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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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COMBUSTÍVEL

Distribuidoras tradicionais do produto enfrentam concorrência da Air BP, que passou a atuar no país em 2002

Estrangeira causa "guerra" do querosene

LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado de querosene de aviação está em ebulição. A chegada ao Brasil da distribuidora inglesa Air BP, do grupo British Petroleum, está mexendo com um setor dominado antes apenas por três empresas -a BR Distribuidora, a Shell e a Esso. O combustível é um dos principais insumos das companhias aéreas, e o início das operações da Air BP por aqui reduziu em cerca de 30% o valor do querosene em alguns aeroportos, conforme a Folha apurou.
O litro do querosene no Campo de Marte (localizado em São Paulo e usado por empresas de táxi aéreo) chega a ser vendido por R$ 1,65. Cada centavo na comercialização é disputado pela BR Distribuidora, pela Shell e pela Air BP. No aeroporto de Congonhas, onde só a BR e a Shell atuam, o valor mais baixo do combustível, à vista, é bem maior: R$ 2,22.
"Antes do aumento da concorrência o mercado praticava basicamente um preço só. Agora existe uma guerra de preços por aqui", afirma Márcio Melo, piloto da GS Táxi Aéreo, que atua no Campo de Marte.
O Brasil consome cerca de 350 milhões de litros de querosene de aviação por mês. Em um momento em que as companhias aéreas procuram a todo custo sobreviver, a redução dos preços dos combustíveis pode ser um fator importante. O querosene é responsável por cerca de 20% das despesas de um vôo.

Infraero
A Air BP, empresa que comercializa 32 bilhões de litros por ano de combustíveis e lubrificantes para a aviação, afirma que não pratica dumping contra seus concorrentes. A companhia, que iniciou suas atividades no Brasil em setembro de 2002, diz que veio para conquistar as contas das grandes companhias aéreas no Brasil, como a Varig, a United Airlines e a British Airways, dentro de um projeto mundial.
"Hoje só trabalhamos no país com empresas de táxi aéreo e jatos de executivos. Não deu tempo para fecharmos contrato com empresas como a Varig", afirma Adriano Bussab, diretor financeiro da companhia.
No dia 1º de agosto, empresas como a BR Distribuidora reajustaram o preço de seu querosene de aviação em 2% para empresas como a Varig e a Gol. Foi um repasse do reajuste de 2,9% realizado pela Petrobras, responsável pelo refino do combustível. A Air BP, no entanto, não remarcou o preço de seu produto.
"As outras distribuidoras dependem do refino da Petrobras. Nossa companhia tem custos diferentes, pois importamos o combustível da Inglaterra e da Argentina", afirma Bussab.
Wagner Biasoli, vice-presidente para aviação da Shell para a América Latina e Caribe, afirma que a entrada da nova concorrente mexeu com o mercado.
"A Air BP trabalha de maneira desleal. Não investiu em instalações de infra-estrutura nos aeroportos. Trabalha a distribuição do querosene com o uso de caminhões-tanque", diz Biasoli. Ele afirma que a Shell tem praticado preços que não cobrem todos os custos da companhia para enfrentar o novo concorrente.
A BR Distribuidora diz que a diferença de preços cobrados no Campo de Marte e em Congonhas se deve ao fato de que, em Congonhas, a empresa atende grandes companhias aéreas e precisa fazer investimentos para atendê-las. Segundo a empresa, dependendo do cliente, o litro do querosene da BR em Congonhas pode ser vendido por R$ 1,89, abaixo dos R$ 2,22 oficiais.
Os descontos são comuns no setor de querosene de aviação. Eles geralmente são maiores se o volume comprado pelas companhias aéreas ou pelas empresas de táxi aéreo também for elevado.
A Air BP afirma que, para poder fechar contratos com as grandes companhias aéreas no Brasil, precisa estar presente em grandes aeroportos. Já solicitou à Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária) autorização para atuar em 40 aeroportos da estatal. Recebeu autorização apenas para os de Foz do Iguaçu (PR), Cuiabá (MT), Uberlândia (MG), Campo de Marte e Jacarepaguá (RJ).
"Chegamos a operar durante três meses em Congonhas, em 2002, mas a Infraero suspendeu a autorização", diz Bussab. Ele afirma que opera momentaneamente apenas com caminhões-tanque, mas já iniciou a construção de instalações em aeroportos como o Campo de Marte.
A Infraero afirma que estuda os outros pedidos da distribuidora inglesa, mas precisa levar em conta a capacidade dos aeroportos de receber uma nova empresa de combustível.

Combustíveis em geral
Segundo o Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes), a importação de combustíveis em geral representou apenas cerca de 1% do total de 77,5 bilhões de litros consumidos no país em 2002.
"Ela tem ficado bem abaixo do que se esperava na época da liberação da importação, em 1999", afirma Guido Silveira Filho, diretor jurídico da entidade. Ele diz que a falta de estabilidade no câmbio impede o aumento das compras externas.



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