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LUÍS NASSIF
O maestro Léo Peracchi
Do CD sai a voz emocionada de Celine Imbert despejando o mais belo que Tom Jobim produziu em sua vida, as
últimas composições da escola
da canção brasileira que Villa
inaugurou, e que Valdemar
Henrique, Heckel Tavares, Jayme Ovalle, Bandeira e alguns
outros trouxeram ao longo das
décadas, para que o maior dos
compositores populares fechasse
o ciclo, antes do advento da bossa nova. "Serenata do Adeus",
"Modinha", "Eu Sei Que Vou Te
Amar", "As Praias Desertas".
O disco não homenageia o
compositor, nem as cantoras, de
vozes tão lindas e interpretações
tão clássicas como Celine, Na
Ozetti, Jane Duboc, Tetê Spinola, Vânia Bastos, Mônica Salmado, entre outras, mas o
maestro. Léo Peracchi, que Villa-Lobos chamava de maior regentes brasileiro, Radamés chamava de gênio e Tom Jobim
chamava de mestre. Aliás, Tom
foi apresentado a Peracchi pelo
próprio Villa.
É trabalho maiúsculo de
Eduardo Gudin que, além de
grande compositor, se transformou em uma das referências
culturais da MPB de São Paulo.
Com a filha caçula de Peracchi,
Gudin recuperou as partituras
do LP "Por Toda a Minha Vida", gravado em 1959 para o selo Elenco, tendo por intérprete
Lenita Bruno, a cantora lírica
que Peracchi desposou em 1950,
quando ela tinha apenas 21
anos e ele 39. Os arranjos foram
reconstituídos pela Orquestra
Jazz Sinfônica, criada sob inspiração de Gudin e Arrigo Barnabé.
Peracchi foi um dos renovadores da escola de arranjos brasileiro. Até o seu aparecimento, os
arranjos eram peças grandiosas
que iniciavam a música com estrondo. A melodia, pela voz do
cantor, era apenas um instrumento a mais da orquestra, nem
sempre o mais relevante.
Com Peracchi isso tudo muda.
A melodia passa a ser a peça
central, às vezes prescindindo
até de instrumentos. Violinos
vão se estendendo sobre a melodia como o lençol de cetim que
recobria a cama de nossos pais,
pissicatos, cellos, oboés, pianos
discretos fazem contrapontos
sutis, uma intervenção branda
aqui, mais consistente ali. E
aquele jeito de dispor os violinos
em um acorde contínuo, como
uma cortina que se move em ondas, sob efeito de um vento imperceptível, passando de um
tom para o outro.
A biografia de Peracchi é das
mais ricas da música brasileira.
Paulista de nascimento, filho de
diretor do conservatório Carlos
Gomes, foi arranjador da rádio
Nacional do seu período áureo.
Sua carreira profissional começou em 1936, como pianista e
maestro da rádio Kosmos, de
São Paulo. Depois, passou pela
Bandeirantes e Educadora e em
1941 foi contratado pela rádio
Nacional do Rio de Janeiro. Começava aí a parte mais brilhante de sua carreira.
Na Nacional, foi regente da
orquestra sinfônica e participou
de inúmeros programas clássicos na rádio Nacional, Canção
Antiga, Inspiração, Dona Música, Rádio-Almanaque Kolynos,
Poemas Sonoros, Paisagens de
Portugal, A Canção da Lembrança, Galeria Musical, Convite à Música Dicionário Toddy. E
o maior deles, "Quando os
maestros se encontram", em que
se revezava com Radamés Gnatalli e Lyrio Panicalli.
Participou de momentos históricos da música brasileira, da
estréia de "Orfeu da Conceição",
tendo como violonista Luiz
Bonfá e pianista Tom Jobim, até
o show "Elis e Tom", em 1974 no
Teatro Bandeirantes.
Foi para os Estados Unidos
por sugestão de Villa-Lobos,
permanecendo por lá divulgando a música brasileira. Em 1965
foi nomeado diretor musical da
Orquestra Sinfônica de Altoona,
na Pensilvânia, cargo no qual
permaneceu por dois anos. Lá
também dirigiu conjuntos corais e lecionou nas escolas Nossa
Senhora de Lourdes e Montessori, além da Universidade da
Pensilvânia.
Casou-se pela terceira vez com
Nina Campos e em 1968 mudou-se para Belgrado, Iugoslávia, onde trabalhou com a Orquestra Filarmônica da cidade e
escreveu o balé Stâmena.
Vítima de derrame, em 1989
foi para o Rio de Janeiro, para
ser cuidado pelos filhos.
Em fins de 1992 me deu uma
baita vontade de conhecê-lo.
Consegui com filha Myran o telefone da casa de repouso em
que o maestro se tratava. Tentei
acertar a agenda, mas o trabalho mais uma vez foi impiedoso.
Pouco depois, em 16 de janeiro
de 1993, morria o grande maestro brasileiro.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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