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FUSÃO NO AR
Operadoras estão apreensivas com possibilidade de redução de descontos; CVC cogita criar empresa aérea própria
Agências de turismo temem Varig/TAM
DA REPORTAGEM LOCAL
Operadoras e agências de turismo estão apreensivas com o resultado que a possível fusão da
Varig com a TAM terá nos seus
negócios. A nova companhia possuirá nas mãos cerca de 65% do
mercado de passagens domésticas do país. O que lhe dará poder,
se quiser, para reduzir os descontos concedidos atualmente para
as companhias de turismo.
A operadora de turismo CVC,
por exemplo, estuda até mesmo
criar uma companhia aérea para
manter sua lucratividade, caso
identifique perda de rentabilidade nos negócios que passarem a
ser efetuados após a fusão.
Os descontos das companhias
aéreas para as operadoras e agências de turismo chegam a 70% dos
preços oficiais das passagens nos
vôos mais vazios. No entanto, todas as companhias aéreas (com
exceção da Gol) estão reduzindo o
número de vôos nos últimos meses para garantir maior ocupação
e rentabilidade das viagens.
A Varig, por exemplo, reduziu
em 33,1% a oferta de assentos nos
últimos 12 meses, e a TAM em
26,9%, segundo dados do DAC
(Departamento de Aviação Civil).
Mas a redução de assentos ocupados, devido à estagnação da economia, foi menor: 31,4% e 18,6%,
respectivamente.
Ou seja, as duas companhias aéreas estão faturando mais nos últimos meses, ao mesmo tempo
em que reduziram os vôos e aumentaram a ocupação dos aviões.
"Somos contra a fusão, pois ela
resultará em uma empresa gigantesca, que nos dará menos flexibilidade de negociação dos preços",
afirma Tasso Gadzanis, presidente da Abav (Associação Brasileira
de Agências de Viagens).
Segundo o executivo, "a lei do
mais forte vai prevalecer após a
fusão, e o poder de barganha das
agências será reduzido". Para
Gadzanis, os órgãos de defesa da
concorrência devem agir para evitar a concentração de poder.
Rodolpho Gerstner, vice-presidente da Braztoa (Associação
Brasileira das Operadoras de Turismo), diz que o governo deveria
obrigar a Varig e a TAM a fecharem suas operadoras de turismo
-a Varig Travel e a TAM Viagens. "Não temos provas, mas
presumimos que as duas companhias privilegiam suas operadoras, dando maiores descontos do
que aqueles oferecidos para outras empresas", diz Gerstner, que
afirma não ser contra a fusão. "É
importante que o país tenha empresas aéreas saudáveis."
Existe uma grande apreensão
entre as agências e as operadoras
sobre o futuro dos seus negócios.
As comissões sobre as vendas de
passagens aéreas é hoje de 7% para os vôos domésticos e 6% para
os internacionais. Os percentuais
já foram de 10% e 9%, respectivamente. Nos EUA, até eliminaram
essas comissões fixas. "Lá, as comissões dependem do volume de
vendas de passagens", afirma
Gadzanis, da Abav.
É de olho no futuro das relações
com a "nova Varig" que a CVC,
uma das maiores operadoras de
turismo do país, se prepara para
um plano B. Caso a companhia
aérea resultante da fusão da Varig
com a TAM jogue pesado e diminua os descontos nas vendas de
passagens, a CVC criará sua própria companhia aérea.
A operadora afirma que tem
condições financeiras para alugar
cinco Boeings e passar a fazer boa
parte das viagens de seus clientes
por conta própria. Seriam vôos
charter e não teriam a frequência
de viagens comerciais. O que facilitaria a autorização pelo DAC.
A Agaxtur e a Queensberry não
têm a ambição de criar suas próprias companhias aéreas. Aldo
Leoni, presidente da Agaxtur,
afirma, no entanto, que terá de
aprender a lidar com a "potência
da aviação que surgir da fusão" e
que pode ser prejudicado pela redução da concorrência. "Mas a
fusão é necessária", diz Leoni.
Para Richard Martin Jensen,
presidente da Queensberry, a
companhia resultante da fusão
precisaria ter maior responsabilidade ao negociar com as operadoras. "A concentração de mercado que ela passaria a ter exigiria
esse tipo de responsabilidade."
Cade
O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão
máximo de defesa da concorrência, afirma que tem noção de que
problemas podem surgir com a
fusão. João Grandino, presidente
da entidade, afirma, porém, que a
responsabilidade de evitar esses
problemas é das próprias operadoras e agências de turismo.
"Elas precisam entrar com representações no Cade para defender seus interesses", disse. "O
conselho não tem vara de condão
para saber exatamente os problemas que a fusão pode acarretar."
Grandino diz que na fusão da
Brahma com a Antarctica, em 99,
que resultou na AmBev, os distribuidores das bebidas das empresas não souberam defender seus
interesses e foram prejudicados.
(LÁSZLÓ VARGA)
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