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Dietas da proteína em xeque

Estudo mostra que consumo elevado de proteínas de origem animal aumenta risco de morte por câncer e diabetes

MARIANA VERSOLATO EDITORA-ASSISTENTE DE "CIÊNCIA+SAÚDE" MONIQUE OLIVEIRA DE SÃO PAULO

Um novo estudo acendeu um sinal de alerta contra o alto consumo de proteínas --e, de quebra, contra as dietas que recomendam esse tipo de alimentação, como Dukan, Paleolítica e Atkins.

A pesquisa, publicada na revista científica "Cell Metabolism", analisou dados da alimentação diária de mais de 6.000 americanos com mais de 50 anos, acompanhados durante 18 anos.

A conclusão: para as pessoas entre 50 e 65 anos, o consumo alto de proteínas de origem animal (correspondentes a 20% ou mais das calorias diárias, ou cerca de 400 g de carne para um adulto que consome 2.000 calorias por dia) quadruplica o risco de morte por câncer em comparação com o consumo baixo de proteínas (menos de 10% das calorias diárias).

O ideal, segundo especialistas, é entre 10% e 12%.

O consumo alto e moderado de proteínas também aumentou o risco de complicações e mortes por diabetes.

A associação entre o excesso de proteínas e o risco maior de morte só foi observada com o consumo de proteínas de origem animal --analisando apenas o consumo de proteínas de origem vegetal, não houve risco maior de morte.

Curiosamente, entre os que tinham mais de 66 anos, o consumo maior de proteínas foi protetor em relação a mortes por causas variadas, incluindo o câncer porque ajuda a prevenir a perda de peso decorrente da velhice.

Atletas ou pessoas que precisam recuperar peso, como pacientes oncológicos, também podem se beneficiar de uma dose extra de proteína.

O quadro é diferente para quem usa o excesso de proteínas para emagrecer. Dietas que pregam um consumo alto de proteínas são repaginadas e entram na moda desde os anos 1970, quando o americano Roberto Atkins fez sucesso em todo o mundo recomendando um alto consumo de proteínas e gorduras.

Essas dietas indicam quantidade de proteínas similar à consumida pelo grupo de maior risco do estudo --20% ou mais das calorias diárias.

O endocrinologista Bruno Geloneze, da Unicamp, afirma que, apesar de as dietas serem feitas por um período mais curto do que o do estudo, é plausível pensar que seu efeito também seja deletério a longo prazo. "Esse radicalismo tende a começar cedo e a se repetir pela vida."

A dieta da vez é a do médico francês Pierre Dukan. O programa on-line da dieta já foi procurado por 1,8 milhão de brasileiros desde 2012.

Segundo a Fundação Internacional de Informação para Alimentos, 50% dos consumidores estão interessados em adicionar mais proteína em suas dietas e 37% acreditam que o composto emagrece.

A explicação do sucesso desse tipo de dieta é simples: o consumo de proteínas traz saciedade e a perda de peso ocorre no curto prazo por conta da restrição calórica.

"Mas não há evidências de emagrecimento a longo prazo", diz Ricardo Cohen, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica.

Outras pesquisas já mostraram a relação entre a carne de origem animal, principalmente a processada, e o câncer. A literatura médica registra que o consumo elevado de carne processada pode elevar em 35% a incidência de câncer de intestino.

A explicação é que a maior quantidade de proteínas aumenta o nível de fator de crescimento semelhante a insulina, que reflete a ação do hormônio de crescimento, ligado a alguns tipos de câncer.

Especialistas dizem que a dieta hiperproteica pode até deflagrar um processo inflamatório que levaria ao aumento de peso mais tarde.

Esse ganho de peso se dá porque a proteína, quando é transformada em glicose no fígado, sobrecarrega o órgão, desestabiliza hormônios e todo o processo de absorção dos alimentos.

Ricardo Cohen lembra que a dieta balanceada ainda é a melhor alternativa, mesmo entre obesos. "Sempre que há excesso de algum nutriente em detrimento de outro, o corpo reage negativamente", diz o nutrólogo Celso Cukier.


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