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LUIZ GONZAGA BELLUZZO
O FMI e as políticas cambiais
Poucos países emergentes sustentaram a combinação câmbio-juros tão esdrúxula quanto a exibida pelo Brasil
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NAS ÚLTIMAS décadas, a desregulamentação dos mercados
e a crescente liberalização
dos movimentos de capitais entre as
principais praças de negócios promoveram alterações significativas
nos regimes cambiais e nos processos de ajustamento (ou desajustamento) dos balanços de pagamentos. Nos países centrais -ao contrário da "globalização financeira" do
último quartel do século 19, que instituiu o padrão-ouro e seu sistema
de taxas fixas-, os regimes cambiais
caminharam na direção de um sistema de taxas flutuantes. Cuidava-se
de escapar das aporias da "trindade
impossível", ou seja, da convivência
entre taxas fixas, mobilidade de capitais e autonomia da política monetária doméstica.
Já as economias periféricas, no
início dos anos 90, açoitadas pela alta inflação, trataram de vencer suas
agruras. Para tanto, adotaram regimes cambiais de taxa fixa ou assemelhados. Apoiados na abertura financeira e na generosidade dos fluxos de capitais, Brasil e, sobretudo,
Argentina cavalgaram os alazões do
Apocalipse: câmbio valorizado e taxas de juros reais muito elevadas.
Quebraram a espinha do dragão,
mas inflaram os déficits comerciais,
os passivos externos e as dívidas públicas internas. O resultado foi a fragilização do balanço de pagamentos, a crescente imobilização da política
fiscal, a subordinação da política
monetária e finalmente a fuga de capitais, a crise cambial e o doloroso
abandono da "ancoragem".
Depois dos percalços dos anos 90,
a adoção de taxas de câmbio flutuantes pelos emergentes passou a figurar como pièce de résistence no cardápio do Fundo Monetário Internacional (FMI). A maioria dos países
emergentes caminhou rapidamente
nessa direção. No Brasil, a desvalorização do real em 1999 e a adoção de
um regime de câmbio flutuante contribuíram, sem dúvida, para a elevação do saldo comercial e para a redução do déficit em conta corrente
-um movimento lento entre 1999 e
2001 e mais rápido a partir de 2002.
Desatada a maré de liquidez global,
poucos países ditos emergentes sustentaram uma combinação câmbio-juros tão esdrúxula quanto a exibida
pelo Brasil.
O último relatório do Independent Evaluation Office (IEO), publicado em 17 de março de 2007, merece leitura atenta e cuidadosa. Órgão
do FMI, espécie de ombudsman técnico da instituição, o IEO avalia o
aconselhamento do Fundo em matéria de política cambial no período
1999-2005. O relatório não se afasta
das observações de muitos economistas brasileiros. Ele diz que, durante o período de avaliação, muitos
países receberam fortes influxos de
ajuda oficial, capital privado ou de
receitas derivadas de recursos naturais. Esses movimentos impuseram
pressão altista em suas taxas reais de
câmbio. A relutância do staff do
Fundo em apoiar a intervenção parece desprezar a preocupação das
autoridades (locais) com os danos
potenciais causados ao setor exportador/industrial por valorizações
nominais excessivas. Tais "preocupações podem ser corretas e devem
ser avaliadas por seus próprios méritos".
LUIZ GONZAGA BELLUZZO , 64, é professor titular de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos
do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de
Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (governo
Quércia).
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