São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

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INTEGRAÇÃO

Em encontro com Kirchner, presidente diz que o Brasil deve auxiliar na "reindustrialização" do país vizinho

Lula quer menos "desequilíbrio" com Argentina

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Néstor Kirchner, concordaram ontem em Brasília que as "assimetrias" do Mercosul precisam ser levadas em conta nas negociações e estabeleceram cronograma de encontros a cada seis meses.
Apesar de desavenças anteriores, os dois trocaram elogios ontem, mas, em seu discurso, Kirchner não perdeu a oportunidade de deixar claro o que veio buscar: regras para controlar as exportações brasileiras para seu país.
"Temos que conseguir avanços para institucionalizar mecanismos que impeçam que desequilíbrios comerciais transitórios prejudiquem um setor produtivo." Ele se referia à CAC (Cláusula de Adaptação Competitiva) que os argentinos querem adotar no Mercosul para proteger sua indústria e que enfrenta forte oposição da indústria brasileira. O argumento repetido por Kirchner é o de que a integração "não pode beneficiar apenas um país".
Já Lula reforçou a disposição do Brasil de concordar com o mecanismo. "Temos consciência de que precisamos trabalhar para que nossas relações econômicas sejam sempre mutuamente benéficas. Desequilíbrios ocasionais em uma relação tão intensa são normais, mas não é do interesse do Brasil nem da Argentina que essas assimetrias se tornem estruturais", disse Lula, lendo discurso.
As assimetrias que os dois concordam em contemplar são basicamente de negócios: o saldo comercial a favor dos brasileiros dobrou de 2004 para 2005.
As relações entre os dois países nunca foram realmente boas desde que Kirchner e Lula assumiram, há cerca de três anos. Há menos de um ano, em maio de 2005, a imprensa argentina chegou a publicar uma frase atribuída a seu presidente, incomodado com o projeto do Brasil de liderar na América do Sul: "Se há um lugar na OMC, o Brasil o quer; se há um lugar na ONU, o Brasil o quer; se há um lugar na FAO, o Brasil o quer. Até quiseram fazer o papa".
Ontem, os dois presidentes fizeram um discurso bem diferente, sem nenhuma alfinetada -apenas pedidos dos argentinos por mudanças no Mercosul, bem aceitos pelos brasileiros.
"Não basta assinar acordos, é preciso garantir que eles sejam postos em prática. Por essa razão, decidimos estabelecer um mecanismo regular de encontros semestrais entre os presidentes", disse Lula. Mais adiante, ele concordou com os pedidos do vizinho: "Reiterei ao presidente Kirchner a disposição brasileira de colaborar na identificação de medidas que ajudem a acelerar a reindustrialização já em curso na Argentina. Estamos abertos a propostas para aperfeiçoar os acordos setoriais que temos em áreas prioritárias, como a automobilística".
A viagem, em que Kirchner esteve nos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), foi a primeira visita de Estado do presidente argentino ao seu vizinho.


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