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LUÍS NASSIF
A troca de guarda no cinema
Um dos pontos centrais na
discussão sobre os novos
modelos de difusão -o pano
de fundo em que entra, também, a questão da TV digital-
é o desenvolvimento da indústria do audiovisual no país.
Na recente polêmica sobre as
verbas da cultura -em que se
envolveram Ferreira Gullar e
Caetano Veloso e, depois, os cineastas tradicionais-, passou
despercebido um ponto fundamental: está ocorrendo uma
troca de guarda no cinema. A
discussão ocorrida parece ter
sido o último vagido de uma
geração que está sendo superada pelos novos ventos.
Hoje em dia, há dois grupos
bem definidos de cineastas brasileiros. Há a nova geração, que
surge no rastro da diversificação e da modernização da economia e trabalha a economia
do audiovisual. São pequenas
ou médias empresas que atuam
no mercado, que fazem filmes,
mas, nos intervalos, produzem
clips e comerciais, sabem tratar
com fundos de investimento
nacionais e internacionais e
entendem a nova economia do
cinema.
É a geração de Fernando
Meirelles, Walter Salles, da empresa Conspiração (de Andrucha Waddington e outros). Esses produtores conseguem levantar recursos com fundos de
capital de risco, tanto aqui como no exterior. Desde o início,
pensam o filme como um projeto integrado. Hoje em dia, 50%
do faturamento de um filme já
vem da venda de DVDs. Há filmes que conseguem faturamento maior com a trilha sonora do que com a própria bilheteria. Se a legislação obrigasse as redes abertas e as pagas a adquirir parte da produção regionalmente ou de produtores independentes, esse
mercado se ampliaria sensivelmente. Há pelo menos cinco
mercados estaduais, com condições econômicas de emissoras
afiliadas gerarem produção local -Bahia, Pernambuco, Brasília, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
A relação com os fundos de
investimento exige total profissionalismo por parte dessas
produtoras. Esses fundos exigem estudo de viabilidade, colocam um produtor associado,
incumbido de acompanhar a
aplicação do dinheiro, analisam o retrospecto do diretor ou
da produtora.
Na outra ponta, há a velha
guarda, pessoal que sempre
contou com apoio oficial e, por
isso mesmo, descuidou-se de
aprender os novos modelos de
negócios -pessoas respeitáveis, mas desatualizadas, como
Luiz Carlos Barreto, Zelito
Vianna, Daniel Filho, que só
fazem cinema e, em seus filmes,
exploram uma única forma de
faturamento, além de verbas
oficiais: os ingressos.
Há claramente uma troca de
guarda na área, que passou a
ficar mais explícita nesse bate-boca das últimas semanas. A
velha guarda não tem diálogo
com o capital de risco, porque
não conhece a sua língua. Por
isso ficou excessivamente dependente de verbas oficiais, de
patrocínios oficiais e de incentivos fiscais.
O modelo adequado de desenvolvimento da indústria do
audiovisual está no fortalecimento das produtoras, como
centros de negócio e de crescimento sustentado. Ou seja, um
choque de capitalismo para o
setor. É curioso que, antenado
com a contemporaneidade,
Caetano Veloso não tenha se
dado conta desse novo quadro.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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