UOL


São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Velloso vê risco de ingerência política e Giambiagi diz que gestão de outras estatais não é igual à da Petrobras

Mudança ameaça ajuste, dizem analistas

Antônio Gaudério - 27.mar.01/Folha Imagem
Plataforma P-40 da Petrobras; até o final do ano deve sair o resultado da licitação para a construção de duas novas unidades


CLÁUDIA TREVISAN
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A extensão a outras estatais do mesmo critério de contabilização de investimentos adotado pelo FMI em relação à Petrobras embute o risco de descontrole fiscal, sustentam os especialistas em contas públicas Raul Velloso e Fabio Giambiagi, que são contrários à generalização da medida.
Velloso vai mais longe e vê na alteração a ameaça de aumento da ingerência política nas decisões das estatais, que poderia levar a opções incompatíveis com a lógica empresarial. "O problema é que o eventual prejuízo decorrente de investimentos equivocados teria de ser coberto pelo Tesouro, já que não há mecanismos eficientes de responsabilização dos gestores nem a possibilidade de falência de empresas estatais."
Na prática, a contabilização dos investimentos das estatais como despesa pública acaba funcionando como um mecanismo de controle fiscal, que inibe a elevação dos gastos. A mudança, afirma Velloso, abriria uma brecha, pela qual o governo poderia usar recursos das empresas para fins políticos ou eleitoreiros.
O único caminho que ele vê para a generalização do critério adotado para a Petrobras é a possibilidade de falência das estatais e a adoção de regras rigorosas para responsabilização de seus gestores. "Sem instrumentos de controle, não dá para deixar de considerar os investimentos como despesas no cálculo do resultado primário", ressalta Velloso.
Na opinião do especialista, o FMI jamais concordaria com uma regra generalizada, que beneficiasse os investimentos de todas as estatais. Para ele, o caso da Petrobras foi uma exceção, que poderá ser aberta novamente em casos muito especiais.
Ainda que a mudança fosse viável, Velloso não acredita que haveria estatais em condições de realizar investimentos nas mesmas condições que a Petrobras. "Não consigo ver quais seriam. A Petrobras é quase um filho único", ressalta o economista.
Para Giambiagi, mesmo a Eletrobrás dificilmente poderia usufruir dos mesmos critérios de contabilização de investimentos concedido pelo Fundo à estatal do petróleo. "Historicamente, a Eletrobrás não tem o mesmo tipo de gestão, de desempenho e de aferição de informações econômico-financeiras pelo público que a Petrobras", diz o economista.
Segundo Giambiagi, a flexibilização das normas do Fundo para a Petrobras tinha uma lógica própria, que era "não tolher as decisões de investimento de uma empresa com gestão empresarial".
Velloso acrescenta que a influência política nas decisões de investimentos pode ser ainda maior em estatais controladas pelos Estados e municípios, onde os mecanismos de controle de gasto público nem sempre são eficazes.
Nas discussões sobre a metodologia de cálculo do resultado primário, integrantes do governo passado chegaram a defender a exclusão total das estatais da conta, não apenas de seus investimentos. Nesse modelo, haveria um resultado do poder público e outro, separado, das estatais.
A idéia não prosperou porque as empresas têm receitas expressivas e um peso importante na obtenção de superávit pelo governo. Pelos cálculos de Giambiagi, as estatais são responsáveis hoje por 0,7% do PIB do superávit obtido.



Texto Anterior: Ortodoxia Light: FMI pode rever regra para estatal "capitalista"
Próximo Texto: Frases
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.