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INTEGRAÇÃO
Em encontro com Kirchner, presidente diz que o Brasil deve auxiliar na "reindustrialização" do país vizinho
Lula quer menos "desequilíbrio" com Argentina
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os presidentes do Brasil, Luiz
Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Néstor Kirchner, concordaram ontem em Brasília que as "assimetrias" do Mercosul precisam
ser levadas em conta nas negociações e estabeleceram cronograma
de encontros a cada seis meses.
Apesar de desavenças anteriores, os dois trocaram elogios ontem, mas, em seu discurso, Kirchner não perdeu a oportunidade de
deixar claro o que veio buscar: regras para controlar as exportações brasileiras para seu país.
"Temos que conseguir avanços
para institucionalizar mecanismos que impeçam que desequilíbrios comerciais transitórios prejudiquem um setor produtivo."
Ele se referia à CAC (Cláusula de
Adaptação Competitiva) que os
argentinos querem adotar no
Mercosul para proteger sua indústria e que enfrenta forte oposição da indústria brasileira. O argumento repetido por Kirchner é
o de que a integração "não pode
beneficiar apenas um país".
Já Lula reforçou a disposição do
Brasil de concordar com o mecanismo. "Temos consciência de
que precisamos trabalhar para
que nossas relações econômicas
sejam sempre mutuamente benéficas. Desequilíbrios ocasionais
em uma relação tão intensa são
normais, mas não é do interesse
do Brasil nem da Argentina que
essas assimetrias se tornem estruturais", disse Lula, lendo discurso.
As assimetrias que os dois concordam em contemplar são basicamente de negócios: o saldo comercial a favor dos brasileiros dobrou de 2004 para 2005.
As relações entre os dois países
nunca foram realmente boas desde que Kirchner e Lula assumiram, há cerca de três anos. Há menos de um ano, em maio de 2005,
a imprensa argentina chegou a
publicar uma frase atribuída a seu
presidente, incomodado com o
projeto do Brasil de liderar na
América do Sul: "Se há um lugar
na OMC, o Brasil o quer; se há um
lugar na ONU, o Brasil o quer; se
há um lugar na FAO, o Brasil o
quer. Até quiseram fazer o papa".
Ontem, os dois presidentes fizeram um discurso bem diferente,
sem nenhuma alfinetada -apenas pedidos dos argentinos por
mudanças no Mercosul, bem
aceitos pelos brasileiros.
"Não basta assinar acordos, é
preciso garantir que eles sejam
postos em prática. Por essa razão,
decidimos estabelecer um mecanismo regular de encontros semestrais entre os presidentes",
disse Lula. Mais adiante, ele concordou com os pedidos do vizinho: "Reiterei ao presidente
Kirchner a disposição brasileira
de colaborar na identificação de
medidas que ajudem a acelerar a
reindustrialização já em curso na
Argentina. Estamos abertos a
propostas para aperfeiçoar os
acordos setoriais que temos em
áreas prioritárias, como a automobilística".
A viagem, em que Kirchner esteve nos três Poderes (Executivo,
Legislativo e Judiciário), foi a primeira visita de Estado do presidente argentino ao seu vizinho.
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