São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2000

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FUTEBOL
Por hobby, historiadores amadores se correspondem, formam arquivos e viram fonte de informação no assunto
Pesquisadores preservam história da bola

LUÍS SOUZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pessoas comuns, com profissões não ligadas ao futebol, estão ajudando a preservar a história do esporte no Brasil e no mundo. Por hobby, elas arquivam material sobre o assunto e servem de referência para outros amantes da bola.
Graças a esses historiadores do futebol, é possível saber a escalação da seleção brasileira em uma partida do começo do século ou quem foi o campeão romeno da década de 50. Ou ainda verificar os times listados em um volante de loteria esportiva de 1982.
O hobby às vezes acaba em remuneração financeira, quando se recebe pela consulta ao arquivo, ou em recompensa espiritual, na forma de um livro de pequena tiragem, ou a criação de um museu com o material. Porém, na maioria das vezes, a satisfação é só trocar informações ou doar o arquivo para uma biblioteca.
Apesar de os pesquisadores mais idosos serem os mais reconhecidos e terem os arquivos mais completos (veja texto nesta página), eles são minoria. Os mais novos se beneficiam por conviverem desde cedo com a Internet.
Marcelo Leme de Arruda, 27, aficionado por tabulação de dados futebolísticos, colecionava volantes de Loteria Esportiva na infância e listava os times participantes. "Esse hobby tomou corpo e impulso a ponto de, hoje em dia, eu possuir uma coleção de nomes de quase 10 mil times."
Leme de Arruda, que mora em São Paulo, diz ter sido influenciado pela Folha. "Na Copa-86, a Folha criou um índice para justificar o favoritismo das seleções. Três anos depois, o jornal publicou uma tabela com chances percentuais de cada equipe chegar à final do Brasileiro. Essas reportagens foram decisivas para eu optar pela faculdade de estatística."
O mestrado foi sobre estatística no futebol, e serviu de base para um site (www.ime.usp.br/~mlarruda/chgol.html).
José Ricardo Caldas e Almeida, 43, um bancário de Brasília, adquiriu, desde criança, várias revistas de futebol. "Com o tempo, comprei publicações antigas e muitos livros. Hoje, tenho uma razoável biblioteca futebolística."
Através de correspondência, ele entrou em contato com pessoas que tinham o mesmo hobby e tentou criar uma associação. Não deu certo, mas ocorreu intensa troca de material, "princípio básico de quem gosta de pesquisas".
De 92 a junho deste ano, Calda e Almeida editou o Jornal do Futebol, publicação caseira, mensal e depois bimestral, que chegou a ter mais de 100 exemplares.
Já Mauro Prais, 43, um engenheiro elétrico que hoje vive nos EUA, estima que assistiu, de 1963 a 1985, quando imigrou, cerca de 1.500 partidas em estádios.
Desde pequeno, ele guardava publicações esportivas. No exterior, ele recebia com duas semanas de atraso os recortes que seus pais lhe mandavam com notícias do Vasco, seu clube.
Em 1993, ele começou a acompanhar um grupo de discussão na Internet. "Daí surgiu o primeiro site do futebol brasileiro, criado após a Copa-94. Em 1995, eu criei um site para o Vasco (www.spaceports.com/~mprais/vasco/index.html) que foi o segundo de clube brasileiro."
Por telefone, ele contou à Folha que tem outra explicação para seu interesse por dados do futebol. "Além de hobby, é um vício. Costumo dizer que é minha cachaça."


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