São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

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COMUNICAÇÕES

Emissoras defendem escolha de tecnologia asiática; ministro diz que outros sistemas ainda não foram descartados

TVs pressionam por padrão digital japonês

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os representantes das emissoras de televisão encaminharam ontem à ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) documento no qual detalham as características técnicas do modelo de televisão digital que julgam mais adequado para o Brasil. Se a decisão do governo considerasse somente essas características, o modelo japonês seria o escolhido.
O ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB-MG), que participou da reunião, disse que o governo brasileiro continua aberto aos três modelos de televisão digital: americano (ATSC), europeu (DVB) e japonês (ISDB). Segundo ele, a escolha será feita até a primeira quinzena de fevereiro.
Questionado por jornalistas se o governo não estaria retrocedendo, uma vez que o padrão norte-americano já havia sido dado como descartado, o ministro negou. "A declaração de descartar A ou B não foi feita pelo governo brasileiro, foi apenas durante uma reunião ontem [terça-feira] com os técnicos da CPqD [Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento]. Nós vamos considerar sempre os três modelos até tomarmos uma decisão, até porque estamos em um processo de negociação direta com os japoneses, os europeus e os americanos."
"Se nós decidirmos o que está descartado e o que não está, prejudica as negociações", afirmou o ministro. A escolha do padrão de televisão digital envolverá a negociação de contrapartidas comerciais e políticas com Estados Unidos, Japão e países europeus. Na semana que vem, representantes do padrão norte-americano farão demonstrações do seu modelo de TV digital em Brasília.
O ministro evitou afirmar que as redes de televisão sugeriram o japonês, mas confirmou que esse padrão é o que melhor se enquadra nas características pedidas pelas emissoras. "Se você perguntar a um técnico, um engenheiro, e eu não sou engenheiro, é possível que ele lhe diga que o padrão japonês, neste momento, atende a todas essas especificidades."
"Nada impede que os europeus, amanhã, digam para nós que podem também preencher essas lacunas, e até os americanos", afirmou. "Só que, da maneira que estamos vendo a televisão digital aberta, lamentavelmente, neste momento, existem limitações para alguns sistemas", disse Costa.
O modelo americano privilegia a TV de alta definição, o japonês permite alta definição e também transmissão para receptores em movimento e o europeu privilegia a múltipla programação. Os três modelos de televisão digital permitem a interatividade.

Características
Segundo Costa, o modelo escolhido pelo Brasil deverá ter as seguintes características: ser uma televisão aberta, que comporte alta definição e também definição "standard" (de menor qualidade, mas que permite múltipla programação) e a mobilidade (que possa continuar transmitindo com qualidade dentro de um ônibus, por exemplo).
Ele reafirmou que até meados de fevereiro o padrão será escolhido. "Não tem que ser necessariamente no dia 10, mas, para fazermos a implantação da TV digital neste ano, nós precisamos decidir, no mínimo, na primeira quinzena de fevereiro, qual é o sistema de modulação. Você precisa de seis a oito meses para fazer os conversores de TV digital."
O conversor, parte importante das negociações comerciais, é o aparelho que será acoplado à televisão para que aparelhos fabricados para receber transmissões analógicas (como as atuais) possam captar a transmissão digital.
Segundo Costa, esse aparelho custaria, hoje, aproximadamente R$ 220. "Esse valor deverá cair dramaticamente nos próximos seis meses", disse o ministro. Ele informou que o governo poderá financiar a compra do conversor por meio de bancos federais.

Instalação comercial
O ministro confirmou para junho, na região metropolitana de São Paulo, a transmissão experimental da TV digital e que, em 7 de setembro, o país já estará em condições de fazer a instalação da TV comercial digital.
A tecnologia japonesa, de acordo com técnicos, permite que telefones celulares captem a programação diretamente das antenas da TV, sem passar pela rede das operadoras de telefonia celular. Por isso, seria a preferida das redes de televisão, que ganham mais poder na disputa de mercado com as teles. Ontem, Costa disse que no modelo de TV digital aberta, a transmissão normal para uma televisão móvel -como a que poderá ser usada em celulares- não seria paga.


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