São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 2002

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APLICAÇÃO

Captação do investimento, que desde fevereiro era negativa, está positiva

Alta dos juros traz de volta o investidor para os fundos DI

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A alta dos juros voltou a tornar atrativos os fundos DI. O resultado foi a volta do investidor para esse tipo de aplicação no mês de dezembro.
Desde fevereiro, a captação líquida -diferença entre saques e aplicações- dos fundos DI vinha sendo negativa. Apenas em dezembro esse quadro se alterou: os fundos chegaram no dia 24 do mês com captação positiva de mais de R$ 1,12 bilhão.
O valor é pequeno se comparado às grandes fugas de recursos registradas entre junho, julho e agosto. Nos três meses, os saques superaram as aplicações em mais de R$ 35 bilhões.
"Essa aplicação responde imediatamente ao aumento da Selic [taxa básica de juros], que é sua referência básica. E o investidor quer aproveitar qualquer chance de lucrar um pouco mais", afirma José Alberto Tovar, sócio-diretor da Arx Capital Management.
Na sua última reunião realizada no ano, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) decidiu aumentar os juros básicos da economia de 22% para 25% ao ano. Em novembro, os juros já haviam subido de 21% para 22% anuais.
A rentabilidade dos fundos DI tem crescido mês a mês. De 1,0% em junho, a rentabilidade média desses fundos saltou para 1,7% em novembro.

Confiança
A marcação a mercado, imposta pelo governo no fim de maio, fez cair a confiança dos investidores nos fundos DI, o que resultou na sangria de recursos registrada a partir de junho.
É que, com a mudança, esses fundos deixaram de ser um porto seguro, passando a poder registrar rentabilidade negativa se os valores dos títulos públicos que os compõem caíssem muito no mercado.
A nova regra obrigou os fundos a contabilizar seus ativos (basicamente títulos públicos) pelo seu valor de mercado. Antes, a contabilidade era feita levando em conta o valor com que os papéis eram comprados nos leilões, corrigidos por uma taxa de juros.
Quando a marcação a mercado entrou em vigor, o valor de vários títulos foi ajustado para baixo, o que engoliu a rentabilidade esperada por muitos investidores. Alguns fundos chegaram a registrar perdas de até 4% em apenas um dia. A rentabilidade média dos fundos DI em junho foi de apenas 0,4%.
Isso fez os investidores fugirem dos DI. Um dos beneficiados foi a poupança, que teve captação recorde de R$ 5,3 bilhões em junho.
"O trauma da marcação a mercado começa a se dissipar. Os investidores têm voltado a olhar com bons olhos os fundos DI", diz Tovar.
Mesmo com todo o imbróglio dos fundos DI neste ano, quem apostou nesse tipo de aplicação vai encerrar 2002 com uma rentabilidade média em torno de 17%, resultado bem superior aos pouco mais de 9% que a caderneta de poupança rendeu no período.
"Mas, da mesma forma que a alta dos juros tem atraído os investidores, se as taxas começarem a cair os recursos podem começar a sumir de novo."
No mercado, há a expectativa que o próximo governo corte os juros assim que a alta dos preços perca força. Com uma taxa básica de juros menor, a rentabilidade dos fundos DI encolhe.
Na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), os contratos de juros apontam a expectativa de queda nas taxas a partir do segundo trimestre de 2003.

Rombo
Os fundos de investimentos encerram este ano com um rombo em torno de R$ 60 bilhões. Os mais prejudicados foram os fundos de renda fixa e os DI, que representam mais de 60% do mercado total.
A onda de saques que atingiu os fundos DI fez seu patrimônio líquido despencar de R$ 171 bilhões em janeiro para R$ 148 bilhões em dezembro.
Os últimos meses foram marcados por uma nova preocupação para os investidores: a alta da inflação. Somada à cobrança do Imposto de Renda, a crescente inflação tem engolido boa parte dos ganhos reais dos investidores.
No caso dos fundos DI, a rentabilidade real (descontada a inflação) acumulada até o fim de novembro era de apenas 2,2%, a menor desde 1997.
Apenas para os fundos atrelados ao IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) a alta dos preços foi uma notícia bem vinda. Esses fundos, que viraram coqueluche a partir de agosto, começam a perder fôlego.


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