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FUTEBOL
Palmeiras, amanhã, e Corinthians, dia 19, terão eleição para presidente
Por votos, dirigentes dão privilégios a conselheiros
EDUARDO ARRUDA
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL
A eleição para a presidência do
Palmeiras, amanhã, e do Corinthians, no próximo dia 19, pode
ser decidida por gente acostumada a privilégios inimagináveis para quem fica na arquibancada.
Nos grandes paulistanos, que
inclui ainda o São Paulo, que realizou o pleito no ano passado, os
conselheiros recebem "mimos"
dos dirigentes que acabam sendo
decisivos em tempos eleitorais.
As regalias, como cargos importantes no clube, remuneração financeira, ingressos gratuitos e
viagens de graça com a delegação,
costumam aumentar nessa época.
Há poucos dias, o Corinthians
fez mudanças no seu estatuto e
aumentou ainda mais os privilégios de seus conselheiros. Agora o
presidente pode remunerar alguns de seus vices, como o de futebol e o de finanças.
Na maioria das vezes, os escolhidos para esses cargos integram
o conselho deliberativo do clube.
"Se o vice financeiro, por exemplo, tem de deixar a sua empresa
para trabalhar no clube, ele precisa ser remunerado. Hoje temos
uns três ou quatro casos assim",
disse José de Castro Bigi, presidente do Conselho Deliberativo
corintiano, sem revelar nomes.
Nomeações
De olho na eleição, a diretoria
corintiana, com a aprovação do
Conselho Deliberativo, fez um
acordo com opositores e nomeou
uma série de conselheiros vitalícios, que ficam no cargo até morrerem. Essa prática está prevista
no estatuto. As nomeações praticamente enterraram a oposição
ao presidente Alberto Dualib.
Ao todo são 200 vitalícios, mas o
clube não divulgou quantos tiveram de ser nomeados para completar esse número. Teriam sido
feitas 60 nomeações -25 delas do
grupo que fazia oposição ao dirigente corintiano.
Na lista foi incluído Damião
Garcia, até então um dos principais opositores de Dualib.
"Agora a oposição é só a Marlene Matheus. No futebol de hoje,
ou o clube se une ou todo mundo
naufraga junto", afirmou Bigi.
A viúva do ex-presidente Vicente Matheus não foi colocada na
lista. Com o acordo, a expectativa
da situação é de que Dualib seja
aclamado em janeiro, já que não
deve ter concorrentes.
Além de nomear vitalícios, a diretoria tem o poder de escolher
metade dos outros 200 conselheiros, que ficam no cargo por apenas quatro anos.
Assim, dos 400 conselheiros que
votam, só 100 são eleitos pelos sócios. Quase todos os outros devem à atual diretoria o fato de serem vitalícios. Detalhe: só os vitalícios poderão se candidatar um
dia à presidência, segundo Bigi.
No Palmeiras, Mustafá Contursi, que comanda o clube com
mãos de ferro desde 1993, fez manobra parecida com a dos corintianos para facilitar sua permanência no poder.
Em 1996, alterou o estatuto do
clube e, por meio do COF (Conselho de Orientação de Fiscalização), o presidente indica 100 associados com os requisitos necessários para serem conselheiros, que
compõem o quadro eleitoral.
Em época de eleição, a oposição
a Contursi até o acusa de ter anistiado conselheiros que estavam
com mensalidades atrasadas para
angariar votos. "Isso não aconteceu [a anistia], teria de passar por
mim. O estatuto é muito claro: o
conselheiro que estiver devendo
ao clube não tem direito a voto
nas eleições", afirmou o presidente do Conselho Deliberativo do
Palmeiras, Cláudio Mezzaranne,
que é aliado de Contursi.
O dirigente até nomeou para o
conselho sócios que haviam fracassado nas urnas.
Nesse relacionamento entre
presidente e conselheiros, alguns
até conseguem levar jogadores do
Palmeiras sem custo nenhum para outros clubes com os quais têm
ligação. Esse, aliás, teria sido o
principal motivo da demissão do
ex-técnico da equipe B do Palmeiras Paulo Campos.
Com maioria no conselho,
Mustafá já dá como certa a sua
reeleição, apesar de ter como concorrente Luiz Gonzaga Belluzzo.
O fato de o time ter sido rebaixado
no Nacional não irá atrapalhar os
planos do dirigente.
Turismo
Já no São Paulo, que se orgulha
de ter uma oposição forte e trocar
constantemente de presidente
nos últimos anos, os conselheiros
também se acostumaram a ser
cercados por mordomias.
Entre elas, estão convites para
viajar com a delegação, sem gasto
nenhum. Em época de eleição, a
lista de conselheiros que acompanham o time costuma ser elaborada minuciosamente para agradar
situação e oposição.
"Essas viagens são importantes
para o clube porque promovem a
união entre os conselheiros", disse João Roberto Seabra Malta,
conselheiro são-paulino há 33
anos e vitalício há 13.
Os são-paulinos que integram o
Conselho Deliberativo têm também direito a dois ingressos por
jogo no Morumbi numa tribuna.
Estacionar o carro não é problema para eles, já que podem parar
numa área no estádio.
Os conselheiros do clube do
Morumbi podem ainda frequentar o saguão do estádio e o CT. Às
visitas ao local de treinamento geraram protestos do técnico Oswaldo de Oliveira, o que obrigou a
diretoria a limitá-las em 2002.
Os visitantes têm acesso até a
áreas restritas aos jogadores no
CT. "Tem gente que abusa, quer
almoçar com os jogadores e ensiná-los a chutar", disse Malta.
Numa das reuniões do conselho, antes da atual gestão, houve
até uma distribuição de broches
com o escudo do clube em ouro.
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