São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2000

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PARADESPORTO
Atleta correu a maratona de Nova York com prótese especial e superou mais de 25 mil atletas regulares
Brasileiro amputado vence em Nova York

GUILHERME CUCHIERATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um brasileiro venceu uma das categorias da 31ª edição da Maratona de Nova York, disputada no último dia 5. Paulo de Almeida, de 34 anos, foi o primeiro competidor a cruzar a linha de chegada na condição de atleta amputado.
O pernambucano radicado em São Paulo, que tem a perna direita amputada 15 centímetros abaixo do joelho, correu com uma prótese especial para atividades esportivas e chegou ao final dos 42,195 km da prova em 3h47min51.
A prova regular foi vencida pelo marroquino Abdelkhader El Mouaziz, 31, que chegou à frente de Almeida cerca de uma hora e 37 minutos.
Almeida chegou ao final à frente de todos os outros atletas amputados e de mais de 25 mil outros competidores, sem nenhum tipo de deficiência, entre eles o prefeito de São Paulo, Celso Pitta.
Na maratona, há somente distinção entre cadeirantes -atletas que competem em cadeiras de rodas- e não-cadeirantes.
Neste último grupo, incluem-se tanto El Mouaziz quanto Almeida ou qualquer atleta amputado, que na prova eram mais de 200.
Correr e vencer a maratona de Nova York foi uma das experiências mais emocionantes que Almeida disse ter vivido.
Segundo ele, houve diversos momentos durante a disputa da prova em que sua condição de protetizado não o diferia da de outros atletas sem deficiência.
Nos primeiros 21 km -metade do percurso- e com 1h30 de corrida, Almeida se manteve entre os primeiros 600 corredores.
Na altura do km 38, no entanto, os efeitos de correr com uma prótese começaram a afetar seu rendimento, que caiu sensivelmente. "Nessa parte da maratona, eu estava entre os primeiros 1.800 atletas, mas sentia algumas dores e o equipamento começava a pesar", disse ao enumerar os problemas.
A prótese, segundo ele, torna-se desconfortável e machuca devido ao excesso de suor que encharca a meia de poliuretano que serve para proteger o coto. "Além disso, a prótese, que pesa de 800 gramas a um quilo, parecia pesar 2,5 kg com o esforço", explica Almeida.
Essa sensação, segundo Almeida, ocorre porque sua musculatura abaixo do joelho é pequena devido ao pequeno tamanho do coto. "Se eu tivesse mais uns 10 cm de perna, meu esforço físico seria menor, e meu resultado, melhor."
O brasileiro poderia ter concluído a maratona oito minutos antes do que fez, caso não tivesse experimentado outra sensação.
Quando faltavam cerca de 800 metros para a linha de chegada, o público que lotava as arquibancadas do Central Park -local onde o percurso termina-, ao perceber que se tratava do primeiro atleta amputado protetizado a se aproximar até então, começou a ovacioná-lo e aplaudi-lo.
"O público exigia que eu "desfilasse" de um lado para o outro das arquibancadas", afirma. "Com isso, minha velocidade caiu para cem metros por minuto."
Depois, foi só receber o troféu, a medalha, o certificado e o convite para participar da Achilles Marathon, na mesma cidade, em 1º de abril do próximo ano.
Correr uma maratona não era algo que Almeida esperava fazer, muito menos há três anos, quando sofreu o acidente que o fez perder parte da perna direita.
Em dezembro de 1997, Almeida era almoxarife em uma empresa, mas tornou-se vítima de acidente de trabalho por "desvio de função" depois que lhe fora pedido que trabalhasse com uma empilhadeira. "A empilhadeira despencou sobre o meu pé e o socorro demorou muito a chegar", diz Almeida sobre o acidente.
Inicialmente ele perdera apenas seu pé direito. Erros de procedimento cirúrgico, porém, fizeram necessárias outras quatro cirurgias, o que lhe reduziu o coto da altura do tornozelo até cerca de 15 centímetros abaixo do joelho.
Depois do acidente, Almeida iniciou o processo de fisioterapia para a colocação da prótese que lhe permite levar uma vida normal. "Apesar da queda no meu nível de qualidade de vida devido ao acidente de trabalho, com a prótese posso jogar futebol de salão ou dançar forró, ainda que haja limites, afinal, é uma perna mecânica", explica.

Outros desafios
A vitória na maratona de Nova York não encerra um período de competições de alto nível na vida de Almeida.
No próximo ano, Paulo de Almeida participará de uma ultramaratona na África do Sul e, de acordo com seus treinadores, é forte favorito para vencer os 90 quilômetros dessa prova.
Segundo Vanderlei Carlos Severiano, o Branca, personal trainer e responsável por parte do treinamento que levou Almeida ao primeiro lugar em Nova York, as chances do brasileiro são grandes. "Paulo vence a ultramaratona em sua categoria", prevê.


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