São Paulo, domingo, 05 de janeiro de 2003

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FUTEBOL

Palmeiras, amanhã, e Corinthians, dia 19, terão eleição para presidente

Por votos, dirigentes dão privilégios a conselheiros

EDUARDO ARRUDA
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

A eleição para a presidência do Palmeiras, amanhã, e do Corinthians, no próximo dia 19, pode ser decidida por gente acostumada a privilégios inimagináveis para quem fica na arquibancada.
Nos grandes paulistanos, que inclui ainda o São Paulo, que realizou o pleito no ano passado, os conselheiros recebem "mimos" dos dirigentes que acabam sendo decisivos em tempos eleitorais.
As regalias, como cargos importantes no clube, remuneração financeira, ingressos gratuitos e viagens de graça com a delegação, costumam aumentar nessa época.
Há poucos dias, o Corinthians fez mudanças no seu estatuto e aumentou ainda mais os privilégios de seus conselheiros. Agora o presidente pode remunerar alguns de seus vices, como o de futebol e o de finanças.
Na maioria das vezes, os escolhidos para esses cargos integram o conselho deliberativo do clube.
"Se o vice financeiro, por exemplo, tem de deixar a sua empresa para trabalhar no clube, ele precisa ser remunerado. Hoje temos uns três ou quatro casos assim", disse José de Castro Bigi, presidente do Conselho Deliberativo corintiano, sem revelar nomes.

Nomeações
De olho na eleição, a diretoria corintiana, com a aprovação do Conselho Deliberativo, fez um acordo com opositores e nomeou uma série de conselheiros vitalícios, que ficam no cargo até morrerem. Essa prática está prevista no estatuto. As nomeações praticamente enterraram a oposição ao presidente Alberto Dualib.
Ao todo são 200 vitalícios, mas o clube não divulgou quantos tiveram de ser nomeados para completar esse número. Teriam sido feitas 60 nomeações -25 delas do grupo que fazia oposição ao dirigente corintiano.
Na lista foi incluído Damião Garcia, até então um dos principais opositores de Dualib.
"Agora a oposição é só a Marlene Matheus. No futebol de hoje, ou o clube se une ou todo mundo naufraga junto", afirmou Bigi.
A viúva do ex-presidente Vicente Matheus não foi colocada na lista. Com o acordo, a expectativa da situação é de que Dualib seja aclamado em janeiro, já que não deve ter concorrentes.
Além de nomear vitalícios, a diretoria tem o poder de escolher metade dos outros 200 conselheiros, que ficam no cargo por apenas quatro anos.
Assim, dos 400 conselheiros que votam, só 100 são eleitos pelos sócios. Quase todos os outros devem à atual diretoria o fato de serem vitalícios. Detalhe: só os vitalícios poderão se candidatar um dia à presidência, segundo Bigi.
No Palmeiras, Mustafá Contursi, que comanda o clube com mãos de ferro desde 1993, fez manobra parecida com a dos corintianos para facilitar sua permanência no poder.
Em 1996, alterou o estatuto do clube e, por meio do COF (Conselho de Orientação de Fiscalização), o presidente indica 100 associados com os requisitos necessários para serem conselheiros, que compõem o quadro eleitoral.
Em época de eleição, a oposição a Contursi até o acusa de ter anistiado conselheiros que estavam com mensalidades atrasadas para angariar votos. "Isso não aconteceu [a anistia], teria de passar por mim. O estatuto é muito claro: o conselheiro que estiver devendo ao clube não tem direito a voto nas eleições", afirmou o presidente do Conselho Deliberativo do Palmeiras, Cláudio Mezzaranne, que é aliado de Contursi.
O dirigente até nomeou para o conselho sócios que haviam fracassado nas urnas.
Nesse relacionamento entre presidente e conselheiros, alguns até conseguem levar jogadores do Palmeiras sem custo nenhum para outros clubes com os quais têm ligação. Esse, aliás, teria sido o principal motivo da demissão do ex-técnico da equipe B do Palmeiras Paulo Campos.
Com maioria no conselho, Mustafá já dá como certa a sua reeleição, apesar de ter como concorrente Luiz Gonzaga Belluzzo. O fato de o time ter sido rebaixado no Nacional não irá atrapalhar os planos do dirigente.

Turismo
Já no São Paulo, que se orgulha de ter uma oposição forte e trocar constantemente de presidente nos últimos anos, os conselheiros também se acostumaram a ser cercados por mordomias.
Entre elas, estão convites para viajar com a delegação, sem gasto nenhum. Em época de eleição, a lista de conselheiros que acompanham o time costuma ser elaborada minuciosamente para agradar situação e oposição.
"Essas viagens são importantes para o clube porque promovem a união entre os conselheiros", disse João Roberto Seabra Malta, conselheiro são-paulino há 33 anos e vitalício há 13.
Os são-paulinos que integram o Conselho Deliberativo têm também direito a dois ingressos por jogo no Morumbi numa tribuna. Estacionar o carro não é problema para eles, já que podem parar numa área no estádio.
Os conselheiros do clube do Morumbi podem ainda frequentar o saguão do estádio e o CT. Às visitas ao local de treinamento geraram protestos do técnico Oswaldo de Oliveira, o que obrigou a diretoria a limitá-las em 2002.
Os visitantes têm acesso até a áreas restritas aos jogadores no CT. "Tem gente que abusa, quer almoçar com os jogadores e ensiná-los a chutar", disse Malta.
Numa das reuniões do conselho, antes da atual gestão, houve até uma distribuição de broches com o escudo do clube em ouro.


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