o
lago, com cerca de 200 metros.
Escoamento
Em um destes portos, o Tigre, em Guaíra, a estrada de terra, no lado paraguaio, onde é
transportado o contrabando,
passa dentro do quartel da Armada (Marinha) paraguaia.
Para vencer essas barreiras,
as mercadorias contrabandeadas são levadas por carregadores até as estradas ou escoam
seus contrabandos em municípios como Guaíra, cidade que
margeia o lago. Em Guaíra, a PF
já identificou vários pontos de
escoamento de contrabando.
Nessa cidade, a PF identificou o cigarro como o principal
produto das quadrilhas de contrabandistas. A movimentação
de cigarros paraguaios para o
Brasil pode ser avaliada por dados da Associação Brasileira de
Combate à Falsificação. No ano
passado, para um consumo de 3
bilhões de maços, o Paraguai
produziu 40 bilhões de maços.
Além de cigarros, as principais mercadorias contrabandeadas na costa oeste são agrotóxicos (a maioria proibidos no
Brasil), armas, munições, produtos eletrônicos e pneus.
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