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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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FUSÃO NO AR

Operadoras estão apreensivas com possibilidade de redução de descontos; CVC cogita criar empresa aérea própria

Agências de turismo temem Varig/TAM

DA REPORTAGEM LOCAL

Operadoras e agências de turismo estão apreensivas com o resultado que a possível fusão da Varig com a TAM terá nos seus negócios. A nova companhia possuirá nas mãos cerca de 65% do mercado de passagens domésticas do país. O que lhe dará poder, se quiser, para reduzir os descontos concedidos atualmente para as companhias de turismo.
A operadora de turismo CVC, por exemplo, estuda até mesmo criar uma companhia aérea para manter sua lucratividade, caso identifique perda de rentabilidade nos negócios que passarem a ser efetuados após a fusão.
Os descontos das companhias aéreas para as operadoras e agências de turismo chegam a 70% dos preços oficiais das passagens nos vôos mais vazios. No entanto, todas as companhias aéreas (com exceção da Gol) estão reduzindo o número de vôos nos últimos meses para garantir maior ocupação e rentabilidade das viagens.
A Varig, por exemplo, reduziu em 33,1% a oferta de assentos nos últimos 12 meses, e a TAM em 26,9%, segundo dados do DAC (Departamento de Aviação Civil). Mas a redução de assentos ocupados, devido à estagnação da economia, foi menor: 31,4% e 18,6%, respectivamente.
Ou seja, as duas companhias aéreas estão faturando mais nos últimos meses, ao mesmo tempo em que reduziram os vôos e aumentaram a ocupação dos aviões.
"Somos contra a fusão, pois ela resultará em uma empresa gigantesca, que nos dará menos flexibilidade de negociação dos preços", afirma Tasso Gadzanis, presidente da Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens).
Segundo o executivo, "a lei do mais forte vai prevalecer após a fusão, e o poder de barganha das agências será reduzido". Para Gadzanis, os órgãos de defesa da concorrência devem agir para evitar a concentração de poder.
Rodolpho Gerstner, vice-presidente da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), diz que o governo deveria obrigar a Varig e a TAM a fecharem suas operadoras de turismo -a Varig Travel e a TAM Viagens. "Não temos provas, mas presumimos que as duas companhias privilegiam suas operadoras, dando maiores descontos do que aqueles oferecidos para outras empresas", diz Gerstner, que afirma não ser contra a fusão. "É importante que o país tenha empresas aéreas saudáveis."
Existe uma grande apreensão entre as agências e as operadoras sobre o futuro dos seus negócios. As comissões sobre as vendas de passagens aéreas é hoje de 7% para os vôos domésticos e 6% para os internacionais. Os percentuais já foram de 10% e 9%, respectivamente. Nos EUA, até eliminaram essas comissões fixas. "Lá, as comissões dependem do volume de vendas de passagens", afirma Gadzanis, da Abav.
É de olho no futuro das relações com a "nova Varig" que a CVC, uma das maiores operadoras de turismo do país, se prepara para um plano B. Caso a companhia aérea resultante da fusão da Varig com a TAM jogue pesado e diminua os descontos nas vendas de passagens, a CVC criará sua própria companhia aérea.
A operadora afirma que tem condições financeiras para alugar cinco Boeings e passar a fazer boa parte das viagens de seus clientes por conta própria. Seriam vôos charter e não teriam a frequência de viagens comerciais. O que facilitaria a autorização pelo DAC.
A Agaxtur e a Queensberry não têm a ambição de criar suas próprias companhias aéreas. Aldo Leoni, presidente da Agaxtur, afirma, no entanto, que terá de aprender a lidar com a "potência da aviação que surgir da fusão" e que pode ser prejudicado pela redução da concorrência. "Mas a fusão é necessária", diz Leoni.
Para Richard Martin Jensen, presidente da Queensberry, a companhia resultante da fusão precisaria ter maior responsabilidade ao negociar com as operadoras. "A concentração de mercado que ela passaria a ter exigiria esse tipo de responsabilidade."

Cade
O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão máximo de defesa da concorrência, afirma que tem noção de que problemas podem surgir com a fusão. João Grandino, presidente da entidade, afirma, porém, que a responsabilidade de evitar esses problemas é das próprias operadoras e agências de turismo.
"Elas precisam entrar com representações no Cade para defender seus interesses", disse. "O conselho não tem vara de condão para saber exatamente os problemas que a fusão pode acarretar."
Grandino diz que na fusão da Brahma com a Antarctica, em 99, que resultou na AmBev, os distribuidores das bebidas das empresas não souberam defender seus interesses e foram prejudicados. (LÁSZLÓ VARGA)


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