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RECEITA ORTODOXA
Copom ignora vontade de Lula de corte mais agressivo e reduz juros em 0,75 ponto percentual, para 17,25%
BC rechaça pressão e mantém gradualismo
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central manteve o
conservadorismo e reduziu os juros básicos da economia em 0,75
ponto percentual. A decisão, unânime, foi tomada ontem pelo Copom (Comitê de Política Monetária do BC), que fixou a taxa Selic
em 17,25% ao ano, mesmo índice
de dezembro de 2004.
A medida era esperada pelo
mercado, mas contraria o interesse do governo. O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva defendia uma
redução de um ponto, para dar
mais estímulo à economia.
A intensidade da pressão sob o
BC nos últimos dias pode ser medida pelo tempo de duração da
reunião de ontem do Copom: o
encontro, que normalmente leva
pouco mais de duas horas para se
encerrar, durou quase cinco.
O BC não deu explicações para a
decisão. Em nota divulgada logo
após o encontro, foi informado
apenas que estava "dando prosseguimento ao processo de ajuste
da taxa de juros básica" e que irá
"acompanhar atentamente a evolução do cenário prospectivo para
a inflação até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na estratégia de política monetária".
O corte de 0,75 ponto percentual foi unânime -no mês passado, dois diretores do BC haviam
votado pela maior rapidez no
processo de redução dos juros.
Desde o final de 2005, o BC tem
promovido cortes graduais na taxa Selic. Em setembro, a redução
foi de 0,25 ponto. Entre outubro e
dezembro, 0,5 ponto por mês.
Sob essa perspectiva, a queda de
0,75 ponto poderia ser entendida
como uma decisão mais agressiva
do BC. Porém, a mudança do calendário das reuniões do Copom
dilui esse efeito: a partir deste ano,
os encontros do comitê deixarão
de ser mensais e passarão a ser
realizadas a cada seis semanas.
Dessa forma, um corte mensal
de 0,5 ponto acaba equivalendo a
uma redução de 0,75 ponto a cada
seis semanas. O Copom só volta a
se reunir em 7 e 8 de março.
Na cúpula do governo, havia a
esperança de que o BC cortasse a
Selic em um ponto percentual para estimular o crescimento da
economia em ano de eleições.
Mais uma vez, porém, o Copom
optou pela via conservadora.
Não é de hoje que o BC é pressionado a acelerar o ritmo de redução dos juros, mas, a cada reunião do Copom, surgem novos sinais de que a economia não está
crescendo como se esperava, aumentando a expectativa sobre o
rumo da taxa Selic.
A queda do PIB (Produto Interno Bruto) entre o segundo e o terceiro trimestres de 2005, a redução do risco-país, o recuo do dólar, o forte aperto fiscal promovido pelo governo, tudo isso tem
servido de argumento entre aqueles que defendem uma mudança
no rumo da taxa de juros.
Na semana passada, o bombardeio sobre o BC foi ainda mais intenso. Do lado da economia, números decepcionantes referentes
ao comportamento da indústria
aumentaram as dúvidas em relação à força da retomada. E, de
dentro do próprio governo, novas
críticas: dessa vez do secretário do
Tesouro Nacional, Joaquim Levy.
De acordo com dados divulgados pelo IBGE, a produção industrial cresceu 0,6% entre outubro e
novembro -esperava-se que a
expansão ficasse entre 1% e 1,5%.
O próprio ministro Paulo Bernardo (Planejamento) chegou a dizer
que "achava que ia dar um pouco
mais".
Depois de divulgado esse dado,
muitos analistas reduziram suas
estimativas para o crescimento
previsto para 2005, que agora estão mais próximas de 2%. Em
2004, o país cresceu 4,9%, e os números oficiais do ano passado devem ser conhecidos no mês que
vem.
O secretário do Tesouro, por
sua vez, reclamou que as análises
feitas por analistas de mercado
em relação ao futuro dos juros
não refletem a melhora pela qual a
economia brasileira tem passado
-e insinuou que o BC tem sido
conivente com a situação.
Levy, um dos principais assessores do ministro Antonio Palocci
(Fazenda), disse que o BC "está
confortável" com as elevadas projeções para os juros feitas pelo
mercado, já que não se esforça em
apontar essas distorções.
Em média, analistas do setor
privado apostam que a taxa Selic
vá encerrar 2006 em 15% ao ano.
Confirmada a previsão, os juros
reais -já descontada a inflação- continuariam perto de 11%
ao ano, nível que Levy classificou
de "colossal".
No mesmo dia das declarações
de Levy, Palocci divulgou uma
nota em que afirma que "desautoriza e desaconselha quaisquer
manifestações públicas de membros de sua equipe sobre temas
fora da competência funcional
dos órgãos que dirigem".
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