|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
TVs e teles travam batalha por celular
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
Representantes das grandes redes abertas de TV entregaram ontem aos ministros Dilma Roussef
(Casa Civil) e Hélio Costa (Comunicações) uma carta endereçada
ao presidente Lula em que não pedem que o governo escolha o padrão de TV digital A ou B, mas,
sim, um sistema que tenha "robustez" para transmitir em alta
definição (HDTV) e que tenha
"mobilidade" e "portabilidade".
Mas, para as redes e até para o
Ministério das Comunicações, o
único sistema robusto, com recepção móvel (em celulares) e
portátil (em carros) é o japonês.
O padrão europeu, segundo
pesquisadores de TV digital, é semelhante ao japonês. Para as redes, no entanto, o europeu não interessa, porque foi desenvolvido
para um continente que, por ter
muitos países territorialmente pequenos, sofre escassez de freqüências e, portanto, privilegia o
modelo "multicanal" -uma
mesma freqüência pode ser usada
para até quatro canais de TV.
O padrão americano não serve
às redes porque ainda não oferece
portabilidade e mobilidade, por
ter sido desenvolvido para um
país em que se vê TV pelo cabo.
Já faz seis anos que as TVs brasileiras se definiram pelos japoneses. Hoje, a confiança das redes na
escolha, pelo governo, do padrão
nipônico é tanta que um alto executivo de uma delas disse ontem à
Folha que "o que vai valer é a posição dos radiodifusores", os "players" básicos do negócio, "e as relações comerciais externas".
Para as companhias telefônicas,
"rivais" das TVs, os radiodifusores estão tendo espaço privilegiado nas negociações com o governo. As redes já tiveram várias reuniões com ministros envolvidos
na decisão. Ao final de uma delas,
em dezembro, foram convidadas
para um café com o presidente.
O ministro Hélio Costa, ex-repórter da Globo, é visto como um
grande aliado das TVs e defensor
do sistema japonês (ele afirmou
que os japoneses foram os únicos
que se comprometem a abrir mão
de royalties). Mas Costa teria a resistência de Dilma Roussef.
Por trás da decisão do padrão a
ser adotado pelo Brasil estão lobbies poderosos. Além dos sistemas e governos americano, europeu e japonês, há pressões das redes de TV, dos fabricantes de televisores e das telefônicas.
Há bilhões em jogo (fala-se que
a TV digital movimentará até US$
100 bilhões no Brasil) e novas tecnologias que devem mudar o jeito
de ver TV e o uso do televisor.
Com isso, as redes temem a entrada das teles no negócio delas.
A disputa das TVs com as teles
promete. As redes querem que o
governo determine que o telefone
celular seja um receptor de TV digital sem que o usuário pague por
isso, o que aumenta o poder publicitário delas. Mas as operadoras de telefonia móvel, que investem cerca de R$ 1 bilhão por ano
em subsídios à fabricação de celulares, também querem ganhar.
O governo diz que sua decisão
levará em conta não só as preferências das TVs, mas também
contrapartidas, como a adoção,
pelos donos do padrão, de aplicações de interatividade desenvolvidas no Brasil. Pesarão ainda o tamanho do mercado internacional
de cada padrão e garantias.
Para o consumidor, ou telespectador, a decisão faz muita diferença. A escolha do padrão poderá
pesar diretamente em seu bolso e
terminar em uma televisão digital
de melhor ou pior qualidade.
Texto Anterior: Entidade não descarta sistema norte-americano Próximo Texto: Padrão nacional pode se tornar opção final Índice
|