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ORTODOXIA LIGHT
Fundo admite discutir com o Brasil critérios de investimentos para empresas públicas que visem o lucro
FMI pode rever regra para estatal "capitalista"
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O FMI (Fundo Monetário Internacional) só admite discutir com
o Brasil mudanças no critério de
investimentos para estatais e empresas públicas que seguem a lógica de mercado e tomam decisões de investimento "baseadas
puramente na lucratividade".
Essa é a resposta do FMI à consulta da Folha sobre a eventual
exclusão de investimentos de empresas estatais e públicas dos cálculos das metas de superávit primário (receitas menos despesas,
exceto gastos com juros).
O Fundo e o governo, embora
neguem publicamente, já conversam sobre um novo acordo. Os
brasileiros querem selar um novo
entendimento com o FMI no qual
investimentos de empresas estatais sejam excluídos dos cálculos
das metas fiscais. O atual programa acaba em novembro.
Velho pleito do governo brasileiro, a mudança permitiria às estatais investir mais sem comprometer as metas de superávit acertadas com a instituição. Hoje, todos os investimentos que empresas do governo fazem são contabilizados como despesa, o que dificulta o esforço fiscal.
À Folha, o FMI demonstrou flexibilidade para negociar o assunto. Mas listou condições que talvez afastem a esmagadora maioria das empresas públicas dessa
janela de oportunidade.
A Petrobras é a única estatal
brasileira que teve, em 2002, os investimentos excluídos da meta de
superávit. O caso da Petrobras será usado pelo governo como precedente nas negociações.
Para o FMI, "a lógica" no caso
da Petrobras é que ela "opera em
bases comerciais e tem decisões
de investimento baseadas puramente na lucratividade".
Segundo a resposta oficialmente dada por técnicos do Fundo à
Folha, os "investimentos [da Petrobras] não reduzem o resultado
líquido do setor público e não devem ser tratados da mesma forma
que outros tipos de despesas".
Se obtiverem a mesma autorização da Petrobras, outras empresas seriam obrigadas a informar
periodicamente dados ao Fundo.
O FMI acompanha, por exemplo, transferências de recursos do
Tesouro, eventuais subsídios e
empréstimos com dinheiro da
União, se ocorrerem.
Na avaliação do Fundo, as estatais têm de ser auto-suficientes e
encontrar por si mesmas meios
de se financiar. O FMI diz não
querer que o governo coloque dinheiro da União em empresas deficitárias, drenando recursos do
Tesouro e comprometendo a capacidade de pagamento do país.
Excluindo a Petrobras, os investimentos das empresas públicas
são considerados despesas. Mesmo que elas comprem equipamentos destinados ao aumento
da produção ou apliquem recursos no desenvolvimento de novas
tecnologias, o dinheiro reduz o
saldo a ser obtido pelo governo no
acordo com o Fundo.
No começo do ano, o governo
aumentou a meta de superávit
primário de 3,75% do PIB (Produto Interno Bruto) para 4,25%, o
que equivale a uma economia da
ordem de R$ 68 bilhões.
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) já afirmou que um
novo acordo com o FMI seria negociado "em novas condições".
Setores estratégicos da economia, como os de infra-estrutura,
energia elétrica e transportes, necessitam de investimentos pesados para não inviabilizar o crescimento se a economia, hoje estagnada, voltar a se expandir.
O presidente da Eletrobrás, Luiz
Pinguelli Rosa, diz que, se o acordo com o FMI mudasse, a holding
elétrica do governo teria mais R$ 1
bilhão para investir neste ano,
além dos R$ 3,5 bilhões já previstos. Segundo ele, a Eletrobrás tem
"todas as condições" de preencher os mesmos requisitos exigidos pelo Fundo à Petrobras.
O ex-presidente da Petrobras
Francisco Gros, disse à Folha que
três características da empresa foram fundamentais para que seus
investimentos deixassem de ser
considerados como gasto público
pelo FMI: 1) ser uma companhia
aberta, com ações negociadas nas
principais Bolsas do mundo; 2)
ter independência em relação ao
Tesouro; e 3) possuir práticas de
governança corporativa comparáveis às das melhores empresas
privadas do país.
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