São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

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FUTEBOL

Dono de mais de 100 mil votos em 98, presidente vascaíno tenta 3º mandato de deputado em péssima fase do clube

Eurico encara nas urnas legado de cartola

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Eu peço voto para defender os interesses do Vasco. Votaram em mim. Repudiem meus eleitores. Quando eu afirmo que sou deputado do Vasco, foram os eleitores que me colocaram aqui. Sou muito mais representante do meu clube do que qualquer outra coisa."
Com uma plataforma simples, defender os interesses de um time de futebol, no caso o Vasco, Eurico Ângelo de Oliveira Miranda, 58, se elegeu duas vezes deputado federal pelo Estado do Rio.
Hoje, o pepebista tenta um terceiro mandato, só que em um momento bem diferente do vivido na última eleição.
Em 1998, quando era um vice que mandava como presidente, o seu time, cheio de astros, era campeão da Taça Libertadores, a maior glória de toda a história centenária do clube.
Finalmente presidente em 22 de janeiro de 2001, quatro dias depois da conquista derradeira, a Copa JH, Eurico viu o mesmo Vasco abandonar seu período mais frutífero em termos de títulos para entrar no mais absoluto jejum. Já são nove campeonatos seguidos de fracassos.
E, ao que tudo indica, o Brasileiro deste ano, em que o time cumpre campanha medíocre, deverá ser o décimo. Em São Januário, mais que a luta para estar entre os oito melhores, a preocupação é como sair do perigo do rebaixamento para a Série B.
Se tal desempenho influirá na tentativa de reeleição amanhã, isso vai depender dos eleitores, vascaínos ou não. O fato é que Eurico teve, há quatro anos, a sétima maior votação para deputado federal no Rio, 105.969 votos, mais que nomes famosos da política fluminense de então, como o ex-militar Jair Bolsonaro e Roberto Jefferson, líder do PTB.
Bem mais também que os quase 50 mil votos obtidos em 1994, quando ganhou uma vaga na Câmara após recontagem em um pleito conturbado, repleto de suspeitas de fraudes.
Nessa época, o Vasco se destacava apenas no Rio, onde acumulava três Estaduais consecutivos. Em 1998, além da Libertadores, o time ostentava o Brasileiro de 1997, conquistado com o atacante Edmundo, e, não menos importante, caixa cheio -o clube vivia o início da parceria com um grande banco norte-americano.
Com dinheiro sobrando, o Vasco não se consagrava apenas nos campos de futebol, onde Eurico dava cartas, mudava tabelas, "absolvia" jogadores.
Nos Jogos de Sydney-2000, por exemplo, o clube era de alguma forma responsável por 83 dos 204 competidores que compunham a delegação brasileira na Austrália.
Um time de estrelas: do cavaleiro Rodrigo Pessoa ao iatista Robert Scheidt, da dupla Adriana Behar/Shelda à equipe do revezamento 4 x 100 m -ao todo, gastos de R$ 30 milhões, mais que o orçamento do próprio COB. Até Eurico foi à Olimpíada. "Prestigiar."
Trabalhando quase como um mecenas, o dirigente ascendeu à presidência após duas décadas como vice de Antônio Soares Calçada. Ajuste hierárquico, ele sempre fora o homem-forte do clube.
De lá para cá, uma tragédia em São Januário, uma violenta disputa com a TV Globo, o sumiço de um cheque de US$ 110 mil da Sul-Americana, o fim litigioso da milionária parceria com o banco, as CPIs do Congresso e até um pedido de cassação arquivado.
Em campo, uma derrota na final do Estadual do Rio, em 2001, e, neste ano, apenas vexames, sem chegar nem a uma semifinal em quatro competições disputadas. No Brasileiro, contabilizada a vitória de ontem sobre o Guarani, são 15 jogos, oito derrotas e o fantasma da zona de rebaixamento.
Efeito imediato da falta de dinheiro, a debandada de craques, o último deles Romário, hoje no rival Fluminense.
Legado incômodo para o mais notável membro da "bancada da bola", que será julgado hoje pelos eleitores. Vascaínos ou não.



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