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ENERGIA
Empresários pedem regras mais claras para investir em geração; governo deve divulgar projeto revisado em dois meses
Modelo do setor elétrico terá nova versão
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mesmo com a divulgação das linhas gerais do novo modelo do
setor elétrico, há 20 dias, empresários têm dito que ainda precisam de regras mais claras para investir em aumento de geração e
que as obras que garantiriam
maior oferta estão paradas. O governo espera divulgar nova versão do modelo em dois meses.
Pela avaliação dos empresários,
feita pela Abdib (Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base), dos 7.948 MW (megawatts) que deveriam vir de usinas hidrelétricas licitadas pela
Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) entre 2000 e 2002, só
519 MW (6,5%) estão com obras
em andamento. As demais têm
problemas ambientais -falta de
licença para iniciar as obras- ou
não têm financiamento.
"Está tudo absolutamente paralisado", afirma José Augusto Marques, presidente da Abdib, entidade que reúne cerca de 150 grupos empresariais, responsáveis
por 10% do PIB em 2002. Na avaliação da entidade, em 2003 haverá mais 4.000 MW no sistema.
Para Marques, o principal problema é que os empresários que
compraram concessões para
construir usinas em 2000, 2001 e
2002 não sabem sob quais regras
vão produzir. "O novo modelo
em si não existe, existe uma base
conceitual", afirma. Ele calcula
que, se o país crescesse 1% neste
ano e 3% ao ano até 2006, poderia
faltar energia em 2007.
Desespero
O governo diz que o problema
não é de risco de falta de energia,
mas de "desespero" da indústria
por falta de encomendas e avalia
que qualquer possibilidade de falta de energia está "bem além de
2007". De qualquer forma, o Ministério de Minas e Energia tem
feito reuniões mensais com os 13
maiores investidores privados em
energia e deverá soltar nova versão do modelo em até dois meses.
O governo reconhece o problema e promete regras de transição
para quem já havia comprado
concessões antes das modificações que serão feitas no modelo.
Esses empreendimentos terão
prioridade para entrar no chamado "pool", por meio da criação de
uma empresa para centralizar os
contratos entre geradoras e distribuidoras de energia. Dessa forma,
terão contratos de venda de energia garantido.
A solução, no entanto, não irá
resolver todo o problema. O governo irá impor um teto ao preço
da energia comercializada por esses empreendedores no "pool".
Além disso, não deve haver mercado para a oferta, uma vez que a
sobra de energia em 2004 deve ser
ainda maior que a deste ano, estimada pelo governo em aproximadamente 6.000 MW médios.
Os números da Abdib não batem com os da Aneel. A agência
monitora o andamento das obras
e prevê que em 2003 deverão ser
gerados 5.647 MW adicionais. Isso corresponde a 45% dos 13.281
MW que deveriam entrar em geração neste ano. O resto tem pequenos atrasos (2.202 MW) ou
não deve entrar (5.431 MW).
De 2004 a 2007 poderiam entrar
no sistema mais 25.508 MW. No
entanto, 4.599 MW desse total
têm atrasos nas obras, que podem
comprometer sua geração.
Outros 14.134 MW têm atrasos
moderados, mas devem entrar
em funcionamento. No total, há
problemas de atraso em obras
com previsão de gerar 18.733
MW, ou 73% do total previsto entre 2004 e 2007.
Programa prioritário
Um indicativo da falta de interesse do mercado é o resultado final do PPT (Programa Prioritário
de Termeletricidade). Lançado
em 1999, o programa chegou a
prever cerca de 11.000 MW instalados até o final deste ano, em
mais de 40 usinas.
O programa nunca decolou
porque os empresários tinham
que pagar pelo gás natural (combustível para geração de energia)
em dólar e vender a energia em
reais. Com o "risco cambial"
-possibilidade de desvalorização do real -, os investidores não
conseguiam financiamento. O
PPT era uma tentativa de evitar o
racionamento, mas falhou.
Os números mais atuais do Ministério de Minas e Energia indicam que há 12 usinas do PPT em
operação, com possibilidade de
gerar 3.330 MW. Outras três estão
em fase de construção. No total, a
quantidade de energia poderia
chegar a 8.060 MW.
Das outras 17 usinas do programa, 13 (5.095 MW) ainda não começaram as obras e quatro (1.087
MW) desistiram. Como o programa estabelece que as usinas têm
até dezembro de 2004 para entrar
em operação para ter direito à garantia de suprimento de gás natural, é provável que 6.182 MW
-ou seja, 43% da energia que o
programa deveria gerar não deve
sair do papel.
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