São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

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Analistas temem "japanização"

DA REPORTAGEM LOCAL

A possível existência de uma bolha no mercado imobiliário dos EUA preocupa e divide cada vez mais os analistas. O temor cresce quando o comportamento recente da economia norte-americana é comparado ao da japonesa.
O Japão, após um período de crescimento vigoroso, desenvolveu três bolhas na década de 80 -sobrevalorização do preço das ações, da moeda local, o iene, e, por fim, do mercado imobiliário. Como resultado, a economia entrou em um processo de estagnação que já dura mais de dez anos.
A bolha no mercado acionário americano já estourou, o dólar vem perdendo valor. O mercado imobiliário local preocupa.
O tema provoca debates entre analistas na imprensa americana. A cada dia, há argumentos que confirmam ou descartam a bolha.
Aqueles que acreditam na existência da bolha dizem que o descompasso inexplicado entre os preços de compra e venda de imóveis é um argumento definitivo.
Os que defendem que não há sobrevalorização dos preços se agarram nas baixas taxas de juros no país, que facilitariam a aquisição dos imóveis. Esses juros baixos teriam, inclusive, gerado o poder de compra adicional aos norte-americanos -não uma poder de compra adicional irreal. Houve um número recorde de hipotecas renegociadas no país em 2001.
As pessoas trocam financiamentos antigos por novos, a taxa menores. O dinheiro embolsado com a renegociação estaria mantendo o nível de consumo do país.
O presidente do Fed, o BC dos EUA, Alan Greenspan, já afirmou não acreditar na existência da bolha imobiliária. Os críticos lembram que, antes de alertar para a exuberância irracional nas Bolsas, americanas, Greenspan havia descartado a sobrevalorização.
O Livro Bege do Fed tocou no assunto em setembro do ano passado, ao afirmar que a divisão de Chicago havia registrado uma redução na concessão de empréstimos para a compra de imóveis por parte de bancos locais. As negativas eram baseadas na sobrevalorização dos preços.
No mês passado, o relatório apontou comportamento parecido, desta vez, na Filadélfia.
Um outro argumento que pode colocar em xeque a existência da bolha é o fato de que, em algumas regiões do país houve, até mesmo, queda dos preços dos imóveis. O argumento é rebatido pelo fato de a Califórnia, um dos mais ricos Estados do país, concentrar as maiores altas dos preços.
A distorção dos preços levou o Center for Economic and Policy Research a calcular que o fim da bolha implicaria queda entre 11% e 22% na média do preço das casas -ou destruição de entre US$ 1,3 trilhão e US$ 2,6 trilhões da riqueza dos proprietários.


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