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Fazendeiros confirmam contrabando do Paraguai
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JAPORÃ
Fazendeiros e administradores
de fazenda nos municípios de Eldorado e Japorã (sul de MS), onde
cinco focos de febre aftosa foram
confirmados, afirmaram que há
contrabando de gado paraguaio
para a região e que a prática não é
denunciada por medo de retaliação. Eles aceitaram falar com a reportagem com a condição de que
os nomes não fossem revelados.
Uma fazendeira disse que, na
região, todos sabem que há contrabando de gado paraguaio, mas
ninguém ousa comentar por ter
medo de pistolagem -principalmente porque as famílias ficam
isoladas em suas propriedades.
Apesar de afirmarem que o gado paraguaio é comum, nenhum
dos dez produtores ouvidos pela
Folha desde o final de semana
passado disse ter animais contrabandeados em suas fazendas.
Um fazendeiro que está na região há 25 anos diz que há quem
prefira trazer gado do Paraguai
porque são animais mais baratos.
De acordo com os produtores, o
preço do gado varia muito, mas é
possível comprar um bezerro no
Paraguai até pela metade do preço
que seria pago no Brasil.
Eles contam que o gado é trazido do país vizinho geralmente à
noite pela linha internacional
-uma pequena estrada de terra
no lado brasileiro da fronteira,
cercada dos dois lados por sítios e
fazendas. Só o município de Japorã tem 40 km de fronteira seca
com o Paraguai.
Ao chegar ao Brasil, os comerciantes de animais -que são brasileiros- "esquentam" o gado
contrabandeado com notas frias
vendidas na região.
Para legalizar o gado contrabandeado, eles chegam a usar notas de animais que já morreram e
ainda não tiveram a morte registrada oficialmente pela Iagro
(Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal).
Na última semana, autoridades
sanitárias do Paraguai disseram
que a origem dos focos de aftosa
no Brasil não é o gado paraguaio.
O Paraguai tem certificação dada em janeiro pelo OIE (Organização Mundial de Saúde Animal)
de zona livre de febre aftosa com
vacinação. Em caso de surgimento da doença, são as próprias autoridades do país infectado que
devem comunicar o fato ao órgão
internacional.
Fronteira
No sul de Mato Grosso do Sul
também existem pecuaristas que
arrendam terras no Paraguai e
que, dependendo da condição do
pasto e do preço da carne, levam
seus animais para o país vizinho.
O administrador de uma fazenda que fica em frente a uma propriedade onde há suspeita de aftosa diz que "nesta região é gado
brasileiro passando para o Paraguai e de lá pra cá também".
Em outra fazenda, o administrador diz que, apesar da "lei do
silêncio", se a crise se agravar
-com novos focos e o abate de
mais animais- os contrabandistas serão denunciados.
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