São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

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FUTEBOL

Fanático pelo Independiente, empresário cria fundo, levanta US$ 6,2 mi e arruma atletas para pôr time no topo

Mecenas tira equipe argentina do buraco

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

Desafiando a velha máxima do futebol de que "torcida não ganha jogo", um torcedor fanático do Independiente, uma das mais tradicionais agremiações da Argentina, decidiu injetar milhões de dólares em seu clube do coração e pode decidir o torneio nacional.
O torcedor é o empresário Daniel Grinbank, 48, que meses atrás criou um fundo de investimentos em futebol e levantou US$ 6,2 milhões. Com o dinheiro, Grinbank comprou três bons jogadores em atividade nos gramados argentinos -o meia Daniel Montenegro, o lateral Federico Domínguez e o volante Lucas Pusineri- e os emprestou ao Independiente.
Os três jogadores, somados a outras três contratações feitas pelos próprios dirigentes, promoveram uma verdadeira revolução no clube. Após amargar a última colocação no torneio nacional do primeiro semestre, na pior campanha de sua história, o Independiente está na liderança do Apertura-2002 (o Campeonato Argentino disputado nos últimos seis meses do ano), a nove rodadas de seu final. O time, que anteontem derrotou o Arsenal por 3 a 2, ocupa a ponta há várias rodadas.
A equipe, que começou o atual campeonato ameaçada de rebaixamento -na Argentina, caem para a segunda divisão os três clubes com pior campanha na média dos últimos cinco torneios-, no momento praticamente garantiu sua permanência na elite do futebol do país.
Responsável pela reviravolta, Grinbank disse à Folha que só decidiu investir no futebol devido à crise econômica e à desvalorização cambial na Argentina. Empresário do setor musical, ele vendeu no começo do ano sua empresa de promoção de shows -que levara ao país Madonna e os Rolling Stones, entre outros- porque "é impossível cobrar em pesos e pagar em dólares".
Ao mesmo tempo, Grinbank percebeu que sua outra paixão, o futebol, representava um terreno fértil para o fechamento de bons negócios. Com a atual crise dos clubes europeus, havia, segundo ele, a oportunidade de comprar bons jogadores locais a preços atrativos e, no futuro, revendê-los, mais valorizados, no exterior.
Além do investido do próprio bolso, Grinbank criou um fundo local e conseguiu convencer outros 20 investidores a colocar dinheiro no empreendimento.
A escolha do Independiente foi natural. Fanático pelo clube, ele conta que mesmo nas constantes viagens à Europa, onde possui outras empresas, sempre retorna nos finais de semana para a Argentina para poder assistir aos jogos do time no próprio estádio.
Grinbank nega, no entanto, que o fanatismo tenha sido o único motivo para a escolha do Independiente. Segundo ele, o time possui uma torcida numerosa, que estava afastada dos estádios devido apenas às campanhas medíocres nos últimos anos -o último título nacional foi em 1994.
Ele também diz que, apesar de ser "difícil", tenta não misturar a paixão pelo clube com os negócios que terá pela frente. "Sou a cabeça de um fundo de investimentos e, ao mesmo tempo, um torcedor. Quando vender os jogadores, sei que serei insultado pela torcida, da mesma forma como hoje sou idolatrado. Mas esse é o objetivo do fundo", afirma.
O empresário acrescenta que seu projeto defende interesses comuns: o clube foi o que mais levou torcedores a estádios neste semestre -superando os populares Boca Juniors e River Plate-, atraiu novos sócios e vendeu massivamente produtos licenciados.
Já a torcida está contente e voltou a sonhar com os tempos áureos do Independiente. Nas décadas de 60 e 70, ganhou sete Taças Libertadores e passou a ser carinhosamente chamado pelos seus seguidores de "Rei de Copas".



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