São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

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VALORIZAÇÃO IRRACIONAL

Estudo revela que, de 1995 até agora, preço dos imóveis aumentou 30% mais do que a inflação

"Bolha" imobiliária pode estourar nos EUA

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma nova "bolha" pode estar prestes a estourar na economia americana. Os preços do mercado imobiliário do país podem estar excessivamente sobrevalorizados, assim como ocorreu com o mercado de ações dos EUA.
De 1995 para cá, o preço que se paga ao comprar uma casa nos Estados Unidos aumentou 30% mais do que a inflação no país.
Estudo do Center for Economic and Policy Research, de Washington, avalia que essa "valorização irracional" no preço dos imóveis gerou aumento, aparentemente artificial, de US$ 2,6 trilhões no patrimônio dos proprietários americanos -ou um acréscimo de US$ 35 mil em recursos a 73,3 milhões de pessoas.
Esse aumento de riqueza seria uma explicação para que os indicadores de consumo norte-americanos não tenham caído recentemente, como era esperado, após as fortes desvalorizações dos preços das ações nas Bolsas.
Se há, realmente, uma "bolha" no mercado imobiliário do país, ela é caracterizada pelo fato de as famílias estarem comprando casas como forma de investimento -e não apenas para morar.
Esse fato é ilustrado pelo descompasso entre os preços de aluguel e de compra de uma casa.
De acordo com o estudo, nunca foi verificado, desde o pós-Guerra, um forte descompasso entre as duas taxas como o que se iniciou em 1995. Desde então, o preço de compra de um imóvel começou a crescer em um ritmo bem mais acelerado do que o para locação, sem que houvesse aumento de demanda ou de renda para justificá-lo. Até 1995, o maior aumento no consumo e no preço das casas é associado ao "baby boom" -explosão demográfica vivida pelo país no pós-Guerra. O aumento na compra de casas seria motivado pelo potencial de valorização do imóvel.
Como o proprietário percebe que seu patrimônio vale cada vez mais, passa a acreditar que tem um maior poder de compra. Se por um lado ele pode achar menos necessário guardar dinheiro para o futuro, por outro pode se lançar a novas aquisições.
"É uma situação semelhante ao que aconteceu com a valorização do real diante do dólar no começo do Plano Real", explica Guilherme da Nóbrega, economista-chefe do banco Fibra. "As pessoas tinham a sensação de que o poder de compra da moeda era forte. Contraíram dívidas em dólares e, com a desvalorização, tiveram sérios problemas financeiros."
Seria possível, assim, que o norte-americano comum ou até mesmo os grandes especuladores estejam tomando empréstimos dando como garantia bens sobrevalorizados e esperando ganhar dinheiro com futuras vendas.
"No momento em que um grande comprador não conseguir honrar um desses empréstimos, ele pode detonar o fim da "bolha", se ela existir", diz Nóbrega.
Aqueles que avaliam que não há uma "bolha" imobiliária nos EUA afirmam que o motivo para o aumento na compra de imóveis é o baixo nível dos juros. Desde dezembro, a taxa está em 1,75% ao ano -a menor desde 1961.
Nos EUA, a compra de imóveis é feita via hipoteca, com taxas baseadas nos juros. Quem defende a existência da "bolha" avalia que os juros baixos apenas potencializam a alta artificial dos preços.
O estudo avalia ainda que a recente queda dos juros se intensificou após 11 de setembro de 2001 e não explicaria, assim, os sete anos de disparidade entre os preços para comprar e alugar um imóvel.


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