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FUTEBOL
Mudanças no futebol
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Entre 98 e 2002, a seleção e o
futebol estiveram muito mal.
O Brasil fez péssima campanha
nas eliminatórias. Havia muitas
críticas entre torcedores e na crônica esportiva. Porém o futebol
brasileiro não estava decadente,
como temíamos e achávamos.
Era só uma má fase. Ainda bem.
Bastaram os craques (Roberto
Carlos, Rivaldo e os dois Ronaldos) entrarem em forma para o
Brasil ganhar o título mundial. A
equipe foi também bastante ajudada pelo surpreendente fracasso
das seleções favoritas, Argentina e
França, e pelos graves erros do árbitros contra Espanha e Itália,
que seriam adversários mais difíceis nos jogos decisivos.
Independentemente da conquista do Mundial, está acontecendo uma evolução no futebol
brasileiro. Os técnicos, com poucas exceções, estão menos prepotentes e dando mais explicações
técnicas à imprensa aos torcedores, o que é uma obrigação. Estão
usando novas maneiras de jogar.
Após a conquista da Copa-94,
todas as equipes brasileiras passaram a jogar com uma linha de
quatro defensores, dois volantes
que só sabiam marcar ou fazer
faltas, um meia ofensivo de cada
lado e dois atacantes. Só os laterais atacavam pelos flancos e os
volantes tentavam fazer a cobertura. A única variação era a presença de um armador na ligação
entre o meio-campo e o ataque.
No Brasileiro-02, além da ousadia das equipes, houve muitas variações: presença de três autênticos zagueiros como a seleção
campeã, atacantes pelos lados
(pontas) fazendo duplas com os
laterais, um centroavante e três
meias ofensivos e uma nova preocupação com a marcação. Os técnicos perceberam que é possível
um time ser ofensivo e desarmar
bem. Alguns mudaram taticamente o time a cada jogo ou numa mesma partida.
Evidentemente, que não existe
uma formação tática ideal. Todas
essas variações e o tradicional esquema (4-4-2) são eficientes, dependendo do momento, das características dos atletas e da maneira de jogar da outra equipe.
Outra importante mudança foi
no comportamento dos volantes.
Os tradicionais, sem mobilidade,
habilidade e um bom passe e que
só sabiam desarmar fazendo faltas estão ficando fora de moda.
Renato do Santos jogou todo o
campeonato sem levar um único
cartão amarelo e sem ser substituído. Ele agora é uma referência.
Os volantes estão desarmando,
passando melhor e aparecendo
na frente para finalizar. Um bom
contra-ataque começa com um
rápido e preciso passe do volante.
Ele pode ainda servir direto o atacante com um passe mais longo.
Durante anos, parte da imprensa criticava essas deficiências e
muitos técnicos nos chamavam
de saudosistas, românticos e teóricos. Para eles, isso era futebol do
passado. Hoje estão realizando
muitas das coisas que pedíamos.
Por causa das críticas e de suas
observações, Felipão, sem admitir
publicamente, mudou muitos
conceitos durante o seu trabalho
na seleção.
Fora de campo, a grande mudança técnica será neste ano com
o campeonato por pontos corridos. Há muitas divergências sobre
a melhor fórmula. Ninguém é dono da verdade. É preciso respeitar
as opiniões diferentes.
De uma coisa, todos ou quase
todos têm certeza. O campeonato
por pontos corridos é tecnicamente a única fórmula justa. Ou há
alguém que não concorda? Ganha o que teve a melhor média de
atuações no campeonato
Os mata-matas são emocionantes, bem-vindos, mas eles já existem nos Estaduais e nas copas nacionais, como a do Brasil. É uma
fórmula muito injusta para um
esporte em que, numa única ou
duas partidas, frequentemente
não vence o melhor.
Na fórmula por pontos corridos,
turno e returno e com a duração
de mais de oito meses, os times em
vez de usarem os Estaduais e o
primeiro semestre para se prepararem para o campeonato nacional, terão de arrumar as suas
equipes nos dois primeiros meses
do ano. Cada jogo será decisivo,
desde o inicio.
Além disso, as oito primeiras
equipes serão indicadas para participarem de outros torneios, o
que não deixará o campeonato
perder a graça, se algum time estiver muito na frente. Muitas grandes equipes não ficarão também
sem jogar durante um longo tempo, como ocorreu no campeonato
de 2002.
É preciso priorizar no Brasil, em
todas as áreas, as coisas justas no
lugar das mais rentáveis. Com o
tempo, o que é justo, por causa da
credibilidade, poderá se tornar
também mais rentável e emocionante. É o que espero.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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