São Paulo, domingo, 05 de janeiro de 2003

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FUTEBOL

Mudanças no futebol

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Entre 98 e 2002, a seleção e o futebol estiveram muito mal. O Brasil fez péssima campanha nas eliminatórias. Havia muitas críticas entre torcedores e na crônica esportiva. Porém o futebol brasileiro não estava decadente, como temíamos e achávamos. Era só uma má fase. Ainda bem.
Bastaram os craques (Roberto Carlos, Rivaldo e os dois Ronaldos) entrarem em forma para o Brasil ganhar o título mundial. A equipe foi também bastante ajudada pelo surpreendente fracasso das seleções favoritas, Argentina e França, e pelos graves erros do árbitros contra Espanha e Itália, que seriam adversários mais difíceis nos jogos decisivos.
Independentemente da conquista do Mundial, está acontecendo uma evolução no futebol brasileiro. Os técnicos, com poucas exceções, estão menos prepotentes e dando mais explicações técnicas à imprensa aos torcedores, o que é uma obrigação. Estão usando novas maneiras de jogar.
Após a conquista da Copa-94, todas as equipes brasileiras passaram a jogar com uma linha de quatro defensores, dois volantes que só sabiam marcar ou fazer faltas, um meia ofensivo de cada lado e dois atacantes. Só os laterais atacavam pelos flancos e os volantes tentavam fazer a cobertura. A única variação era a presença de um armador na ligação entre o meio-campo e o ataque.
No Brasileiro-02, além da ousadia das equipes, houve muitas variações: presença de três autênticos zagueiros como a seleção campeã, atacantes pelos lados (pontas) fazendo duplas com os laterais, um centroavante e três meias ofensivos e uma nova preocupação com a marcação. Os técnicos perceberam que é possível um time ser ofensivo e desarmar bem. Alguns mudaram taticamente o time a cada jogo ou numa mesma partida.
Evidentemente, que não existe uma formação tática ideal. Todas essas variações e o tradicional esquema (4-4-2) são eficientes, dependendo do momento, das características dos atletas e da maneira de jogar da outra equipe.
Outra importante mudança foi no comportamento dos volantes. Os tradicionais, sem mobilidade, habilidade e um bom passe e que só sabiam desarmar fazendo faltas estão ficando fora de moda. Renato do Santos jogou todo o campeonato sem levar um único cartão amarelo e sem ser substituído. Ele agora é uma referência.
Os volantes estão desarmando, passando melhor e aparecendo na frente para finalizar. Um bom contra-ataque começa com um rápido e preciso passe do volante. Ele pode ainda servir direto o atacante com um passe mais longo.
Durante anos, parte da imprensa criticava essas deficiências e muitos técnicos nos chamavam de saudosistas, românticos e teóricos. Para eles, isso era futebol do passado. Hoje estão realizando muitas das coisas que pedíamos. Por causa das críticas e de suas observações, Felipão, sem admitir publicamente, mudou muitos conceitos durante o seu trabalho na seleção.
Fora de campo, a grande mudança técnica será neste ano com o campeonato por pontos corridos. Há muitas divergências sobre a melhor fórmula. Ninguém é dono da verdade. É preciso respeitar as opiniões diferentes.
De uma coisa, todos ou quase todos têm certeza. O campeonato por pontos corridos é tecnicamente a única fórmula justa. Ou há alguém que não concorda? Ganha o que teve a melhor média de atuações no campeonato
Os mata-matas são emocionantes, bem-vindos, mas eles já existem nos Estaduais e nas copas nacionais, como a do Brasil. É uma fórmula muito injusta para um esporte em que, numa única ou duas partidas, frequentemente não vence o melhor.
Na fórmula por pontos corridos, turno e returno e com a duração de mais de oito meses, os times em vez de usarem os Estaduais e o primeiro semestre para se prepararem para o campeonato nacional, terão de arrumar as suas equipes nos dois primeiros meses do ano. Cada jogo será decisivo, desde o inicio.
Além disso, as oito primeiras equipes serão indicadas para participarem de outros torneios, o que não deixará o campeonato perder a graça, se algum time estiver muito na frente. Muitas grandes equipes não ficarão também sem jogar durante um longo tempo, como ocorreu no campeonato de 2002.
É preciso priorizar no Brasil, em todas as áreas, as coisas justas no lugar das mais rentáveis. Com o tempo, o que é justo, por causa da credibilidade, poderá se tornar também mais rentável e emocionante. É o que espero.

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