|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Contrabandista
ganha rapidez com "acelerado"
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GUAÍRA
A figura dos veículos
"acelerados" mostra a organização das quadrilhas
de contrabandistas para o
transporte das mercadorias paraguaias. Surgiram
na região de fronteira empresas fantasmas que se
especializaram em financiar carros, caminhões e
carretas em sistema de
leasing. Os veículos financiados são repassados, a
baixo custo, para os contrabandistas -são os "acelerados", na gíria do crime.
As empresas fantasmas
pagam apenas uma prestação do leasing à financeira.
Se os veículos forem
apreendidos, o custo é mínimo para os contrabandistas. Cabe às financeiras
e aos bancos, lesados, buscar reaver os veículos na
Justiça Federal. O delegado-chefe da Polícia Federal em Guaíra (PR), Érico
Saconatto, diz que a maioria dos caminhões e carretas apreendidos com contrabando de cigarros é dos
chamados "acelerados".
São motores de carros
pequenos "acelerados"
que os contrabandistas
utilizam para dar velocidade aos batelões (barcos
com motores a gasolina e
utilizados para o transporte de mercadorias pelo lago de Itaipu). Neste ano, a
PF em Guaíra já apreendeu 21 embarcações, sendo 9 batelões movidos a
motores de veículos "acelerados".
Relatório do serviço de
inteligência da PF obtido
pela Folha chama a atenção pela preocupação com
"cidadãos idôneos, os chamados "homens de bem'",
que estão sendo cooptados pelas quadrilhas. São
produtores rurais com
propriedades isoladas e às
margens do lago de Itaipu,
que alugam barracões (antes destinados a máquinas
agrícolas) para o armazenamento de contrabando.
Em Santa Helena (PR),
trabalhadores temporários, antes bóias-frias contratados pelos agricultores, também migraram
para o contrabando. O
presidente do Conselho
Municipal de Santa Helena, Jaime Luiz Remor,
afirma que a migração tem
lógica mercantil. "Esse
trabalhador deixa de trabalhar durante o dia, por
R$ 35, e prefere ganhar R$
100 por apenas duas horas, à noite, no carregamento das mercadorias."
Segundo Remor, isso
ocorre por uma "cultura"
de que o contrabando é
um crime menor, cultura
essa que estaria arraigada
na fronteira paranaense.
Em Guaíra, o crime organizado chegou à sofisticação de contratar olheiros
para observar o movimento dos policiais federais.
Está preso na delegacia
da PF em Guaíra um vigia
que recebia do crime organizado para atuar como
olheiro. O vigia trabalhava
em um posto de combustíveis vizinho à PF. Com um
celular, comunicava aos
contrabandistas toda a
movimentação de agentes
e delegados.
Preso, o vigia confessou
que comunicava a movimentação de carros da PF
-ele alertava os contrabandistas e carregadores
(pessoas contratadas para
levar o contrabando do lago até os veículos dos contrabandistas) que ficavam
em um bar às margens do
lago de Itaipu, em uma antiga associação de pescadores.
(JM)
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Pela primeira vez, Brasil tem voz ativa no G8 Índice
|