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FUTEBOL
Por hobby, historiadores amadores se correspondem, formam arquivos e viram fonte de informação no assunto
Pesquisadores preservam história da bola
LUÍS SOUZA
DA REPORTAGEM LOCAL
Pessoas comuns, com profissões não ligadas ao futebol, estão
ajudando a preservar a história do
esporte no Brasil e no mundo. Por
hobby, elas arquivam material sobre o assunto e servem de referência para outros amantes da bola.
Graças a esses historiadores do
futebol, é possível saber a escalação da seleção brasileira em uma
partida do começo do século ou
quem foi o campeão romeno da
década de 50. Ou ainda verificar
os times listados em um volante
de loteria esportiva de 1982.
O hobby às vezes acaba em remuneração financeira, quando se
recebe pela consulta ao arquivo,
ou em recompensa espiritual, na
forma de um livro de pequena tiragem, ou a criação de um museu
com o material. Porém, na maioria das vezes, a satisfação é só trocar informações ou doar o arquivo para uma biblioteca.
Apesar de os pesquisadores
mais idosos serem os mais reconhecidos e terem os arquivos
mais completos (veja texto nesta
página), eles são minoria. Os mais
novos se beneficiam por conviverem desde cedo com a Internet.
Marcelo Leme de Arruda, 27,
aficionado por tabulação de dados futebolísticos, colecionava
volantes de Loteria Esportiva na
infância e listava os times participantes. "Esse hobby tomou corpo
e impulso a ponto de, hoje em dia,
eu possuir uma coleção de nomes
de quase 10 mil times."
Leme de Arruda, que mora em
São Paulo, diz ter sido influenciado pela Folha. "Na Copa-86, a Folha criou um índice para justificar
o favoritismo das seleções. Três
anos depois, o jornal publicou
uma tabela com chances percentuais de cada equipe chegar à final
do Brasileiro. Essas reportagens
foram decisivas para eu optar pela
faculdade de estatística."
O mestrado foi sobre estatística
no futebol, e serviu de base para
um site (www.ime.usp.br/~mlarruda/chgol.html).
José Ricardo Caldas e Almeida,
43, um bancário de Brasília, adquiriu, desde criança, várias revistas de futebol. "Com o tempo,
comprei publicações antigas e
muitos livros. Hoje, tenho uma
razoável biblioteca futebolística."
Através de correspondência, ele
entrou em contato com pessoas
que tinham o mesmo hobby e
tentou criar uma associação. Não
deu certo, mas ocorreu intensa
troca de material, "princípio básico de quem gosta de pesquisas".
De 92 a junho deste ano, Calda e
Almeida editou o Jornal do Futebol, publicação caseira, mensal e
depois bimestral, que chegou a ter
mais de 100 exemplares.
Já Mauro Prais, 43, um engenheiro elétrico que hoje vive nos
EUA, estima que assistiu, de 1963
a 1985, quando imigrou, cerca de
1.500 partidas em estádios.
Desde pequeno, ele guardava
publicações esportivas. No exterior, ele recebia com duas semanas de atraso os recortes que seus
pais lhe mandavam com notícias
do Vasco, seu clube.
Em 1993, ele começou a acompanhar um grupo de discussão na
Internet. "Daí surgiu o primeiro
site do futebol brasileiro, criado
após a Copa-94. Em 1995, eu criei
um site para o Vasco (www.spaceports.com/~mprais/vasco/index.html) que foi o segundo de
clube brasileiro."
Por telefone, ele contou à Folha
que tem outra explicação para seu
interesse por dados do futebol.
"Além de hobby, é um vício. Costumo dizer que é minha cachaça."
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