São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 2005

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Fazendeiros confirmam contrabando do Paraguai

SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JAPORÃ

Fazendeiros e administradores de fazenda nos municípios de Eldorado e Japorã (sul de MS), onde cinco focos de febre aftosa foram confirmados, afirmaram que há contrabando de gado paraguaio para a região e que a prática não é denunciada por medo de retaliação. Eles aceitaram falar com a reportagem com a condição de que os nomes não fossem revelados.
Uma fazendeira disse que, na região, todos sabem que há contrabando de gado paraguaio, mas ninguém ousa comentar por ter medo de pistolagem -principalmente porque as famílias ficam isoladas em suas propriedades.
Apesar de afirmarem que o gado paraguaio é comum, nenhum dos dez produtores ouvidos pela Folha desde o final de semana passado disse ter animais contrabandeados em suas fazendas.
Um fazendeiro que está na região há 25 anos diz que há quem prefira trazer gado do Paraguai porque são animais mais baratos.
De acordo com os produtores, o preço do gado varia muito, mas é possível comprar um bezerro no Paraguai até pela metade do preço que seria pago no Brasil.
Eles contam que o gado é trazido do país vizinho geralmente à noite pela linha internacional -uma pequena estrada de terra no lado brasileiro da fronteira, cercada dos dois lados por sítios e fazendas. Só o município de Japorã tem 40 km de fronteira seca com o Paraguai.
Ao chegar ao Brasil, os comerciantes de animais -que são brasileiros- "esquentam" o gado contrabandeado com notas frias vendidas na região.
Para legalizar o gado contrabandeado, eles chegam a usar notas de animais que já morreram e ainda não tiveram a morte registrada oficialmente pela Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal).
Na última semana, autoridades sanitárias do Paraguai disseram que a origem dos focos de aftosa no Brasil não é o gado paraguaio.
O Paraguai tem certificação dada em janeiro pelo OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) de zona livre de febre aftosa com vacinação. Em caso de surgimento da doença, são as próprias autoridades do país infectado que devem comunicar o fato ao órgão internacional.

Fronteira
No sul de Mato Grosso do Sul também existem pecuaristas que arrendam terras no Paraguai e que, dependendo da condição do pasto e do preço da carne, levam seus animais para o país vizinho.
O administrador de uma fazenda que fica em frente a uma propriedade onde há suspeita de aftosa diz que "nesta região é gado brasileiro passando para o Paraguai e de lá pra cá também".
Em outra fazenda, o administrador diz que, apesar da "lei do silêncio", se a crise se agravar -com novos focos e o abate de mais animais- os contrabandistas serão denunciados.


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