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VALORIZAÇÃO IRRACIONAL
Estudo revela que, de 1995 até agora, preço dos imóveis aumentou 30% mais do que a inflação
"Bolha" imobiliária pode estourar nos EUA
ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma nova "bolha" pode estar
prestes a estourar na economia
americana. Os preços do mercado
imobiliário do país podem estar
excessivamente sobrevalorizados,
assim como ocorreu com o mercado de ações dos EUA.
De 1995 para cá, o preço que se
paga ao comprar uma casa nos
Estados Unidos aumentou 30%
mais do que a inflação no país.
Estudo do Center for Economic
and Policy Research, de Washington, avalia que essa "valorização
irracional" no preço dos imóveis
gerou aumento, aparentemente
artificial, de US$ 2,6 trilhões no
patrimônio dos proprietários
americanos -ou um acréscimo
de US$ 35 mil em recursos a 73,3
milhões de pessoas.
Esse aumento de riqueza seria
uma explicação para que os indicadores de consumo norte-americanos não tenham caído recentemente, como era esperado, após
as fortes desvalorizações dos preços das ações nas Bolsas.
Se há, realmente, uma "bolha"
no mercado imobiliário do país,
ela é caracterizada pelo fato de as
famílias estarem comprando casas como forma de investimento
-e não apenas para morar.
Esse fato é ilustrado pelo descompasso entre os preços de aluguel e de compra de uma casa.
De acordo com o estudo, nunca
foi verificado, desde o pós-Guerra, um forte descompasso entre as
duas taxas como o que se iniciou
em 1995. Desde então, o preço de
compra de um imóvel começou a
crescer em um ritmo bem mais
acelerado do que o para locação,
sem que houvesse aumento de
demanda ou de renda para justificá-lo. Até 1995, o maior aumento
no consumo e no preço das casas
é associado ao "baby boom"
-explosão demográfica vivida
pelo país no pós-Guerra. O aumento na compra de casas seria
motivado pelo potencial de valorização do imóvel.
Como o proprietário percebe
que seu patrimônio vale cada vez
mais, passa a acreditar que tem
um maior poder de compra. Se
por um lado ele pode achar menos necessário guardar dinheiro
para o futuro, por outro pode se
lançar a novas aquisições.
"É uma situação semelhante ao
que aconteceu com a valorização
do real diante do dólar no começo
do Plano Real", explica Guilherme da Nóbrega, economista-chefe do banco Fibra. "As pessoas tinham a sensação de que o poder
de compra da moeda era forte.
Contraíram dívidas em dólares e,
com a desvalorização, tiveram sérios problemas financeiros."
Seria possível, assim, que o norte-americano comum ou até mesmo os grandes especuladores estejam tomando empréstimos
dando como garantia bens sobrevalorizados e esperando ganhar
dinheiro com futuras vendas.
"No momento em que um
grande comprador não conseguir
honrar um desses empréstimos,
ele pode detonar o fim da "bolha",
se ela existir", diz Nóbrega.
Aqueles que avaliam que não há
uma "bolha" imobiliária nos EUA
afirmam que o motivo para o aumento na compra de imóveis é o
baixo nível dos juros. Desde dezembro, a taxa está em 1,75% ao
ano -a menor desde 1961.
Nos EUA, a compra de imóveis
é feita via hipoteca, com taxas baseadas nos juros. Quem defende a
existência da "bolha" avalia que
os juros baixos apenas potencializam a alta artificial dos preços.
O estudo avalia ainda que a recente queda dos juros se intensificou após 11 de setembro de 2001 e
não explicaria, assim, os sete anos
de disparidade entre os preços para comprar e alugar um imóvel.
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