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PARADESPORTO
Atleta correu a maratona de Nova York com prótese especial e superou mais de 25 mil atletas regulares
Brasileiro amputado vence em Nova York
GUILHERME CUCHIERATO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um brasileiro venceu uma das
categorias da 31ª edição da Maratona de Nova York, disputada no
último dia 5. Paulo de Almeida, de
34 anos, foi o primeiro competidor a cruzar a linha de chegada na
condição de atleta amputado.
O pernambucano radicado em
São Paulo, que tem a perna direita
amputada 15 centímetros abaixo
do joelho, correu com uma prótese especial para atividades esportivas e chegou ao final dos 42,195
km da prova em 3h47min51.
A prova regular foi vencida pelo
marroquino Abdelkhader El
Mouaziz, 31, que chegou à frente
de Almeida cerca de uma hora e
37 minutos.
Almeida chegou ao final à frente
de todos os outros atletas amputados e de mais de 25 mil outros
competidores, sem nenhum tipo
de deficiência, entre eles o prefeito
de São Paulo, Celso Pitta.
Na maratona, há somente distinção entre cadeirantes -atletas
que competem em cadeiras de rodas- e não-cadeirantes.
Neste último grupo, incluem-se
tanto El Mouaziz quanto Almeida
ou qualquer atleta amputado, que
na prova eram mais de 200.
Correr e vencer a maratona de
Nova York foi uma das experiências mais emocionantes que Almeida disse ter vivido.
Segundo ele, houve diversos
momentos durante a disputa da
prova em que sua condição de
protetizado não o diferia da de
outros atletas sem deficiência.
Nos primeiros 21 km -metade
do percurso- e com 1h30 de corrida, Almeida se manteve entre os
primeiros 600 corredores.
Na altura do km 38, no entanto,
os efeitos de correr com uma prótese começaram a afetar seu rendimento, que caiu sensivelmente.
"Nessa parte da maratona, eu estava entre os primeiros 1.800 atletas, mas sentia algumas dores e o
equipamento começava a pesar",
disse ao enumerar os problemas.
A prótese, segundo ele, torna-se
desconfortável e machuca devido
ao excesso de suor que encharca a
meia de poliuretano que serve para proteger o coto. "Além disso, a
prótese, que pesa de 800 gramas a
um quilo, parecia pesar 2,5 kg
com o esforço", explica Almeida.
Essa sensação, segundo Almeida, ocorre porque sua musculatura abaixo do joelho é pequena devido ao pequeno tamanho do coto. "Se eu tivesse mais uns 10 cm
de perna, meu esforço físico seria
menor, e meu resultado, melhor."
O brasileiro poderia ter concluído a maratona oito minutos antes
do que fez, caso não tivesse experimentado outra sensação.
Quando faltavam cerca de 800
metros para a linha de chegada, o
público que lotava as arquibancadas do Central Park -local onde
o percurso termina-, ao perceber que se tratava do primeiro
atleta amputado protetizado a se
aproximar até então, começou a
ovacioná-lo e aplaudi-lo.
"O público exigia que eu "desfilasse" de um lado para o outro das
arquibancadas", afirma. "Com isso, minha velocidade caiu para
cem metros por minuto."
Depois, foi só receber o troféu, a
medalha, o certificado e o convite
para participar da Achilles Marathon, na mesma cidade, em 1º de
abril do próximo ano.
Correr uma maratona não era
algo que Almeida esperava fazer,
muito menos há três anos, quando sofreu o acidente que o fez perder parte da perna direita.
Em dezembro de 1997, Almeida
era almoxarife em uma empresa,
mas tornou-se vítima de acidente
de trabalho por "desvio de função" depois que lhe fora pedido
que trabalhasse com uma empilhadeira. "A empilhadeira despencou sobre o meu pé e o socorro demorou muito a chegar", diz
Almeida sobre o acidente.
Inicialmente ele perdera apenas
seu pé direito. Erros de procedimento cirúrgico, porém, fizeram
necessárias outras quatro cirurgias, o que lhe reduziu o coto da
altura do tornozelo até cerca de 15
centímetros abaixo do joelho.
Depois do acidente, Almeida
iniciou o processo de fisioterapia
para a colocação da prótese que
lhe permite levar uma vida normal. "Apesar da queda no meu nível de qualidade de vida devido ao
acidente de trabalho, com a prótese posso jogar futebol de salão ou
dançar forró, ainda que haja limites, afinal, é uma perna mecânica", explica.
Outros desafios
A vitória na maratona de Nova
York não encerra um período de
competições de alto nível na vida
de Almeida.
No próximo ano, Paulo de Almeida participará de uma ultramaratona na África do Sul e, de
acordo com seus treinadores, é
forte favorito para vencer os 90
quilômetros dessa prova.
Segundo Vanderlei Carlos Severiano, o Branca, personal trainer e
responsável por parte do treinamento que levou Almeida ao primeiro lugar em Nova York, as
chances do brasileiro são grandes.
"Paulo vence a ultramaratona em
sua categoria", prevê.
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