São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 2005

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Governo comemora tolerância russa

ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, deixaram ontem a reunião oficial com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, dizendo-se muito confiantes com a tolerância dos russos em relação ao embargo que impuseram à importação de carne brasileira depois da descoberta de novos focos de febre aftosa.
Lula e Rodrigues afirmaram ter descrito todas as medidas tomadas pelo Brasil para debelar os novos focos, surgidos em Mato Grosso do Sul, principal produtor nacional de carne bovina, e que a explicação foi bem acolhida pela Rússia, maior compradora do produto.
"O resultado foi excepcional. Putin teve compreensão do que aconteceu no Brasil com a febre aftosa e, portanto, não vai levar isso como em outros tempos", disse Lula, em alusão ao embargo russo pelo mesmo motivo no ano passado, que durou seis meses.
Rodrigues, que chegou a Moscou dizendo não ter ilusões quanto à suspensão imediata do embargo, ontem demonstrava entusiasmo. "A reação foi muito positiva. Eles mesmos reafirmam a importância de, embora com o direito institucional de embargar todos os Estados vizinhos, só terem embargado MS, numa visão muito clara de temperança nesse processo de negociação, o que nos dá uma esperança de agilizarmos o mecanismo de suspensão do embargo", disse.
Embora tenha integrado a pauta das reuniões no Kremlin, o tema, de natureza política alheia aos protocolos diplomático-comerciais, não foi contemplado nem na fala dos dois presidentes ao final do encontro nem no documento conjunto sobre o resultado das declarações.

Carne saudável
Lula fez, antes do encontro com Putin, uma apologia à excelência da carne bovina nacional.
"Acho que o mundo vai continuar comprando a carne brasileira, até porque, possivelmente, de todo o rebanho bovino do mundo, o brasileiro deve ser o mais saudável, pois nós criamos o boi no pasto, não tem ração animal."
Sem nomear o alvo, o presidente criticou os que, segundo ele, foram excessivamente alarmistas no caso. "O mundo tratou com muito mais seriedade do que determinados setores dentro do próprio Brasil. Foi um foco localizado. O pessoal sabe que o Brasil tem um rebanho privilegiado no mundo, de 200 milhões de cabeças de gado, e não são 200 cabeças que vão jogar por terra 200 milhões de cabeças."
Recentemente, assessores do presidente classificaram como "cretinice" a expressão de "apagão da aftosa", que setores ruralistas tentaram colar no governo.
Depois de ter dito, no último final de semana, que o foco de aftosa já foi debelado, ontem Lula foi mais cauteloso. "Vamos debelar esse foco. Já foram queimadas todas as rezes. Agora é tocar o barco e vender nossa carne." (FV)


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